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Hora do desmame

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Tádzio França
Repórter

Após meses acalentando e ao mesmo tempo alimentando o bebê em seus braços, direto do peito, toda mãe se vê diante do primeiro desafio no processo de criação familiar: trocar a amamentação por uma alimentação externa – a que se convencionou chamar de “alimentação complementar”. Mas não é, e nem deve ser, uma separação abrupta. São etapas delicadas e ao mesmo tempo simples de serem seguidas. A nova fase oferece à criança um aprendizado alimentício que pode lhe ser útil durante toda a vida. Educação alimentar é algo que também pode ser adquirido desde o berço.
Trocar amamentação por uma alimentação complementar, requer alguns cuidados cutricionais, obedecendo etapas de forma celicada, nunca abrupta
A alimentação complementar é normalmente iniciada a partir dos seis meses de vida da criança, um período em que apenas o leite materno não atende mais às necessidades nutricionais do bebê. “A introdução aos novos alimentos deve ser realizada de forma gradual e sem rigidez de horários”, afirma a nutricionista Jocélia Guedes. Ela trabalha diretamente com alimentação infantil em creches e escolas, e sabe que a questão também envolve a formação de futuros hábitos alimentares, daí a necessidade de atenção especial. “Neste período, além de nutrir a criança, também se está formando hábitos. Que sejam então hábitos saudáveis”, ressalta.

No período que vai dos seis meses até o primeiro ano de vida, a “dieta” do bebê segue por fases.  Para começar, a amamentação não deve ser abandonada, mas complementada pela inserção de novos ingredientes. Segundo Jocélia, a mamada do meio da manhã (correspondente a um “lanche”), já pode ser substituída por algum suco de fruta, como laranja, acerola, caju e maçã – de preferência, um pouco diluídas em água. As frutas da época devem ser priorizadas, já que possuem maior teor de nutrientes. Mais frutas na mamada do meio da tarde: amassadinhas, como banana, pêra, maçã.

Quando a rotina estiver estabelecida, a mamada do meio-dia (equivalente ao almoço) já pode ser substituída por “degustações” de legumes cozidos com caldinho da carne, alternando com frango. “A carne deve fazer parte do cozimento, mas retirada na hora de servir. A consistência dessa preparação deve ser pastosa e oferecida de colher. Deve-se variar bem os legumes para que a criança não tenha uma alimentação monótona”, completa. Também é previso oferecer sempre água entre as refeições.

Aos sete meses, a dieta já pode chegar à note, com um jantar à base de sopa de legumes e/ou tubérculos e cereais, podendo acrescentar no almoço arroz ou macarrão. “A consistência também vai evoluindo conforme o aumento da idade da criança”, ressalta Jocélia Guedes. Já no primeiro ano de vida, a criança já deve se encontrar preparada para ingerir a alimentação da família – com os devidos cuidados, claro. “Tem que ser uma comida leve, saudável. O cuidado na consistência das carnes é fundamental, devem ser sempre desfiadas ou trituradas”, afirma. Deve-se evitar alimentos com muito açúcar, sal e frituras.

É importante observar a higiene e qualidade de tudo que acompanha essa alimentação infantil, observa a nutricionista. Pratos e colheres devem ser bem limpos, as frutas frescas, e os sucos feitos bem próximos da hora de serem servidos. A dieta, portanto, deve ser realizada com alimentos variados, frescos e sem exageros nos temperos, evitando comidas que são obviamente maléficas à saúde. Caso os pais tenham dificuldade em detalhar quantidades, adições calóricas, formas de produzir os alimentos e  também analisar evoluções, é sempre recomendável procurar a orientação de um nutricionista ou alguém mais experiente. 

Trocar amamentação por uma alimentação complementar, requer alguns cuidados cutricionais, obedecendo etapas de forma celicada, nunca abruptaA empresária Ana Carolina Batista está vivendo a difícil fase do “olha o aviãozinho” insistente com a filha Marta Maria, de oito meses. A menina ainda mama no peito, e não está se dispondo a trocar tão fácil de alimentação. “Ela está bastante resistente à nova alimentação. Pedimos a orientação de uma nutricionista e estamos sendo pacientes, registrando os hábitos e quais tipos de alimentos mais agradam ao paladar dela”, diz.

Ana Carolina já percebeu, por exemplo, que a filha aceita melhor as comidas mais temperadas. “Quando é totalmente sem sal, ela não gosta. Temos que pôr um pouquinho mais para ela se acostumar”, completa. Marta também aprecia os sucos de frutas, mas segue fazendo cara feia para as sopas e verduras. A empresária pôs em prática uma dieta cotidiana para a filha.

“Ao acordar ela toma uma mamadeira de suco e perto do almoço uma sopinha de legumes. Às vezes tento servir de caldo com feijão amassado”, diz Ana Carolina. A menina gosta de canja de galinha. “Nós já usávamos pouco sal e tempero nas comidas de casa, e para ela ainda menos”, afirma. À tarde, ela aproveita o apetite causado pelo longo tempo sem comer, e serve mamão ou maçã raspadinha; e caso ela não aceite, um suco dessas mesmas frutas.

A empresária conta que foi orientada a levar tudo com calma. “Notaram na escola que a Marta não reagia tão bem aos alimentos quanto às outras crianças. A nutricionista disse que não adianta forçar e ficar com raiva, seria pior”, diz. Deve haver a insistência, mas em doses homeopáticas. Até um pouco de psicologia também deve ser utilizada nessas horas. “Na hora do almoço deixamos a mesa bem tranquila, queremos que ela fique à vontade, se sinta bem em almoçar com a família”, afirma.

Segundo a nutricionista Jocélia, o problema às vezes está na consistência da refeição. “Da mesma forma que há adultos que gostam de uma comida mais pastosa, há crianças que preferem uma seca ou mais aguada”, explica. Se a criança persistir na recusa, ela recomenda que os pais ou a escola ofereçam uma nova opção, que poder ser uma fruta, um suco ou mesmo leite.

Curiosamente, Ana Carolina conta que teve uma experiência gastronômica diferente com o primeiro filho, Gabriel, de três anos de idade. “Ele comeu de tudo. Adorava sucos, frutas e as comidas de panela”, diz. No momento é que o garoto está numa fase de se “chatear” com a comida de casa. “Ele aceita a comida saudável que servem na escola, mas quando chega em casa não quer almoçar. Tenho que barganhar com ele”, brinca. A “barganha” consiste em um biscoito ou iogurte após determinada refeição. “Já disseram que eu liberasse essas comidas só nos fins de semana. Mas se eu fizer isso, tenho medo de que não possa mais voltar atrás. E ainda vão haver muitos fins de semana na vida dele”, diz a mãe precavida.

Diversos fatores podem conduzir a uma alimentação melhor, segundo Jocélia. A nutricionista acredita numa rotina alimentar, com momentos lúdicos e sem televisão. “Sem a TV ligada, a criança vai ingerir os alimentos com mais atenção no sabor e textura, acostumando-se melhor”, explica. E aconselha: “Em alguns momentos é importante que os pais deixem que os bebês tentem comer com as próprias mãos, ainda que façam aquela lambança”. Os bons modos à mesa podem esperar mais um tempinho.

Comer bem é um aprendizado

Comer bem é um longo “aprendizado”. E que pode começar bem mais cedo do que se pensa. Para as crianças que estão experimentando as primeiras frutas, legumes, sopinhas e carnes magras, é mais que uma alimentação convencional para a idade. É a construção de hábitos que vão garantir a qualidade de vida em anos que estão por vir. Quando a alimentação infantil não está sendo feita de forma adequada, as consequencias podem vir a curto ou longo prazo.

“A falta de determinados nutrientes é algo a já ser pensado pelos pais. Fontes diversas de proteínas são o pilar da boa alimentação”, segundo a pediatra Devani Lopes. Ela exemplifica com a carência de ferro. “Quando não há ferro, a criança pode desenvolver anemia, ter o sistema imunológico comprometido, e até mesmo apresentar problemas com aprendizado na escola, devido a memória fraca”, analisa. O ferro pode ter origem animal (em carne, fígado), e vegetal (como no feijão). Alguns bons alimentos industrializados também contam com ferro na sua composição.

A pediatra lembra que na região Nordeste há a vantagem de  ter a abundância de frutas ricas em vitamina A e C. “Manga, laranja, goiaba e caju são frutas preciosas. Recomenda-se uma ingestão de pelo menos três porções de frutas ao longo do dia”, diz. Ela ressalta que as frutas são fontes de vitaminas e fibras que regulam o funcionamento do intestino. Tudo que uma criança precisa.

É uma questão básica de educação e observação dos pais. “Os pais têm que ver quando estão começando a aparecer os dentes na

criança, e adequar a textura dos alimentos a isso. Evitar frituras e alimentos com corantes, que podem desenvolver alergia nos pequenos”, diz. E quando este já estiver em idade escolar, também não diminuir a atenção. “É fácil a criança se acostumar a trocar o refrigerante pelo suco”, ressalta. Na hora de fazer a lancheira, deve-se optar por sucos, frutas, sanduíches caseiros, bolos e biscoitos simples. A alimentação saudável deve continuar, só variando a forma de apresentação.

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