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Institutos desenvolvem competitividade na pesquisa

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Quando se fala em internacionalização das universidades, a primeira ideia que vêm a mente é o intercâmbio de alunos e professores. Entretanto,  José Celso Freire, presidente da Brazilian Association of International Education (Faubai), salienta que essa é apenas uma das vertentes do processo. “É necessário deixar claro que a mobilidade é somente uma das componentes de um processo de internacionalização, que se refere a um processo de mudanças organizacionais, inovação curricular e desenvolvimento profissional de corpo acadêmico”, aponta.

Na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, o processo de internacionalização também foi impulsionado pela criação dos Institutos Internacionais, como o do Cérebro (Ice), em 2011, o de Física, em 2010, e o de Medicina Tropical, em 2014. A criação dos institutos consolidou a realização de pesquisas internacionais e a atração de pesquisadores estrangeiros para o corpo de professores dos institutos.

“Os dados históricos indicam que a questão do “brain drain” é bastante reduzida no Brasil, embora tenha sido maior no passado. Atualmente, os que partem ao exterior voltam em sua maioria esmagadora ao país. Além disso atualmente um novo conceito está se desenvolvendo, o do “brain circulation”. Ter brasileiros trabalhando em grandes universidades e empresas do exterior em certa medida é bom, pois geralmente abre oportunidades para brasileiros”, aponta o pesquisador da Unesp (Universidade Estadual Paulista).
Instituto Internacional do Cérebro (Ice) foi criado em 2011. A UFRN possui, também, o de Física (2010) e Medicina Tropical (2014)
O Instituto do Cérebro, liderado pelo neurocientista Sidarta Ribeiro, começou a ser idealizado em 1998 por um corpo de cientistas brasileiros que atuava na Universidade de Duke, nos Estados Unidos. De acordo com Ribeiro, hoje o instituto conta com 17 professores, muitos repatriados, além de ter o conselho científico presidido por Torsten Wiesel, prêmio Nobel de neurociência. 

“O ICe é um ambiente bastante internacional e frequentemente a língua falada é o inglês. Temos recebido e enviado pesquisadores e alunos para universidades nos EUA, Suécia, Alemanha, Inglaterra, Argentina e outros países, num fluxo intenso de intercâmbios. Quatro de nossos docentes são estrangeiros e pretendemos no futuro atrair mais estrangeiros”, comenta o neurocientista. Desde 2011, o ICe produziu 104 artigos científicos. “Existe hoje uma massa crítica de neurocientistas no ICe capaz de produzir pesquisa científica competitiva internacionalmente”, acrescentou.

O professor Álvaro Ferraz, diretor do Instituto Internacional de Física, salienta que já existia um processo de internacionalização forte na UFRN quando foi convidado para criar o instituto. “Já se dava uma importância à internacionalização do conhecimento”. O conselho consultivo do instituto hoje é formado por 21 pesquisadores internacionais. “Trazer esses pesquisadores de fora revitaliza a universidade, faz  com que os estudantes e pesquisadores tenham acesso aos cientistas dos quais só ouviram falar nos livros”, aponta Ferraz. O foco do instituto é nas pesquisas sobre física teórica.

Já o Instituto de Medicina Tropical, apesar de recente, já conta com a participação de quatro pesquisadores, americanos e ingleses. Segundo a professora Selma Jerônimo, diretora do instituto, esses pesquisadores têm o compromisso de visitar o IMT durante três meses por ano, para o desenvolvimento de pesquisas. O instituto tem duas funções: reunir os pesquisadores que já trabalhavam com doenças tropicais na universidade e auxiliar o Estado a tratar dessas doenças que ainda são comuns no Brasil, como hanseníase, leishmaniose, dengue e esquistossomose.

Com a colaboração de institutos nacionais e internacionais que também trabalham doenças tropicais, o IMT já começou a desenvolver pesquisas para uma vacina contra leishmaniose canina (calazar), que já está sendo testada. Segundo a professora, esse é um nicho competitivo do instituto, que pretende ter uma interação forte com a indústria farmacêutica. “O nosso nicho junto com a indústria é o diagnóstico e o desenvolvimento de vacinas preventivas e terapêuticas. Estamos desenvolvendo a vacina contra a leishmaniose canina,  que está sendo testada”, afirma. A expectativa é que, a partir desta pesquisa, também seja possível desenvolver a vacina contra leishmaniose humana, mas ainda está em análise.

UFRN já formou 536 alunos estrangeiros

O movimento de alunos estrangeiros na UFRN também é freqüente. Muitos são atraídos não só pela pesquisa científica, mas pela falta de oportunidade no ensino superior do seu país de origem. Segundo a Secretaria de Relações Internacionais, a universidade já formou 536 alunos estrangeiros.

Jacira Antunes dos Santos Gomes, de 26 anos, é natural de São Tomé e Príncipe, na África. Chegou em Natal aos 19 anos, aprovada para cursar Farmácia. Hoje finalizando o mestrado, ela é uma das 106 estudantes estrangeiros que estudam na universidade. Entretanto, para permanecer dentro dessa cota é preciso muita negociação com o governo do seu país.

A mestranda veio para a UFRN por meio do Programa de Convêncio (PEC) do Governo Federal, firmado com países em desenvolvimento. Os estudantes ganham uma bolsa para estudar fora desde que se comprometam a retornar ao país de origem para receber o diploma. Só que quando Jacira terminou a graduação, logo foi selecionada para o mestrado. “Tive que voltar para São Tomé com documentos, uma carta do meu professor informando que fui selecionada para o mestrado e que queria permanecer no Brasil”, contou. Sem a comprovação, ela não teria como receber o diploma. Para Jacira, estudar fora do seu país de origem era uma certeza desde a infância. “Lá é cultural. Quando você termina o ensino médio vai sair do país”, conta.

Já a dinamarquesa Gabriella Carvalho Fuglsig, 21 anos, veio estudar música na UFRN por indicações de professores. “Tive uma professora de violoncelo que me falou que um dos melhores professores da área estava na UFRN. Eu já estava com muita vontade de fazer intercâmbio”, conta Gabriella. Ela e a irmã gêmea Rebecca chegaram em Natal no final de julho e ficam até o final de dezembro. Para Gabriella, há diferenças no modelo de ensino da Escola de Música da UFRN (Emufrn), se comparado com a The Royal Academy of Music, em Aarhus, na Dinamarca. “Aqui as aulas são abertas, qualquer um pode entrar. Gosto muito dos meus professores e fiz muitos amigos. Só não temos sala para ensaiar, então todo mundo toca nos bancos, fica bem difícil estudar”, comenta.

Internacionalização da música

A internacionalização também está presente em algumas escolas. No início de setembro, a Escola de Música da UFRN recebeu pela segunda vez a visita do grupo Mariachi Real da América, que ministrou um Curso de Iniciação à Música Mariachi. Segundo o professor Zilmar Rodrigues, diretor da Emurfn, a proposta é criar um grupo potiguar voltado para a música mexicana.

“A vinda dos Mariachi foi uma iniciativa da embaixadora Beatriz Paredes para tentar aproximar as culturas e criar uma escola Mariachi em Natal”, afirmou. Cerca de 30 alunos participaram do workshop. “Os mariachi são um tipo de música tão específica do México quanto nosso choro ou samba, e é preciso ser estudado”, acrescentou. Um grupo mariachi  é formado por trompete, violão, viuella, canto, contrabaixo e violino. Para o maestro do grupo Real,  Fernando de Santiago, é difícil formar um grupo em pouco tempo – isso levaria de seis meses a um ano – mas já foi  dado o pontapé para que os alunos se interessem pelo assunto. “Não esperávamos nada. É muito interessante ver o interesse dos alunos pela nossa música. A embaixadora tinha interesse em fazer essa aproximação e por isso viemos”, apontou. Além das atividades na Emufrn, o grupo também ministrou curso por meio da Fundação José Augusto (FJA).

Bate-papo: Beatriz Paredes – embaixadora do México no Brasil

O Brasil incluiu a educação nos acordos que são firmados entre os países. Um exemplo é o surgimento de programas como o Ciências sem Fronteiras. Como a senhora avalia essa política?

Acredito que o ensino superior é uma das questões mais importantes para os países em desenvolvimento e acho que nesta era da globalização, facilitar o intercâmbio entre os países nesta área e em ciência e tecnologia é fundamental para as instituições de ensino e alunos.

Em junho, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) fechou parceria com a Universidade Autônoma do México (Unam). Qual a importância de um acordo como esse?

É muito importante. A Unam é a maior universidade em nosso país e tem uma educação de alta qualidade em diversas especialidades. Estou certo de que ambos, tanto UFRN como Unam, irão se beneficiar mutuamente com essa troca e que haverá um impacto positivo em ambos os países.

O Rio Grande do Norte tem descoberto novas potencialidades nos últimos anos, do petróleo à energia eólica. Qual deve ser o papel da universidade frente às novas perspectivas do setor produtivo de um Estado?

Eu sempre pensei que a universidade deve desempenhar um papel de liderança no desenvolvimento regional, investigando, encorajando assim o que tem aplicação prática, recomendando aos seus alunos a fazer as suas teses de cursos de graduação e de pós-graduação sobre questões específicas que as regiões enfrentam, inclusive estabelecendo algumas especialidades em seus programas de ensino que se relacionem com as perspectivas de seu desenvolvimento. Para mim, a existência de universidades nos estados devem ser um grande baluarte para o desenvolvimento da região.

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