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Jucurutu: 337 pessoas desabrigadas

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Júlio Pinheiro – Repórter

O município de Jucurutu, a 266km de Natal, amanheceu debaixo d’água ontem. As chuvas de 176,3mm da madrugada fizeram com que 89 casas ficassem com água acumulada  a uma altura de 1,5m, desalojando 337 pessoas. O motivo para o alagamento do Conjunto do Dnocs, área mais afetada pela inundação, foi a baixa potência das bombas utilizadas no local para jogar a água acumulada na área para o leito do rio Piranhas-Açu, que não recebe o escoamento natural devido a dois diques construídos na região. Por isso, a solução encontrada foi a abertura de uma comporta para que a água escoe para o rio.

Represadas por diques erguidos no tempo da construção da Barragem Armando Ribeiro Gonçalves, as águas da chuva subiram um metro e meio, invadindo 89 casas do conjunto do DnocsAs barreiras, construídas pelo Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs) na época de construção da barragem Armando Ribeiro Gonçalves, em Assu, estão posicionadas em dois pontos estratégicos, impedindo que a água que desce pela cidade chegue ao rio. Com isso, o Conjunto do Dnocs, que está em uma área mais baixa, necessita do trabalho das bombas para evitar as inundações. No entanto, o próprio órgão federal reconhece que os equipamentos não são capazes de evitar os alagamentos. “Já é um problema que vem de algum tempo e ainda não conseguimos recursos para fazer a troca das bombas”, admitiu o coordenador estadual do Dnocs, José Eduardo Alves Wanderley. “As chuvas foram muito intensas e a casa de bombas foi inundada. Não houve como evitar”, explicou o chefe do serviço técnico do Dnocs, João Guilherme de Souza.

Com a inundação, a Prefeitura de Jucurutu, com o apoio da Defesa Civil estadual e Corpo de Bombeiros, abrigou as vítimas em escolas e creches do município. De acordo com a secretária municipal de Assistência Social, Ioneide Queiroz, mulher do prefeito Júnior Queiroz, a situação está controlada e todas as pessoas que ficaram desalojadas já têm acomodação. “A maioria das pessoas está em casas de parentes. As escolas estão recebendo as poucas pessoas que não tiveram para onde ir e os pertences das vítimas, como geladeiras, fogões e o que mais foi salvo”, explicou.

A governadora Rosalba Ciarlini (DEM) sobrevoou a região para avaliar a situação e colocou o Governo do Estado à disposição da Prefeitura da Cidade. A Defesa Civil está avaliando  as responsabilidades do incidente e, de acordo com o coordenador do órgão, Tenente-Coronel Acioly, do Corpo de Bombeiros, um relatório será elaborado para elucidar as causas da inundação. “No primeiro momento, nosso objetivo não é apontar culpados, e sim colaborar para solucionar o problema” , garantiu Acioly.

Para acelerar o escoamento da água acumulada, membros da Defesa Civil, Prefeitura, Ministério Público e Dnocs, em comum acordo, decidiram que a solução seria a abertura da comporta de maré do dique B.  João Guilherme, garantindo que não há risco de alagamento de cidades circunvizinhas.

A governadora Rosalba Ciarlini estará amanhã no Vale do Açu, Vai ver de perto os estragos das chuvas e anunciar providências.

Emparn tem dificuldades para monitorar

O contado com a maioria dos 190 postos pluviométricos espalhados nos 167 municípios do Estado está sendo prejudicado, porque a Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn) não conseguiu, ainda, a transferência de todos os 25 ramais telefônicos de que dispunha na antiga sede, antes situada na rua Jaguarari, em Lagoa Nova, em Natal.

Em fins de novembro do ano passado, a sede da Emparn foi transferida para a Estação Experimental Rommel Mesquita, em Nova Parnamirim, mas desde então a companhia só conta com duas linhas telefônicas e outra de fax para atender a diretoria e todo os seus departamentos, inclusive o Setor de Meteorologia.

Só para dar um exemplo, o último boletim diário da Emparn,  divulgado na manhã de ontem, só trazia informações de seis postos. Uma fonte segura de dentro da Emparn, informou que alguns servidores estão fazendo ligações de celulares particulares, pedindo dados sobre o volume de chuvas registrados em pluviômetros instalados em escritórios da Emater, delegacias, de prefeituras e de estações do Dnocs. Por enquanto, a Emparn tem disponível apenas os telefones 3232.5858 e 3232.5864, além do fax 3232.5868 para atender a sua demanda, além do correio eletrônico na internet: [email protected].

O  meteorologista Gilmar Bristot, confirmou que existem outras situações, como problemas ocasionados com a rede de telefonia em Caicó, que impossibilitou a empresa de fazer contato com as cidade da região do Seridó. Por causa disso, segundo Bristor, a Emparn não teve como obter registros sobre o volume de chuvas que caiu na Serra de Santana e em Jucurutu, por exmeplo.

O serviço de meteorologia da Emparn prevê a continuidade das chuvas, hoje, inclusive na região Seridó e Central, além de precipitações no litoral durante a madrugada principalmente. Mas a intensidade das chuvas deve ser menor àquelas registradas no último final de semana.

“Foi um milagre de Deus”

Marco Carvalho – repórter

A enfermaria número 3 do Hospital Promater, em Natal, abrigou um herói. Um herói que resistiu ao sofrimento de ser levado pela força das águas durante mais de quatro horas. Ferido, ainda conseguiu andar mais de 10 quilômetros para pedir por socorro. O preparador físico Edson José de Barros Filho, 43 anos, viveu, nas suas palavras, um “milagre” e mesmo após “desistir de lutar” conseguiu se salvar da tragédia particular. Ainda se recuperando dos ferimentos, Edson recebeu a equipe da TRIBUNA DO NORTE e relatou como foi capaz de sobreviver mesmo quando tudo apontava para a morte.

Acompanhado da esposa e do cunhado, o preparador físico conversou por vinte minutos com a reportagem. Eis a conversa:

FELIZ

Com a cabeça enfaixada e escoriações por todo o corpo, com marcas roxas e arranhões – fazendo-o parecer que havia enfrentado a própria via crucis -, Edson estava feliz. Feliz apesar do medicamento para o tratamento da costela fraturada que o fazia ter náuseas. Feliz porque, apesar de tudo, estava vivo. Com o estado de saúde estável, ele recebeu alta ainda ontem.

VIAGEM

Edson esclareceu porque queria voltar para Natal mesmo enfrentando as fortes chuvas. “Havíamos voltado de um amistoso perto de Mossoró. Mesmo com a chuva, vi que tinha condições de voltar e queria fazer isso porque tenho um filho pequeno aqui na cidade”, disse Edson.

AVISO

Um carro parado próximo à ponte sob o Riacho Sem Nome, onde aconteceu o acidente, fazia sinais para que não passasse, mas ele interpretou de modo diferente. “Pensei que eram assaltantes e não parei. Vi que dava pra passar, mas foi tudo muito rápido. Quando vi a água estava nos levando e já tinha tirado meu cinto para deixar o veículo”.

ACIDENTE

Edson contou que quando tentou sair do carro, colocou os pés no asfalto, mas foi logo levado. “Entrei em um redemoinho e fui sendo levado  em meio a pancadas”. As pancadas a que se referiu eram as perfurações por arames farpados encontrados nas cercas no terreno próximo. “O arame e os espinhos entravam no meu braço e nas minhas costas. Ainda tentei tirar todos. Depois desisti”.

SOFRIMENTO

O preparador físico, que não sabe nadar, ia boiando enquanto era levado pela correnteza. “Botava galhos nas costas para me apoiar melhor. Até que às 5h consegui botar o pé no chão”.

Após quatro horas e meia sendo levado, Edson decidiu descansar. “Estava em uma margem, mas logo comecei a cuspir sangue e percebi que aquilo não era bom sinal. Comecei a andar a procura de ajuda”.

AJUDA

Ele andou por cerca de 10 quilômetros até encontrar um casal próximo a um sítio, que prestaram socorro. “Estava arrebentado e os primeiros socorros foram prestados lá em Tangará. Fui transferido para Natal e agora descanso aqui”. Edson se considera um vitorioso. Evangélico, ele rezou diversas vezes no trajeto de sofrimento e credita a vitória a Deus. “Ele me salvou e permitiu que tudo desse certo”.

FUTURO

O preparador físico não estará a disposição da equipe no começo do campeonato estadual, no dia 30 de janeiro, mas quando retornar, promete empenho total.

Reservatórios

Com as últimas chuvas que caíram no Rio Grande do Norte, o volume de água armazenado  pelos açudes construídos e monitorados pelo Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs) cresceu 10%.  A autarquia informa que até a semana passada, os reservatórios estavam com 50% de sua capacidade com água armazenada, índice que subiu para 60% no começo da semana.

O Dnocs informa que dois reservatórios já estão sangrando, o açude Santa Cruz do Trairí, no município de Santa Cruz, que armazena 5,16 milhões de metros cúbicos e o açude Trairí, em Tangará, com capacidade para armazenar 35,2 milhões metros cúbicos.

Já a Segundo o Dnocs, barragem Armando Ribeiro Gonçalves, o  maior reservatório do Dnocs, no Estado, com capacidade de armazenar 2,4 bilhões de m³ de água, acumula atualmente 1.605.710.00,00 m³ do seu volume, representando 66,9%, faltando apenas 4,87m para iniciar sangria.

Os demais reservatórios, dentre outros, como açude Itans, em Caicó; Sabugi (São João do Sabugi); açude Pau dos Ferros (Pau dos Ferros), Marechal Dutra (Gargalheiras) em Acari; Caldeirão (Parelhas) e Mendubim (Açu), que  estão com seus volumes de armazenamento no entorno de 50 %. 

Barragens: “Governo não fez nada”

O presidente do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea-RN), Adalberto Pessoa de Carvalho, confirmou, ontem, que no dia 7 de fevereiro, uma sexta-feira, será colocada em pauta, na reunião plenária da instituição, a realização de uma “Fiscalização Preventiva Integrada” (EPI) nas áreas inundadas e de risco da Região Metropolitana de Natal  (RMN).

Adalberto Carvalho explica que a EPI deve ser realizada nos mesmos moldes daquela que fiscalizou as condições em que se encontravam 22 reservatórios de água no Rio Grande do Norte, em janeiro de 2010.

Um dos reservatórios fiscalizados naquela época, segundo Carvalho, foi a Barragem Armando Ribeiro Gonçalves, em Assu. Segubndo ele, o Dnocs até agora foi  “o único órgão público que respondeu às recomendações” do Crea, pois solicitou recursos – “não sei quanto foi “ – ao governo federal para reparação de um buraco que existia na parede daquele reservatório.

Carvalho disse que até hoje não recebeu nenhuma informação oficial do governo do Estado, quanto as recomendações contidas no relatório. Mas, o que ele diz saber, através de informações extraoficiais des fiscais em trânsito do Crea, que ocasionalmente passam em alguns locais, “é de que o governo não fez nada” a respeito de medidas preventivas listadas no relatório de 227 páginas que foi entregue, inclusive, à Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Serhid).

“Falta maturidade e profissionalismo por parte da gestão pública”, disse o presidente do Crea, ao lembrar que até a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) pediu para que a fiscalização realizada em janeiro do ano passado, “fosse adiada duas vezes”, para que aquele órgão pudesse participar, como de fato ocorreu nas visitas às barragens Armando Ribeiro Gonçalves e de Poço Branco, na região do Mato Grande. (Valdir Julião)

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