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Infecção: o perigo mora nos hospitais

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Roberto Lucena – Repórter

Lavar as mãos, além de ser um hábito saudável, pode ser uma atitude decisiva para definir o tempo de internação de um paciente no hospital. De acordo com a Coordenadoria de Vigilância à Saúde de Natal (Covisa), a maioria dos casos de Infecção Relacionada à Assistência à Saúde (Iras) ou simplesmente, infecção hospitalar, está relacionada aos cuidados higiênicos dos profissionais da área.
Atualmente, a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Deoclécio Marques é formada por 11 profissionais. Nos últimos meses, os problemas se acumularam
De imediato, é bom deixar claro: não existe hospital com índice de infecção zero. Fazer com que esse índice não evolua para patamares preocupantes é obrigação das Comissões de Controle de Infecção Hospitalar (CCIHs). Em Natal, somente este ano, pelo menos quatro hospitais foram penalizados pela Covisa por não se adequarem a normas exigidas em Lei. A penalidade foi a interdição de alguns setores como lavanderia, setor de nutrição ou salas de raio-x.

Há casos mais graves onde a interdição de todo prédio é necessária. Foi assim com a unidade de Saúde da Guarita, no bairro do Alecrim, que foi interditada no início deste mês. O motivo foi a falta de conservação do prédio que apresenta infiltrações, mofo, ratos e baratas. A interdição fica mantida até que sejam feitas melhorias na estrutura do posto. Neste caso, os próprios funcionários da unidade de saúde solicitaram a presença da Covisa, pois, segundo eles, estava impossível trabalhar no local. De acordo com os moradores da região, muitos deles apresentaram processo alérgico no período que permaneciam na unidade.

Mas não é apenas quando há denúncia por parte de funcionários ou pacientes que os fiscais da Covisa visitam as unidades de saúde. Ao contrário, de acordo com a enfermeira e fiscal de vigilância sanitária, Ana Lúcia Barreto, na instituição que é ligada à secretaria Municipal de Saúde (SMS), há um calendário definido anualmente que serve de orientação para as ações dos fiscais. Em Natal, são 30 hospitais de pequena, média e alta complexidade. Além deles, são visitadas clínicas, consultórios e salões de beleza. “Está pactuado com o Ministério da Saúde [MS] pelo menos uma visita anual em cada unidade, porém, fazemos mais que isso”, explica.

A enfermeira informa que é necessário pelo menos duas visitas em cada estabelecimento. “Na primeira [visita], fazemos um levantamento de tudo. Para isso, existem protocolos, leis e normas que são definidas pelo MS e SMS. Tudo é observado”, comenta. Depois da visita, os fiscais elaboram o documento conhecido como Termo de Inspeção Sanitária (TIS). “O TIS traz todas as informações coletadas na visita. Se algo não está em conformidade com o que rege as normas, damos um prazo para que o hospital ou clínica corrija o erro”, diz.

A infecção hospitalar é aquela adquirida no hospital e que não estava presente ou em incubação quando da admissão do paciente. Ela pode manifestar-se durante a internação ou mesmo após a alta. Para evitar o problema, é necessário higiene. Mas não é o suficiente. “Cada hospital apresenta uma particularidade. Não existe, no mundo, nenhum unidade com zero de infecção. Sempre há. É possível fazer o controle”, avisa Ana Paula Ribeiro, chefe de divisão de saúde da Covisa. “Os procedimentos dos profissionais da área são essenciais para o controle disso. É imprescindível a lavagem das mãos depois de realizar um procedimento num paciente”.

Alertar e até mesmo educar os funcionários das unidades de saúde, realizar vistorias e diagnosticar o índice de infecção é atividade da CCIH. Formada geralmente por um médico infectologista, enfermeira e técnico de enfermagem, a comissão trabalha diretamente com os profissionais que mantém contato com os pacientes. A CCIH realiza o trabalho preliminar à fiscalização da Covisa. “Se a CCIH não funciona adequadamente, é nossa obrigação intervir”, diz Ana Barreto.

Quem visita um paciente no hospital ou acompanha o doente também pode ajudar. Antes de entrar  e após a visita, é preciso lavar bem as mãos. As roupas de cama devem ser bem esterilizadas. A alimentação deve ser restrita àquela fornecida pelo hospital. “Nem sempre essas normas são seguidas e a proliferação de bactérias aumenta”, avisa Ana Barreto.

Comissão de controle é estruturada

No início da semana passada, a 4ª Promotoria de Justiça da Comarca de Parnamirim recomendou uma série de medidas à administração do Hospital Regional Deoclécio Marques de Lucena (HRDML). As orientações recaiam sobre o CCIH daquela unidade. Entre as exigências do Ministério Público, está a elaboração de um cronograma das reuniões da comissão e o estabelecimento de uma rotina de registros e relatórios mensais de atividades da CCIH. De acordo com a direção do hospital, algumas orientações já foram acatadas, no entanto, para continuar funcionando, a comissão precisa de estrutura que até então não foi oferecida.

A CCIH do Deoclécio não sabe, por exemplo, qual o índice de infecção na unidade atualmente. Para conhecer esse número, a comissão precisa enviar uma série de dados ao site do Ministério da Saúde. O envio das informações não é possível por causa de um detalhe: o fio de conexão com a internet foi rompido durante uma pequena reforma e não foi religado. “Já solicitamos a religação há muito tempo, mas o hospital tinha outros problemas mais urgentes e esse detalhe sempre foi ficando para depois. A última promessa da direção é a de que a conexão será refeita ainda nesta semana”, diz Mara Mainere, enfermeira e coordenadora da Comissão.

Atualmente, a CCIH é formada por 11 profissionais. Nos últimos meses, os problemas se acumularam, no entanto, de acordo com Mara, “as coisas estão melhorando”. À frente da comissão desde abril do ano passado, a enfermeira conta que, na semana passada, a direção do hospital destinou um médico infectologista para compor o quadro de colaboradores. “Estamos nos estruturando e a tendência é que haja uma melhora nos próximos dias”.

As medidas para a prevenção das infecções hospitalares são de responsabilidade do hospital e de seus funcionários. A padronização das técnicas de assepsia é o meio mais eficaz de evitar as infecções hospitalares. Para tanto, os hospitais devem contar com uma CCIH. “Nossa obrigação é elaborar um conjunto de ações deliberadas e sistemáticas com vista à redução máxima possível da incidência e gravidade das infecções”, explica a técnica de enfermagem e integrante da CCIH, Macyra Celly. “Mas para fazer isso, precisamos de apoio”, completa.

O apoio, segundo a profissional, não está apenas na aquisição de materiais de limpeza ou equipamentos de esterilização. “A gente perde muito tempo tentando amenizar as dificuldades que acontecem num hospital como esse e acabando ficando sem disposição para trabalhar junto à Comissão”, explica. Entre as dificuldades recentes, estava a greve dos médicos e a falta de roupas esterilizadas no centro cirúrgico do hospital. “Felizmente essas pendências foram resolvidas”.

Para se ter uma ideia de como a CCIH do HRDML é colocada em segundo plano, os móveis que equipam a pequena sala da comissão foram doados por Mara Mainere. “Isso tudo aqui fui eu quem trouxe. Somente o computador é do hospital”, explica.

A comissão tem ao seu lado o documento assinado pelo promotor Carlos Henrique Rodrigues da Silva. O Ministério Público, em sua recomendação expedida semana passada, deixa claro que a não observância dos termos do documento implicará na tomada das medidas judiciais, cíveis e criminais, cabíveis.

Bate-papo: Ana Lúcia Barreto – fiscal da vigilância sanitária

Qual o trabalho da Covisa?
A Covisa fiscaliza os hospitais, clínicas, consultórios e salões de beleza existentes em Natal.

Qual o quadro de pessoal para essa atividade?
No núcleo de serviço de saúde, temos: um farmacêutico, um dentista, uma nutricionista,  três enfermeiras, um arquiteto, um educador físico e um fisioterapeuta.

E como é feito esse trabalho?
Existe uma rotina. Cada fiscal tem uma pasta específica com a demanda. Como enfermeira, visito hospitais, clínicas e consultórios. Todos os dias realizamos fiscalizações. Em hospitais maiores, demoramos mais. Olhamos a questão de esterilização, vencimento de remédios, entre outros. Há também a demanda de denúncia. Depois da visita, elaboramos o TIS.

O que está escrito no TIS?
Colocamos as conformidades, a base legal, e pedimos modificações. Tudo é embasado em Leis, Portarias e Resoluções. Leis municipais, Código Sanitário. Diante do TIS, damos um prazo para o estabelecimento se adequar às normas.

Qual quantidade de hospitais em Natal?
Em Natal, são 30 hospitais vistoriados. Há uma pactuação com o Ministério da Saúde que orienta para realizamos pelo menos uma visita por ano. Mas ocorrem mais visitas porque têm os retornos, especialmente nos locais de alta complexidade.

É comum a interdição?
Se o estabelecimento não cumpre todos os itens, mas cumpre os mais importantes, damos mais um prazo. Agora, se é algo muito crítico, com risco iminente da vida do paciente, em alguns casos é necessário interditar. Mas não é nossa prática. Trabalhamos mais com a orientação e educação. Somos parceiros das instituições. Esse ano interditamos alguns setores de alguns hospitais: lavanderia, central de esterilização, setor de nutrição, raio-x.

Como o paciente pode saber se um determinado hospital está com a infecção controlada?
Existe o Alvará Sanitário que é expedido quando todas as conformidades estão adequadas. O documento tem validade de um ano e eles pedem a renovação. O paciente pode procurar saber junto à administração do hospital se ele possui o alvará sanitário. Além disso, todos os hospitais têm o CCIH.

Podemos dizer que um hospital é mais infectado que o outro?
O índice de infecção no Walfredo Gurgel é diferente do Varela Santiago que é diferente do Giselda Trigueiro. Cada um tem sua população. Não podemos comparar. São condições diferentes.

Por falar em Walfredo, como é a fiscalização lá?
Fomos ao Walfredo no mês de setembro. O que podemos dizer é o que está na mídia mesmo. É uma situação que foge da gente. Damos um prazo, mas não é um caso que a direção possa intervir. É um acumulado de problemas. Não temos como interditar um hospital como o Walfredo. Pedimos prioridade em alguns setores, apenas. Trabalhamos como o que está mais crítico.

Como evitar a infecção hospitalar – cuidados ao visitar um paciente:

O que é?
É aquela adquirida no hospital e que não estava presente ou em incubação quando da admissão do paciente. Ela pode manifestar-se durante a internação ou mesmo após a alta.

Como é causada?
Pode ser causada por falta de assepsia no meio ambiente, do material, no paciente ou da equipe que o atende.

Quem está mais exposto ao risco de adquirir a infecção hospitalar?
Recém-nascidos, idosos, diabéticos, pessoas com câncer e transplantados.

Como é tratada?
O tratamento geralmente é feito com antibióticos.

Como prevenir?
Através da assepsia, que é o processo pelo qual são afastados os microorganismos patogênicos de um local ou objeto.

O que fazer?
Estar totalmente sadio;
Lavar bem as mãos com água e sabão ou álcool gel antes e depois da visita;
Dependendo da doença, o uso de máscaras é recomendado

O que não devemos fazer?
Visitar o paciente, caso esteja gripado ou com alguma infecção;
Tocar o paciente;
Tossir ou espirar no ambiente onde o enfermo está;
Falar sobre material esterilizado;
Sentar ou deitar na cama do paciente;
Comer, beber, fumar, aplicar cosméticos ou manusear lentes de contato durante a visita.
A recomendação primordial para médicos e demais profissionais da área da saúde é lavar as mãos, sempre que for entrar em contato com o paciente, ou usar luvas.

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