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Investimentos em baixa no Turismo

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Yuno Silva – repórter

A natureza exuberante do litoral potiguar continua sendo o carro chefe do Turismo no RN, mas a proximidade da alta estação traz à tona uma série de problemáticas que extrapolam o roteiro sol, mar e dunas. Sem um planejamento consistente para o setor, o Estado acumula saldo negativo nos últimos quatro anos: o movimento de turistas caiu de 300 mil para 200 mil visitantes por ano; a regularidade de voos charter caiu de treze para dois; e os orçamentos das secretarias Municipal e Estadual de Turismo só encolhem.
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Em meio a críticas severas, e rompantes de otimismo, o Turismo segue ocupando um lugar de destaque dentro do contexto econômico estadual e, apesar disso, “não é visto como prioridade no Estado” – afirmação quase unânime entre empresários, executivos e prestadores de serviço que atuam na área e foram consultados pela TRIBUNA DO NORTE.

Principal fonte de renda e geração de empregos em Natal, e entre as três principais indústrias do Estado – ao lado da extração mineral (petróleo e sal) e fruticultura irrigada –, a situação complicada em que o Turismo se encontra reflete a falta de investimentos em infraestrutura e o despreparo para oferecer algo mais aos visitantes que desembarcam todos os dias na esquina do continente.

Turistas mal recebidos

Para ilustrar o quadro preocupante da falta de infraestrutura para receber o turista, basta acompanhar as desventuras do trabalhador autônomo Fulano de Tal dos Anzóis, que juntou algumas economias e decidiu viajar para Natal nas férias. O personagem é fictício, mas todas as situações descritas a seguir são verídicas e foram devidamente registradas pela equipe de reportagem entre os dias 10 e 11 de outubro. A TN circulou pelos principais pontos turísticos da capital potiguar, e constatou uma série de dificuldades enfrentadas por visitantes desavisados que desembarcam diariamente na cidade: desde a ausência de material informativo, precariedade no sistema de transporte público, desconhecimento da programação cultural e descuido com a orla, até a falta de sinalização turística.  Fulano de Tal dos Anzóis programou as férias para outubro e escolheu como destino Natal: já tinha ouvido falar na cidade e lembrou que havia visto fotos do RN em alguma revista antiga de circulação nacional. Preferiu vir por conta, pois assim iria desbravar a cidade com mais liberdade. Como o voo chegou no Aeroporto Internacional Augusto Severo, em Parnamirim, durante o dia,  poderia pegar um ônibus para percorrer os 15 km até o hotel em vez de pagar o valor tabelado do táxi (R$ 43) até Ponta Negra. Passou cerca de 50 minutos aguardando o transporte e foi informado que ainda seria preciso descer no meio do caminho (em Mirassol) para pegar outra condução até a hospedagem. Vamos acompanhar os principais problemas que enfrentou:

ESTADO

Já o secretário adjunto da Setur, George Lima de Oliveira, apresentou propostas e planos de trabalho, mas admite que não bastam boas intenções para tirar os projetos do papel. “Assumimos (ele e o titular Renato Fernandes) a Secretaria em junho, e desde então trabalhamos no planejamento das ações. Tivemos que mudar de sede durante esse período, e corremos com a elaboração de projetos para buscar recursos federais”, disse Oliveira.

Entre os resultados já obtidos, destaca-se o programa de capacitação viabilizado através de parceria com a Ministério do Turismo. A primeira fase prevê capacitação de 900 pessoas, entre bombeiros e policiais civis e militares. “Na segunda fase iremos capacitar 400 taxistas. Tudo com vistas no melhor atendimento da população e do turista”.

Sobre os box de informações turísticas, a Setur planeja reativar e ampliar atendimento em pontos na rodoviária, aeroporto, centro de turismo e Ponta Negra. “A partir de dezembro queremos começar a operar de forma definitiva”, planeja. A meta é viabilizar o funcionamento desses equipamentos em parceria com cursos de Turismo das universidades.

George também adiantou que a emissão das carteirinhas de licenças dos bugueiros permissionários será regularizada ainda este ano, e que a Setur está “executa projeto para levantar informações sobre o centro histórico” no intuito de produzir material informativo e sinalização. Quanto a divulgação, ele diz ser difícil “vender a cidade do jeito que está, toda quebrada, esburacada, mas retomamos a participação em feiras e eventos. É hora de todo o setor se unir para buscar soluções conjuntas”. O órgão funciona com 68 funcionário, sendo 58 servidores públicos e comissionados e 10 estagiários.

PONTA NEGRA

Sem  opção, seguiu para Ponta Negra, onde descobriria que boa parte do calçadão foi destruído pelo avanço do mar. Nosso intrépido turista começou a ficar preocupado quando topou com outro posto móvel de informações turísticas da Prefeitura fechado. “Era para funcionar até às 18h, mas hoje, não sei por quê, ficou o dia todo fechado”, disse um garçon que trabalha em um restaurante próximo. “Mas tem um box de informações fixo lá na praia dos Artistas”, informou.

Fulano de Tal ainda tentou caminhar pelo que restava de calçadão, mas logo recolheu-se atordoado com a poluição sonora causada pelos carrinhos de venda de CDs e a dificuldade de driblar os vendedores que tomavam conta do passeio público em vários trechos do percurso; ficou horrorizado com o esgoto que jorrava a céu aberto direto para dentro do mar.

PRAIA DOS ARTISTAS

No dia seguinte, disposto a visitar a Fortaleza dos Reis Magos, pegou todas as coordenadas: iria de ônibus, pela Via Costeira, até a Praia dos Artistas, onde passaria no box fixo de informações turísticas. Mas, no caminho, emoldurado pelo Parque das Dunas e pelo oceano Atlântico, estranhou o cheiro forte que exalava em determinados trechos da avenida litorânea – conseguiu identificar de onde vinha aquele fedor: de estações elevatórias de esgoto da Caern.

Já na Praia dos Artistas deu de cara com o box fechado, e foi informado que não havia ônibus até a Fortaleza dos Reis Magos – teria que caminhar cerca de dois quilômetros. Detalhe: o poste que recebe eletricidade da rede estava caído por sobre o telhado do box de informações.

REIS MAGOS

Resolveu ir andando pelo também esburacado calçadão das praias dos Artistas e do Meio. Na praia do Forte, já próximo à Fortaleza dos Reis Magos, viu um motociclista que caiu devido a areia que tomava conta da pista de rolamento.

Uma vez dentro do mais importante monumento do patrimônio histórico do RN – fundado em 1599, tombado pelo Iphan em 1949 e sob a tutela do Estado desde 1964 –, percebeu que o lugar apresenta sinais avançados de degradação: fios elétricos e canos expostos, problemas hidráulicos nos banheiros e paredes com infiltrações. Um quadro de abandono injustificável diante da arrecadação na bilheteria, estimada entre R$ 150 mil a R$ 375 mil por ano, segundo informações da Fundação José Augusto (instituição responsável pela administração do Forte).

CENTRO HISTÓRICO
Desolado, seguiu para o centro histórico onde pretendia conhecer um pouco sobre a origem da cidade. Na Ribeira, diante de galpões antigos e abandonados, muitos a ponto de desabar, ouviu de um transeunte que “o projeto para revitalizar o bairro nunca saiu do papel”. Percorreu algumas ruas, se encantou com casarões, porém ficou sem saber a história deles por falta de sinalização. Na Cidade Alta constatou a mesma falta de identificação dos monumentos. Nem o Museu Café Filho pôde conhecer: está fechado para reforma há quase dois anos.   Resolveu procurar a Secretaria Estadual de Turismo, que hoje funciona de forma improvisada nos fundos de uma antiga lanchonete. Sem rampas de acessibilidade, encarou a escada até a recepção da Setur: porta sem fechadura, ar-condicionado velho e barulhento, e nada de material informativo sobre o turismo no RN.

PÔR DO SOL

Deu meia volta, arrumou as malas e tomou o rumo da rodoviária. Foi de ônibus e quando avistou o rio Potengi, mais de uma hora depois a bordo do coletivo, perguntou ao motorista se o ônibus realmente passava na rodoviária. “Passa sim, só que na volta”, disse o motorista. Fulano de Tal dos Anzóis resolveu ir para João Pessoa, conhecer o famoso pôr do sol do Jacaré – sem saber que no Iate Clube de Natal também tem um evento semelhante, com direito a saxofonista em um barquinho e tudo. Mas ele não tinha mesmo como saber, não topou com nenhuma informação a respeito. Também não foi informado do roteiro de turismo pelo interior do Estado nem conheceu a cultura popular que ainda pulsa em bairros da periferia de Natal.

Secretários admitem: faltam recursos

A TRIBUNA DO NORTE conversou com o secretário adjunto de Turismo do Estado, George Lima de Oliveira, e o titular municipal da pasta Murilo Barros, sobre a situação verificada pela equipe de reportagem nos locais de interesse turísticos visitados. Ambos apontam para o mesmo vértice como forma de tentar justificar os problemas: falta de recursos.

“Se não tem mais de onde tirar dinheiro? Então vamos usar a criatividade”, disse Murilo Barros, da Seturde. “Aceitei o cargo e vou até o fim, tocando projetos que acredito serem interessantes”, emendou. O orçamento da secretaria municipal é de pouco mais de R$ 2 milhões, e a estrutura de pessoal comporta 44 funcionários: 24 servidores públicos e 20 cargos comissionados.

Sobre os questionamentos pontuais (posto móvel no aeroporto e o box fixo na Praia dos Artistas), Barros lembra que tentou negociar com a Infraero um espaço na área de desembarque. “Verificamos a possibilidade de montarmos um guichê de informações, mas a empresa aeroportuária informou que teríamos que alugar um box no saguão do aeroporto. Como não temos verba específica para este fim, encontramos a solução de manter uma das duas vans que dispomos por lá”, disse o secretário, sem explicar o fato do posto móvel estar fechado durante a visita da TN em um horário que deveria estar funcionando: às 11h.

De acordo com ele, quatro estagiários trabalham no aeroporto em dois turnos: das 8h às 12h e das 14h às 18h. “Não temos como funcionar durante a noite nem como deslocar um funcionário”.

Quanto ao box fixo, que era para funcionar das 8h às 22h, a equipe de reportagem esteve três vezes no local, pela manhã e à tarde, mas não encontrou o posto de informações aberto. “A pessoa que deveria ficar pela manhã está de atestado médico”, justificou. De material informativo, apenas um catálogo produzido no início da gestão da prefeita Micarla de Sousa. “Entre as novidades destaco a retomada dos shows diários com grupos folclóricos no projeto ‘Mirante dos Artistas’, do Shopping Mãos de Artes, Praia dos Artistas, que as operadoras já incorporaram ao roteiro”, informou Murilo Barros, que garantiu já ter solicitado à Cosern a retirada do poste caído sobre o telhado.

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