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João Café Filho tentou convencer Vargas a renunciar

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Difícil encontrar uma  cidade no Rio Grande do Norte onde não haja uma avenida, rua, travessa ou praça em homenagem a Getúlio Vargas. A morte trágica do presidente colocou o Rio Grande do Norte no mapa político do Brasil na metade do século passado. Eleito vice-presidente, o deputado federal natalense João Café Filho era o sucessor natural de Vargas. Enquanto o povo chorava nas ruas, no Congresso Nacional as atenções voltavam-se para ele.

No dia 24 de agosto de 1954, a Tribuna do Norte saiu mais tarde. Com a manchete “Getúlio suicidou-se”, o jornal relatava o gesto extremo e o burburinho político no Rio de Janeiro, então capital federal. Num telegrama da Telepress, a TN publicava carta de Café Filho endereçada a Ademar de Barros.

“Meu caro Doutor. Na tríplice qualidade de correligionário, amigo e vice-presidente da República, apraz-me por-lhe a par do que a seguir passo a expor. De longa data e, principalmente, nos últimos tempos, preocupa-me de forma angustiosa a crise que asfixia nosso País,em quase todos os setores de sua vida. Na quinzena que vem a se encerrar, acontecimentos políticos e militares que, decerto, são de seu conhecimento, deram, a tal crise, aspectos de suma gravidade que se evidencia tanto aos otimistas quanto aos espíritos menos preocupados com as coisas sérias.”

#SAIBAMAIS#Na carta, João Café lembra que abordou com Getúlio a possibilidade de renúncia como única solução soberana para a crise política e militar. “Crise por seu caráter agudo, deve não só ser considerada a mais grave, mas também ser encarada e cuidada em primeiro lugar dentro da maior urgência”. Informa também que sugeriu a hipótese de ambos renunciarem aos cargos para que fosse convocadas novas eleições. Para Café esta seria uma saída capaz de promover o desarmamento de espíritos para que se tornasse possível o soerguimento material e moral da Nação.

Nas semanas que antecederam o suicídio, segundo os anais do Senado, dois senadores do Rio Grande do Norte – Ferreira Sousa, tio do ex-governador Iberê Ferreira,  e Kerginaldo Cavalcanti, que assumira a vaga de João Câmara – fizeram pronunciamentos criticando Getúlio e defendendo o fim do governo.

Entre o atentado da Rua Toneleros e o suicídio de Vargas foram 19 dias que abalaram o Brasil. Café Filho assumiu a Presidência no dia 3 de setembro. Ficou no cargo por pouco mais de catorze longos e agitados meses.

Bate-papo
JOÃO LIRA NETO – escritor
João Lira Neto: Governo Vargas calou a imprensa e perseguiu adversários políticos
Por que Getúlio Vargas preferiu se suicidar a renunciar?

Foi uma espécie de crônica de uma morte anunciada. Havia anos que Getúlio deixava em seu diário e em sua correspondência indícios de que jamais aceitaria ser deposto. Para ele, isso significaria ser marcado com o signo do vexame, da derrota, da desonra, do ridículo. No dia da chamada Revolução de 1930 [quando chegou ao poder pela primeira vez], ele escreveu que, se o movimento fracassasse, só seu sacrifício limparia aquele erro.

Em 1932, no dia seguinte ao movimento constitucionalista de São Paulo, ele redigiu um típico bilhete de suicida. Achando que seria deposto, disse que preferiria morrer como um soldado. Em 1945, ano em que foi deposto, escreveu duas cartas no mesmo tom. Ele levou a intenção a cabo, em 1954, ao se ver acuado e sem alternativas. Getúlio não suportava a hipótese de sair do Catete preso. O suicídio foi um gesto que vinha sendo amadurecido, lentamente programado. Uma das últimas aparições públicas de Getúlio ocorreu no início de agosto de 1954, quando ele foi ao Grande Prêmio Brasil, no Jockey Club do Rio. Ele foi alvo de longas vaias. O suicídio provocou tal comoção que essas mesmas pessoas estariam chorando a morte dele semanas depois.

Getúlio Vargas foi mais “pai dos pobres” ou ditador?

A bibliografia sobre Getúlio é vastíssima. Ele foi um dos sujeitos sobre quem mais se escreveu na história do Brasil. Boa parte dos livros, porém, padece de um pecado grave. Ou são ingênuos, devocionais, quase hagiográficos, como se fossem a biografia de um santo, ou são tentativas de desconstrução radical. Nada disso é produtivo. Getúlio é um personagem complexo, contraditório e cheio de ambivalências. Isso é o que o torna tão fascinante. Por um lado, ele protagonizou uma das vitórias eleitorais mais consagradoras do Brasil. Ele instituiu uma série de direitos sociais e modernizou o país, acabando com o estágio agrário pré-capitalista e iniciando a industrialização. Por outro lado, ele provocou muito mal nos oito anos da ditadura do Estado Novo. Foi um governo que calou a imprensa, perseguiu adversários e torturou. Não podemos entendê-lo como um personagem de novela, que é bom ou mau.

Não há cidade que não tenha uma rua ou praça com o nome de Getúlio Vargas. Por quê?

Muitos desses logradouros foram batizados na ditadura do Estado Novo. O culto à personalidade de Getúlio era um dos maiores mecanismos de propaganda do regime. Publicavam-se livros e cartilhas escolares sobre ele, afixavam-se imensas imagens dele em praça pública, faziam-se eventos cívicos espetaculosos. Isso ajudou a cristalizar a mitologia em torno de Getúlio.

Como foi o Getúlio Vargas senador?

Getúlio foi um senador muito pouco assíduo. O que mais chamou a atenção em sua passagem pelo Senado foi um atentado que quase acabou em tragédia. Getúlio estava em seu assento no Plenário quando um sujeito se aproximou e atirou uma pedra de calçamento na direção dele. A intenção era matá-lo. Getúlio escapou. Mais tarde, atestou-se que aquele sujeito era amalucado. Depois desse episódio, Getúlio sumiu de vez do Senado, não quis mais se expor, desapareceu.

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