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João Redondo em Brasília

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 Yuno Silva – de Brasília

Arte imortalizada em terras potiguares pelo mestre bonequeiro Chico de Daniel, o João Redondo segue firme, perpetuado principalmente por seus três filhos, Josivan, Antônio e Daniel. A tradição que começa a dar os primeiros passos na quarta geração da família do saudoso mestre, marca presença no 10º Festival Internacional de Bonecos de Brasília. Em cartaz desde a última sexta-feira (23), o evento reúne bonecos de vários países e regiões do Brasil em torno de uma extensa programação com espetáculos de mamulengos, fantoches, marionetes, títeres e teatro de objetos, além de palestras e oficinas.

No Festival Internacional de Bonecos em Brasília, reuniu artistas de várias nacionalidades, como o grupo Kamante, da EspanhaEm Brasília, as apresentações vão até o dia 2 de outubro e se concentram no Complexo Cultural da Funarte, Setor de Divulgação Cultural (eixo monumental). Toda a programação é gratuita e se estende – até dia 27 de outubro – por diversas cidades satélites do Planalto Central. Hoje, será a estreia do João Redondo dos potiguares na programação.
 
Os três herdeiros de Chico de Daniel conversaram com a TRIBUNA DO NORTE sobre o desafio de manter viva uma tradição iniciada com o avô Daniel, pai de Chico. Josivan, o mais velho dos irmãos com 43 anos, contou que já está começando a passar os macetes para o filho de um ano e quatro meses. “Acompanhei meu pai desde os cinco anos de idade, e meu filho (Josivan Júnior) já está aprendendo a brincar com Baltazar e o Professor Mestre Guedes”, orgulha-se.

Longe de casa há quase um mês, eles passaram por São Paulo e Rio de Janeiro – onde participaram da caravana do projeto Sesi Bonecos – antes de aterrissarem na capital federal. “Meu pai participou das primeiras cinco edições do Festival aqui em Brasília, mas os bonecos dele estiveram em  todas. Depois que ele faleceu, em 2007, comecei a vir no lugar dele e as pessoas gostaram. Todo ano os bonecos de Chico de Daniel estão na programação”, comemora. “Ele sempre dizia que não podíamos deixar os bonecos morrerem, esse era seu desejo”, confessa Josivan.

Daniel, Josivan e Antônio, filhos de Chico Daniel, participam com apresentações e oficinasCada um da família se especializou numa área: Josivan só encena o João Redondo. O irmão do meio, Antônio, 38, preferiu se especializar na fabricação dos bonecos, geralmente feitos com madeira mulungu, imburana e a raiz de timbaúba. “São materiais encontrados com facilidade no RN, aqui para o Sul eles usam mais a cortiça”, disse Antônio. Já o mais novo, Daniel, 27, é mais versátil: encena, fabrica e está trabalhando como ventríloco em shows para adultos – “É que o boneco fala muita sacanagem”, justifica Daniel;

ESPETÁCULOS CANCELADOS

Falecido em março de 2007, Chico de Daniel é tido como referência quando o assunto é teatro de bonecos No Nordeste – João Redondo no Rio Grande do Norte e Mamulengo em Pernambuco. Mesmo sendo legítimos herdeiros do principal artista desta arte secular, o trio informa que ultimamente vem se apresentando com maior frequência fora do RN. “Por enquanto não dá para viver dessa brincadeira no RN: os cachês são baixos, isso quando pagam!”, lamenta Josivan. “Sem falar na falta de convites para participar de eventos da Fundação José Augusto. Falta apoio, valorização. Quando papai morreu, tinham 45 apresentações agendadas pela Fundação, disseram que nós iríamos assumir as apresentações mas acabaram cancelando tudo. Cobrei, critiquei e não chamaram mais a gente para nada. Essa foi a primeira vez que participamos de um evento do Governo do Estado (o Encontro de Bonequeiros, atividade inserida no projeto Agosto da Alegria) desde 2007”, verificou Josivan.

O evento, que conta com patrocínio da Petrobras e apoio da  Funarte, terá sua trajetória retratada no livro “Uma década de brincadeiras – Uma desculpa para falar de Bonecos – Festival Internacional liga quatro continentes a Brasília”, de Marcos  Linhares e Vitor Ferns, cujo lançamento está marcado para esta quarta-feira (28), em Brasília, e o João Redondo de Chico, de Daniel, de Josivan e de Antônio estão com lugar garantido na publicação.

Josivan de Chico Daniel circula com o João Redondo por todo o BrasilENTREVISTA / JOSIVAN DE CHICO DANIEL

Artista está há mais de dois meses em turnê

Dedicado à  preservação da arte que sustenta a família de bonequeiros há mais de seis décadas, Josivan de Chico de Daniel utiliza os bonecos que pertenceram ao pai. “Criei personagens novos, como a dupla de violeiros Zé Goela e Boca Mole, o macumbeiro Zé Pretinho, mas a maioria dos 18 personagens foram de Chico e Daniel”, informou o bonequeiro, que destaca Capitão João Redondo, Baltazar, Doutor Pendura a Saia, Professor Mestre Guedes, Padre Biapino de Freitas, Etelvina e Minelvina (noiva de Baltazar) como principais personagens. Viajando há mais de dois meses, o artista conversou com o VIVER:

Josivan, pelo visto você já nasceu brincando com os bonecos?

É verdade, desde os cinco anos de idade que sempre acompanhei pai nas apresentações, trabalhei muito com ele. Já Toinho o negócio dele é mais fabricar os bonecos. Daniel também começou cedo, ele brinca o João Redondo, fabrica os bonecos e faz ventriloquia.

Você se apresenta sozinho atrás da empanada (cortina)?

 Eu e Deus. 

Você  falou que está brincando mais fora do RN. Antes de vir aqui para Brasília, passou por onde?

Primeiro estive em São Paulo, depois no Rio de Janeiro, participando da caravana do projeto Sesi Bonecos. Aí fui para Recife, passei por Natal naquele evento da FJA (Agosto da Alegria), e vim pra cá. Vou ficar uns 40 dias aqui em Brasília. 

Além de se apresentar, vocês também participam de oficina?

Exatamente. Eu e Daniel damos oficina de manipulação, Antônio ensina a entalhar e fabricar os bonecos. Dá certo por que cada um faz uma coisa. Esse é o primeiro festival aqui em Brasília que está tendo oficinas. A integração com artistas de outros lugares também é muito legal para termos novas ideias.

E a importância de preservar o João Redondo…

Temos que preservar a cultura popular, é uma coisa muito rica, boa. Faz as pessoas rirem. Se não existisse a cultura popular o Brasil seria um país mais triste.

E a recepção aqui em Brasília? Vocês recebem cachê?

Aqui é ótimo, tudo organizado, e rola um cachezinho até que bom!

SERVIÇO

10º Festival Internacional de Bonecos de Brasília, de 23/9 a 28/10 no Distrito Federal. Apresentações dos bonecos potiguares, dias 27 e 30 de setembro; e dias 4, 14, 18, 19, 20, 21, 22 e 27 de outubro.

www.festivaldebonecosdebrasilia.com.br

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