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Indústria e comércio têm prejuízos

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Andrielle Mendes – repórter   

O apagão que atingiu as regiões Norte e Nordeste na madrugada desta sexta-feira causou prejuízos ao comércio e indústria potiguares. Interrupção na produção, queda brusca no movimento e perda de equipamentos estão entre os problemas apontados por empresários e industriais. A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Rio Grande do Norte (Fecomércio/RN), não conseguiu mensurar o prejuízo, mas afirmou que os mais prejudicados foram os bares e restaurantes, que funcionam neste horário. Algumas casas noturnas nem abriram as portas. No Bud bar, que recebe entre 90 e 100 pessoas nas quintas-feiras, o movimento caiu 50%. “Quem abriu depois das 00h não faturou nada”, afirmou Max Fonseca, dono do bar, do restaurante Galo do Alto, e presidente da seccional potiguar da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel). Segundo ele, todos os 400 bares, casas noturnas e restaurantes de Natal foram afetados de alguma forma. “Foi um ‘desastre ferroviário’ para o setor”.
Apagão deixou o Nordeste e parte da região Norte no escuro: as causas estão sendo investigadas
Antônio Cardoso Sales é dono de dois postos de combustíveis. Um deles funciona 24 horas e deixou de vender cerca de 800 litros de combustível em função do blecaute. “O sistema caiu e só pôde ser religado pela manhã. O posto foi reaberto as 6h”. Ele também perdeu uma série de máquinas e equipamentos dos dois postos. “Perdi computadores e concentradores. O que estava na tomada, queimou. Vou ter que substituir vários equipamentos”, afirmou Antônio Sales, que também é presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do RN (Sindipostos). Ele não soube dizer quantos postos deixaram de vender combustível em decorrência do apagão.

A indústria também contabiliza prejuízos. A Coteminas, uma das maiores indústrias têxteis do Rio Grande do Norte, interrompeu um turno de trabalho. O apagão suspendeu por cinco horas a produção de peças e deixou 300 operários ociosos. “Mas este não é o maior problema. Apagões como este danificam muitos equipamentos. O custo de manutenção e reposição é sempre elevadíssimo”, afirma João Lima, um dos diretores da indústria e presidente do Sindtêxtil. A equipe de reportagem tentou entrar em contato com o presidente da Federação das Indústrias do RN (Fiern), Amaro Sales, para saber o prejuízo causado à indústria de uma maneira geral, mas ele não atendeu as ligações.

Esta é a segunda vez em pouco mais de um mês que ocorre apagão no Nordeste. No fim de setembro, um problema nas interligações entre as regiões Sudeste e Norte, e Sudeste e Nordeste, teria provocado a queda de energia elétrica no Nordeste.

“O Ministério de Minas e Energia e o Operador Nacional do Sistema Elétrico estão tergiversando quanto à segurança e os investimentos no sistema de transmissão do Brasil. Com linhas e subestações de transmissão obsoletas e concessionárias ineficientes e sem capacidade de investir, não era difícil prever isso”, criticou o ex-secretário estadual de Energia e atual presidente de Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (Cerne), Jean Paul Prates, no Twitter. Jean Paul relembrou que no RN, além de interrupções na transmissão, já se tem mais de 300 Megawatts (MW) em parques eólicos instalados prontos, sem funcionar, por falta de linhas de transmissão.

Para Milton Pinto, diretor de eólica do Cerne, o problema não é apenas a instalação de complexos de transmissão e subestações no RN, mas a manutenção das linhas de transmissão já instaladas.

A TRIBUNA DO NORTE procurou a Chesf, responsável por boa parte das linhas de transmissão do Norte e Nordeste, mas não obteve retorno até o fechamento da edição. A companhia venceu, em 2009, licitação para instalar dois complexos de linhas de transmissão e subestações no RN, mas ainda não entregou as obras.

Analistas apontam falhas na transmissão de energia

Rio (AE) – A recorrência de apagões demonstra falhas de manutenção no sistema de transmissão de energia, avalia o diretor da Coppe/UFRJ, Luiz Pinguelli Rosa. E a situação poderá piorar, com o plano de redução da tarifa de energia do governo. “A redução da tarifa poderá agravar, no sentido de comprometer capacidade das empresas de investir em engenharia. A manutenção do sistema é muito cara”, afirmou. A avaliação de Pinguelli, que presidiu a Eletrobras no governo Lula, é que a repetição dos episódios de apagão demonstra que há falhas não só na manutenção das linhas, como na previsão das ocorrências. “É uma questão técnica, que não tem qualquer semelhança com os apagões por falta de geração que ocorreram no passado”, ressaltou.

O diretor da Coppe/UFRJ destaca, contudo, que há a determinação do governo de reforçar o sistema de segurança da rede, com a instalação de novas linhas reservas que devem funcionar toda vez que outra falhar. Já o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires, é mais enfático em suas críticas à gestão do setor elétrico, direcionadas à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

“O governo se dedicou muito a aumentar a oferta de energia e esqueceu que para a energia elétrica chegar ao consumidor precisa ser transportada e distribuída. Não está havendo melhoria dos equipamentos. Não estão sendo construídas linhas novas”, argumentou Pires. Ele atenta para o risco de o problema piorar no futuro com a instalação de novas usinas nas regiões Norte e Nordeste do País, longe dos principais centros de consumo, o que, em sua opinião, irá sobrecarregar ainda mais o sistema de transmissão.

“Será que a Aneel vai conseguir fiscalizar as linhas novas? É hora de adotar leilões regionais e por fonte (de energia). O Brasil é um país continental, com um sistema muito complexo”, afirmou o diretor da CBIE.O sócio-diretor e especialista em energia da consultoria LCA, Fernando Camargo, não enxerga uma solução de curto prazo para onda de apagões no Brasil. Segundo ele, o problema está na falta de foco em qualidade no planejamento da Aneel.

Camargo também acredita que a redução da tarifa poderá agravar a capacidade das companhias em investir nesse momento de maior vulnerabilidade do sistema. O especialista explica que, com a maior oferta de energia no norte do país, o setor precisou se integrar mais e, com isso, hoje tem um sistema mais complexo. “O que tem acontecido é que problemas locais tem se tornado nacionais por conta dessa integração”, disse. Uma das saídas para esse problema, segundo Camargo, está na busca de aditivos aos contratos de concessão para que se inclua investimentos em equipamentos que isolem o local com problema do sistema nacional

Mas, admite que isso iria exigir mais recursos nesse momento em que o governo briga para reduzir o preço das tarifas, o que bate diretamente na capacidade de investimento das concessionárias. Outra opção é focar na redundância do sistema, com a duplicação das principais linhas de transmissão do país. O problema, lembra, é que o custo dessa metodologia é ainda maior.

Ministério quer passar “pente fino” no sistema

Brasília (AE) – O governo admitiu ontem que o sistema elétrico brasileiro não tem a confiabilidade que se esperava. O apagão na madrugada da sexta foi o terceiro de grandes proporções provocado por problemas técnicos em cinco semanas. O ministro interino de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, descartou sabotagem, deixou claro que não sabe as causas, enviou uma equipe ao local para investigar e prometeu um “pente fino” no sistema para identificar eventuais gargalos.

“O sistema elétrico brasileiro foi projetado e planejado para operar num determinado nível de confiabilidade. A partir do momento que tem redução de confiabilidade, agora recente, determinada pela sequência de eventos, tem que tomar as ações necessárias para que se restabeleça a confiabilidade”, disse.

O ministro também afirmou que “probabilisticamente, essa sequência de eventos é impossível de ocorrer, é difícil entender como isso pode ocorrer”.

Segundo o Operador Nacional do Sistema elétrico (ONS), um curto-circuito na linha de transmissão entre Colinas (TO) e Imperatriz (MA) foi responsável pelo apagão. A linha é operada pela Taesa, controlada pela Cemig, que trava com o governo uma disputa jurídica. A companhia quer renovar algumas concessões sob regras antigas, justamente quando o governo tenta reformular o sistema para reduzir a conta de luz em 16,2% para consumidores e até 28% para a indústria.

O diretor geral do ONS, Hermes Chipp, foi taxativo: “não há a menor hipótese de uma sabotagem.” Para José Rangone, presidente da Taesa, um raio provocou sobrecarga na área, mas o problema maior foi a falha de uma rede de proteção, que não conseguiu isolar o apagão e permitiu que o problema se espalhasse por 11 Estados.

PROTESTOS

Brasília (AE) – O apagão que deixou sem luz milhares de moradores das Regiões Norte e Nordeste, na madrugada de ontem, causou uma onda de protestos por parte de representantes dos principais partidos de oposição ao governo da presidente Dilma Rousseff. O presidente nacional do DEM, senador José Agripino Maia (RN), afirmou que o aparelhamento de cargos públicos pelo PT é uma das causas das dificuldades registradas no sistema elétrico brasileiro.

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