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Italianos fazem saudação fascista em 1938

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História das copas

MARIANA LAJOLO
COLABORAÇÃO PARA FOLHA
TIAGO RIBAS DE SÃO PAULO

Os 3.779 km que separam Porto Alegre de Recife foram demais para os franceses. Em 1950, disputar uma Copa no longínquo Brasil era um problema para os europeus.
Às portas da Segunda Guerra Mundial, a Copa virou alvo da propaganda política das nações
Como ainda teria de fazer um grande deslocamento interno por conta da tabela, a França desistiu do Mundial, algo que parece impensável para um time hoje em dia.

Até o início dos anos 50, no entanto, casos como esse não eram surpresa. A Copa que hoje mobiliza mais de 4 bilhões de pessoas ainda era um torneio que tentava se firmar em meio a guerras, crises econômicas e improvisos.

O crash da Bolsa de Nova York assombrou a primeira edição, em 1930. Os quatro times que viajaram de navio por duas semanas para chegar ao Uruguai só entraram a bordo porque o governo uruguaio pagou a viagem.

O sonho de Jules Rimet, presidente da entidade, enfim se realizava após quase dez anos de negociações.

A Copa seguinte, em 34, serviu para um propósito que a marcaria até a Segunda Guerra: a propaganda política. Benito Mussolini bancou o Mundial na Itália e o usou para enaltecer o fascismo.

O Uruguai, por conta do boicote europeu em 30, não defendeu seu título, e 16 equipes jogaram pela taça, três a mais que a edição inaugural.

O torneio parecia embalar em 1938, com 37 seleções inscritas nas eliminatórias. Mas com a tensão crescente na Europa, só 15 foram à França —a Espanha, em guerra civil, e a Áustria, anexada pela Alemanha nazista, ficaram de fora.

Quando a guerra eclodiu, não havia mais espaço para a bola. As Copas de 1942 e 1946 foram canceladas.

E após o fim do conflito só o Brasil se apresentou para sediar o evento, com 13 times.

O Maracanã foi erguido em dois anos e recebeu, entre outras, a partida que até hoje é a maior tragédia do futebol brasileiro: a derrota para o Uruguai na final de 1950.

O Mundial começou a engrenar, enfim, em 1954, com 45 inscritos. E não parou mais.

Em junho próximo, a França viajará 3.090 km de Porto Alegre a Salvador. Pode até reclamar, mas jamais desistiria de uma Copa por isso.

1950 – Outra Copa, mesmo Brasil
O clima da Copa de 2014 é ditado pela Globo, que regula passo a passo a nossa emoção, com maior intensidade a partir do Carnaval.

Em paralelo, comerciais inundam o país de amarelo até o clímax das patriotadas sem pudor. Se o Brasil não chegar à final (Deus nos livre), seguirão alardeando nossas virtudes em vão, por algumas semanas, cumprindo contrato.

É certo que Maracanazo não haverá porque o estádio de 50 desapareceu: encolheu de 200 mil para 78 mil pessoas, sob uma cobertura com cara de lona de circo. O estádio majestoso e democrático, onde o povo conseguia pagar a entrada, agora é arena padrão Fifa, anódina, para que ninguém saiba de onde vem a transmissão.

Mas há semelhanças entre as duas Copas: uma é a crescente convicção de que vamos ganhar. A euforia virá de todos os meios de comunicação e pode tomar conta dos jogadores, como em 1950. O Brasil tem uma imprensa com poder de fogo, mas poucos heróis esportivos, daí a munição ser descarregada nos ídolos do futebol, a saber, Neymar.

Há também a coincidência de a final ser em julho, e a eleição presidencial, em outubro. Em 1950 os políticos iam à concentração sem cerimônia, interrompendo até o almoço dos “craques” no dia da final. Claro que o controle de quem pode ter contato com os jogadores é rigoroso, mas ninguém os impede de ver TV.

A oposição à época chamava-se Carlos Lacerda, o temível político de língua ferina, que só não impediu a construção do Maracanã pela persistência de Mario Filho em campanha no “Jornal dos Sports”, tanto que o estádio recebeu seu nome. Hoje ela é mais abrangente, sendo as possíveis manifestações um dos maiores temores da Fifa.

Quanto aos atrasos, o Maracanã teve um jogo-teste, antes da Copa de 1950, em que a concretagem das marquises ainda tinha estruturas de madeira. Mas a obra foi rápida, menos de dois anos, época em que os materiais eram transportados em carroça. Um ferro deixado na saída do túnel feriu Mitic, o craque iugoslavo, que só entrou no jogo decisivo para a classificação aos 20 minutos do primeiro tempo (Brasil, 2 a 0).

Naquela época, eram seis as sedes. Agora, por liberalidade, são 12. Sem esquecer que somos penta: em 50 só tínhamos nosso “complexo de vira-latas”.

ROBERTO MUYLAERT é jornalista e autor do livro “Barbosa, um Gol Silencia o Maracanã”

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