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quinta-feira, 18 de abril, 2024

Leia poemas autorais enviados por leitores da Tribuna do Norte

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Poemas autorais enviados por leitores da Tribuna do Norte, para o e-mail [email protected] (por ordem de envio):
 
Carta para eu mesmo
(Angelo A. P. Nascimento)

Caríssimo eu,
Por onde andarás?
Saiu e não deixou recado,
Mas devo relatar um fato engraçado:
Tem um cara que é a sua cara,
Lá no espelho!
Pensando bem,
Ele não tem o seu sorriso,
Nem seu senso de humor singular.
Pra falar a verdade,
Ele até parece ser bem chato
E nada sociável.
Pô, velho eu!
Cadê você? Por onde anda?
O que tem feito?
Por que saiu sem avisar?
Eu ando por aqui, sem você
(Deu pra perceber, não é?)
Ando brincando com livros, remédios e algumas músicas,
Ando bagunçando a lua desses românticos namorados,
(Já contei que bagunçaram a minha?)
Ando fazendo escoriações no papel com a caneta,
Ando meio insone,
Tomando café com duas colherinhas de angústia.
Ah! Ia me esquecendo!
Manda abraços e notícias
Para aqueles velhos sentimentos que eu tinha.
Os quartos deles ainda estão vagos.
Até arrumei ontem
Com desinfetante de passado.
Ficou tudo com cheiro de “volta pra casa”.
Abri as janelas pra entrar um solzinho,
Afinal, dizem que tira o mofo
(Sou alérgico a mofo, você se lembra?)
Bom, velho eu conhecido,
Vou terminando te anunciando
Que ando com costumes novos e tristes,
Com um ar meio soturno,
Um tanto calado
E com a pele do rosto bem hidratada
(Ando chorando com frequência, sabe?)
Vou terminar mesmo por aqui,
Sem mais delongas,
Olhando para ali,
Para o nada.
Fico aqui e espero até me encontrar
Ou encontrar você
Ou encontrar eu
(Que coisa confusa!)
Volte logo, viu?
Deixei a porta destrancada.
Quando entrar, faça barulho,
Solte uma daquelas suas boas risadas.
Estou louco pra te abraçar,
Mas antes disso,
Só porque você foi sem dizer nada,
Já está avisado:
Vou te encher de porrada!!!

 

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As duas vidas
(Vítor Teixeira de Queiroz)

Aquele que está totalmente preso na vida material
vê uma montanha em
uma pequena pedra,
vê em apenas um tropeço
uma grande queda,
sente em uma gentil brisa
um feroz furacão
e na doce realidade
sofre uma amarga desilusão.
 
Aquele que está totalmente preso na vida material
decepciona-se com a morte,
amaldiçoa o sofrimento
e revolta-se com a doença.
Fazendo do presente da vida
o cumprimento de uma duríssima pena.
 
Entretanto,
aquele que vive com os olhos no céu
(e os pés no chão) é verdadeiramente feliz.
 
Confiando na eternidade de suas boas ações,
não tem mais medo de morrer.
 
Abençoando o sofrimento,
como um professor rígido, porém justo,
nunca cessa de lutar.
 
Resignando-se perante a doença
encontra a paz,
pois sabe que o corpo é perecível,
mas a alma é invencível.
 
Vê os bens matérias como um empréstimo do alto
e sabe que, cedo ou tarde, terá que prestar contas.
 
Ama os que o odeiam,
perdoa os que o magoam,
abraça os doentes,
reza pelos ingratos
e nunca está desamparado
porque a paz está com ele.

Compreende que
a luz de uma pequenina vela
tem o poder de iluminar uma imensidão de trevas.

E agora que chegamos ao fim do poema,
eu gostaria de perguntar:
qual dessas duas vidas você está vivendo?

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“Um certo laço”
(Daniel Wallace Pontes Jucá)

 
Esse é o sentimento percebido
Quando dois seres em um só são unidos
Ainda no ventre, enquanto um se encontra recolhido e cuidado
Surge o extraordinário tão esperado

Não seria algo apenas incondicional
Não seria algo apenas desmedido
Não seria algo apenas sem igual
Seria o próprio infinito!

Bordado a partir da vontade de Deus
Por aquela que tem o poder de gerar
Fortalecido pela vontade de Criador
Para aqueles que não se podem separar

Criador e criatura, mãe e filho, linha e costura
Tecidos na mais bela formosura
Que somente Ele, o alfaiate da vida, o Deus da cura
Poderia ter tecido com a mais pura ternura

Essa é a ligação contundente
O elo do “para sempre”
Que dentro de um ser mortal e limitado
Depositou-se o amor mais extremado

… o amor de mãe, um certo laço!

 
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(Laercio Jr.)

Imagine a tristeza se todos pensassem igual
e vissem os mesmos tons de azul;
o que seria dos momentos felizes
se não houvessem blues?
 

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AMIZADE
(Hilder)
 

Amizades são feitas de pedacinhos.
Que vivemos com cada pessoa.
Não importa a quantidade de tempo
Que passamos com cada amigo
Mas a qualidade de tempo
Que vivemos com cada pessoa.

Por mais que o tempo passe e que as dificuldades possam surgir, eu sempre estarei firme e forte, porque sei que posso contar com você, um amigo que certamente foi um presente em minha vida.

Sei que a nossa amizade é verdadeira, e para todas as amizades verdadeiras o tempo nunca passa, as distâncias nunca existem.

Pois elas são eternas e a verdadeira amizade nunca morre.

Obrigada por sua amizade e por permitir que eu lhe chame de amigo!!!

O verdadeiro valor da amizade é sem duvidas a existências de pessoas que podemos contar em qualquer momento de nossas vidas.

Abraços verdadeiros, com sentimentos verdadeiros são elementos que fortalece e preserva

nossa amizade. A palavra fiel de um sentimento simples mais que transforma a vida de todos, e ser amigo é ter esta palavra forte no momento certo.

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(Ildrimarck Rauel)

Onde você for
Leve minha poesia
Deixe
         um pouco
                        no caminho
Faz dela pista
Pra que eu possa te encontrar
Um dia

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Paisagens noturnas
(Deiwis Ewerton de Melo Gomes e Silva)

aqueles que imaginam que a lua já teve pétalas
aqueles, que aquilo seja o botão da armadura de um deus
aqueles que anseiam viver por eras
aqueles, que esses sonhos sejam seus

que a luz do luar, que é a única que me banha
que chuvas noturnas espantam as estacas
que à noite, mesmo alerta, eu consiga amar
que seja a única oportunidade de fugir das amarras

rastejam entre mim os espectros de mil facas
rastejam entre mim as atrocidades suseranas
rastejam de forma familiar meus irmãos
rastejam em minha direção os anos de solidão

na manhã, se esconder
na noite, à soberania de sobreviver
na verdade, eu desejo te ter
na realidade, não adianta se esconder

noite, divindade dos amantes
noite, que me concede provisão
noite, tenha piedade
noite, podes me ganhar, então…

…é lua cheia, por isso me sinto tão bem.

 

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Desoxirribonucleico
(Leandro Viana Braga)

Minha mente aprisionada
num corpo. Milhões de moléculas,
amontoadas, empilhadas, encadeadas
em proteínas e aminoácidos.

Uma ordem complexa de partes
replicadas, replicantes, repetidas
em minúsculas cápsulas, produzindo
músculos, membranas, amor e medo.
 
Uma máquina operada por mim,
que não se difere nem se divide.
Estivesse eu em outro corpo,
este corpo ainda seria eu.

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QUANDO O TEMPO ENDURECER
(Edil C.)

Quando o tempo endurecer
Urge que se tenha arte
Para vencer barreiras
Para moldar a pedra
Para vergar o aço

Quando o tempo endurecer
Há que se ter molejo
No gesto do corpo
No golpe de vista
Na ginga, na briga

Não pode haver quem diga
Aos mais engessados
Que perdeste o bonde
Que quebraste a escrita
Que não és mais tu

Temos de ter fibra
Febre, tez enrubescida
Com sangue nos olhos
Com tesão nos dentes
Com calma insistente

Tentemos não ser
Subservientes
Sem bílis arrogante
Sem fleuma inconstante
Sem pejo evidente

Quando o tempo endurecer
Cantemos um salmo
De paz aguerrida
De guerra serena
De afeto ferino

Enfim
Quando o tempo endurecer
Sejamos o mar
Movente e estático
Viril e fecundo
Pascente e profundo.

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SEXTILHA DE SER SERTÃO
(Manuel de Azevedo)

Planto tardes aboiadas,
Colho manhãs de invernias.
Beijo o canto dos nambus,
Abraço azuis serranias.
Ouço o verde juazeiro
Transcendendo sertanias.

 

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A OLHOS NUS
(Rodrigo Souza)

 
Quando um dia ecoar em teus ouvidos as palavras que te disse
Vai procurar em tuas lembranças tudo que te fiz
Pois nem teus olhos enxergariam mesmo que eles vissem
Algumas coisas que só em atitudes o coração é quem diz

Pois, com os olhos, alguém disse, não se pode o essencial enxergar
E assim, se um dia escutares de minha boca que precisas partir
Meus olhos que nada enxergam, não obstante poderão falar
A verdade sonegada em meu peito que só teu peito poderá ouvir

E quem sabe a dor, somente qualidade de quem sente
E quem sabe o sofrimento, enfermidade do sintoma de saudade
Acabem logo a valer, matando o que me torna doente
Ou acabem logo comigo, matando tudo que de ti me invade

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TÁ LÁ

(Jacira Medeiros)

Um corpo estendido no chão
Um vai, outro vem
Um olha outro ignora,
Mas continua lá…

Enrolado, acabrunhado
Como um defunto engessado
Ninguém sabe, ninguém viu ou fingiu?

Mas está lá
Amanhece, escurece
Não se mexe, estático, permanece lá…

Passa noite, vem o dia
A sombra da árvore lhe consola.
Os papelões é colchão de penas

E nesse vai e vem, cinco dias a penar…

Já não está lá!
Partiu? Ou mudou de lugar?
Escondeu-se da noite. Deu bom dia ao sol!

Ressurgiu das brasas, não voltou mais pra lá.
Quem sabe, quando a primavera voltar
Meu amigo Jeová poderá me contar!

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ÁGUAS

(Maria Maria Gomes)

Água de chuva para o corpo cansado
Água de chocalho para o pouco falar
Água de colônia para o cheiro no amor esperado
Água de açude para as partes lavar.

Água de biqueira para uma tarde de chuva em Currais
Água de choro para amaciar a dor
Água de bica para limpar os quintais
Água de rosas para chamar o amor.

Água de poço para o beijo escondido
Água de lua para fazer poesia
Água de igreja para afastar o maldito
Água de nuvem para paixão fugidia.

Água de pote para matar a sede
Água de quarta para lembrar vovô
Água de açúcar para deitar na rede
Água de saudade para molhar o cobertor.

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REAL
(FPJ)

Sempre fui acostumado
A estar do outro lado
Dos que sempre controlam
Qual vai ser o numero do dado
O sentimento é verdadeiro
A recíproca nem sempre
Talvez só daquela mãe
Que trás seu filho no ventre
A realidade, nua e crua
É que nem sempre prestamos atenção
Porque quem tem controle é processo
Quem tem limite é função
A vida não é matemática
É algo incompleto, real
Como dos que um dia amaram
E não foi correspondido como tal

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SE O HOMEM TENTASSE
(Adriano Oliveira de Freitas)

Nada dá mais prazer ao homem do que a falta.
De ter, ver, cheirar e tocar…
Daqui há alguns anos, não haverá verde, cheiro, paz e apertos de mãos.
O concreto será perfume e só se verá ‘cinza’. Não cinzas. Mas, o cinza.
Todas as estradas nos levarão ao mesmo lugar.
Já o mundo, vai tornando-se um lugar preto e branco como aquela foto sem graça e que não causa emoção e nem nada.
E quando toda a cor aqui acabar, procurarão outra fotografia em algum outro lugar.
Se o homem tentasse… teria um álbum colorido e não um cemitério.

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(Sílvia Freitas)

… Sem saber direito o que escrever
fui me desfolhando
letra por letra
E cada vírgula que eu colocava
quase que pressentia o final
Então, como num gesto de desespero
iniciei, por várias vezes, com as reticências
Era como se eu quisesse que você soubesse do meu antes
De um outro início
de uma parte que se desprendeu de mim
quando você partiu…

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(Cris Lucena)

Não quero lhe parecer simpática, isso é pra misses. Sou um míssil: vero, verossímil.
Não quero lhe parecer bondosa, isso é pra santas. Sou só sã: nem cortesia, nem cortesã.
Não quero lhe parecer sensata, isso é pra beatas. Sou abstrata: abismo, absinto, iconoclasta.
Não quero lhe parecer correta, isso é pra bússolas. Sou lúcida, transmuto, translúcida.
Não quero lhe parecer bela, isso é pra estereótipos. Sou estéril de tipos e óbvios.
Não quero lhe parecer sábia, isso é pra ciência. Sou essência, reticências.
Não quero lhe parecer hipócrita, isso é pra tantos. Sou, portanto, porquanto, contanto, entretanto, no entanto, um encanto escondido em qualquer canto, adormecido pelo pranto. Pronto final.

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DE SONHOS E MÁGOAS.
(Augusta Ribeiro)              

Eu não sonhei sozinho o canto da vida,
nem fiz o pranto do sonho que deu.

As mágoas surgiam, o sonho ia.

Aquele sentimento não morreu.

Daquele mundo de sonhos, restou eu.
Disposto às mágoas e exposto aos prantos,
que  por tanto tempo rolaram tantos
e dispensados foram dos castigos teus.

Os castigos dormem. Os sonhos não.
Os castigos morrem. Os sonhos vivem.
Os castigos não matam, apenas dizem
que os sonhos não vivem de ilusão.

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Birunga, minha mãe, a mulher seresteira do Sertão
(Juraci Araújo)

Hoje véspera dos   Dia das Mães
Noite de seresta
Noite de saudades
Você mamãe não está aqui
 Mas todos sentem a sua falta
Todos sentem o vazio deixado por você
O som do cavaquinho sumiu
A tua voz não ecoa nas noites enluaradas
O balaio não está mais presente
 A carroça sumiu
E todos choram de saudades

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Tragada poética
(Marianne Galvão)

costumo tragar palavras
sem tantas doses recomendadas

as trago porque
de alguma maneira
elas me fazem ser melhor
durante o dia,
ou durante uma noite inteira

mal sei se faz mal ao corpo
mas costuma agir diretamente
no sistema sanguíneo
e vital

por ser vital pra minha vida
por fazer do meu corpo,
morada.

então eu trago palavras
e faço que elas se dissipem
em cada golada de vinho barato
em cada fumaça jogada ao vento

decidi não poluir meus pensamentos
quiçá, só o coração
já o desgracei tragando uma vida inteira
de palavras e sensações;
feitos, um para o outro
como cigarros em jarros de flor
como espinhos espetadas no peito
como nicotina em forma de amor.

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Noite
(Morganya Agamy)

Sinto-me inquieta
Incompleta
Turva
Nua
Sob apenas sombras negras
Da lua
A noite passa
Fazendo-me ameaças
Corro entre ruas
Gritos e afins
Os desastres
Estão traduzidos
Em todas as linhas
Da cidade procuro por tudo
Até por um simples ato de caridade
Noite negra
Que espera
Desespera
Regenera em apenas um luar …

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(J. Fe)

Lá fora há vento à sombra
Cá dentro o vento assombra

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DE REPENTE

(Alan Brandão de Albuquerque Brito)

De repente senti algo inexplicável.
O silêncio da madrugada me faz pensar.
Em poetizar-me, cantar e dançar.
Isso é bom, me faz relaxar.
Tira o fardo que estou a carregar.
Fico leve, quase a ponto de voar.
Os olhos estão fechando.
As rimas nascem de um simples estalar.
Não conto verso, matemática não há.
Não conto rima, os versos parariam de saltar.
Sinto agora que estou escrevendo.
O vento a balançar meus cabelos.
Não me lembro de ter tido à vida sensação melhor.
Entregar-me-á à poesia e então, viverei por todo o sempre.
Amém.

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(RE)LEITURAS
(Januário Wanderley)

Leio e releio e me enleio
Na tessitura do ter sido tecido
Na vastidão do vácuo vencido
Na podridão do porão percebido
 
Leio e releio e me enleio
Nos beijos dos beijos roubados
Nos abraços dos abraços dados
Nos olhares dos olhos molhados

Leio e releio e me enleio
Nas poesias não recitadas
Nas crianças abortadas
Nas esperanças despedaçadas

Leio e releio e me enleio
Na podridão do porão percebido
Na vastidão do vácuo vencido
Na tessitura do que poderia ter sido

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Teço-me
(Gilvania Machado)

Teço rendas, rezo terços
Contas de rosários , rosas sem contas
Imaginários fios
Entretecendo vazios

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ODE MÍNIMA À RIBEIRA
(Ayrton Alves)

Sou canguleiro
Não por montar em cangalha
Sou canguleiro dos peixes
Que trago nas veias
Espinha mais afiada que navalha
Sou canguleiro maior hoje
De carne e osso
Por atravessar a ponte sobre o nada
E o nada, ao mesmo tempo, é um sonho
Sou canguleiro por correr
Descendo as ladeiras,
Sol a pico,
Para me jogar no Potengi
Devolvendo os filhos
Ao Grande Rio
Canguleiro de Nascimento,
Vida e Terra
Da Ribeira,
Ora beira de Rio,
Ora beira de Mar
E sempre Ribeira do Mundo.

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Entrevista com a LUA
(Emerson Pinheiro)

A lua começa sua palavra com a seguinte frase:

“Mulher de fases, que título mais clichê”.

Não existe somente a mulher de fases, eu que sou homem, mescla e calma alma de mulher.
Tenho minhas fases crescentes a gritar nos céus minha chegada, por vezes jamais vista por ninguém.
Vou também minguando de volta a minha nevoa de trevas, para que não chegue a ver a minha dor, restaurando a terra seca para encher-me de amor, são minhas fases.
Não sou mulher e não sou homem, sou a mescla e calma alma dos dois.
E no inicio do mês eu sou NOVA, renascida. Não das chamas, pois o fogo não me alcança e nem tenho oxigênio para queimar e me lavrar com suas chamas. E nem do mar, pois sou estéril e seca como o mais insipido deserto. Renasço do céu, onde todos podem ver a minha chegada.
Não sou homem e não sou mulher, sou a mescla escarrada de desejo que brota dos anseios e vergonha dos dois.
E no final de tudo, de minha vida que se acaba no queimar de minha luz, sou a toda Cheia, gorda e reluzente, que causa inveja nos entes que desfolham as pétalas para verem meu brilho, sou a atenção do mundo, a ascese dos apaixonados que suspiram ardores, dores e amores por mim… Tudo mentira, eles olham meus olhos e veem na minha alma a sombra enamorada das suas paixões rebeldes.
Não sou mulher e não sou homem, sou a mescla completa do amor que existe nos dois.
E para completar meu canto e minha apresentação, declaro meu nome nas palavras que antecedem a manhã, sou LUA, a rainha dos céus, a esposa do véu que descortina os dias novos (O sol), que ora me ofusca, em dias me busca a procura de prazer, e no meu bem querer que faço um charminho ele brinca comigo de me deixar às vezes aparecer a sombra de seu calcanhar.

Mas…

Não sou homem ou mulher, sou a mescla daquilo que todos eles queriam ser.

Sou A LUA!

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O Quinto
(Edmilson Passos)

O mar, cantando o suave e etéreo canto,
Calmo e brando, beijou-te os pés.
Não se rendeu à força das marés.
Quedou-se, inerte, ao teu encanto

E o vento, lúbrico, com cerimônia,
Cingiu-te o corpo com um terno abraço,
Em ti deteve-se tal qual devasso
Que se estafa sem parcimônia

Subjugando-se aos teus fascínios
Em reverência se estende a terra.
Enquanto o sol, em seus domínios,

Ante o teu brilho e o teu calor,
Seu fogo eterno no nimbo encerra.
Venusto ser és meu fulgor.

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AQUELES OLHOS
(Christiane Alecrim)

Eu não queria ver o que vi
Queria tanto apagar aquele olhar
Eu nem pensava mais nisso
Queria tanto estar cega
E agora só me resta a saudade
E agora só me resta a vontade
Do que vi naqueles olhos…

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Ao Potengi amado
(Francisco Cândido)

Contemplo com os olhos d’alma
O por do sol no sereno Rio Potengi,
Espetáculo que meu coração acalma,
Mesmo estando tão distante de ti.
As cores fortes anunciam o entardecer
E o prenuncio do anoitecer no rio mar,
Altar da jangada que passa sem padecer,
Descortinando o véu da noite sem luar.        
Afogo nas águas impuras do Potengi,
O relicário da minha amarga atitude,
As paixões que do seu ventre vi emergir
Na força do mar revolto da juventude.
Beijei com ternura as águas amargas do rio,
Poluídas pelas mãos insensatas do homem
Que destruiu, sem dó, sua vida e seu brio,
Caricaturando um adoentado lobisomem.
Em suas margens um dia eu cantei e amei.
Hoje, o lixo fétido encobre o chão e a areia,
Outrora branca, com à qual um dia sonhei,
Ouvido o inconfundível canto da sereia.
Lembrei de João Cabral de Melo Neto
E da figura de um outro Cão sem Pluma,
Pois tudo aos meus olhos parecia incorreto              
Naquele  rio de gazes, lixo e espuma.
Diante daquele  odor de dor e desamor,              
Vertido das entranhas do rio agonizante,
O vôo da gaivota sobre o rio e seu amor
Enfeitou a paisagem  de desolação crescente.
Lembrei das nascentes do rio e do meu amor,
Em Cerro Corá, porção potiguar da Borborema,
Nasce o rio pequenino e brota a mais bela flor
E ao longe, ouço o grito forte do cantar da ema.
No Potengi, chorei rios de lágrimas,
Jorradas da face da dor de minha dor.      
No intenso pôr do sol escrevi essas rimas,                
Lembrando da Praeira, “Serenata do Pescador”.
O por do sol envergou-me a alma
Para viver um instante de criação.
O luzidio no espelho d’água, a calma
E soluçando cantei essa canção:
“Praieira do meu pecado,*
Morena flor, não te escondas,
Quero, ao sussurro das ondas
Do Potengi amado,
Dormir sempre ao teu lado…
Depois de haver dominado
O mar profundo e bravio,
À margem verde do rio
Serei teu pescador,
Ó pérola do amor!”

* Trecho da canção “Serenata do Pescador (Praeira)” de Otoniel Menezes – 1922

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(Camila Suammy)

Quimera
Corro, corro …
Em um caminho sem direção.
Percorro um labirinto dentro de mim mesma.
Tenho foco, objetivos,
Falta-me compreensão,
Das indiferenças do mundo,
Dos julgamentos desconstrutivos
E das ambições condenadoras.
Inebriante seria achar alguém,
Que compartilhasse dos meus devaneios
E todos os dias se embriagasse comigo de poesia.
Com porre de literatura,
Construiríamos um mundo, não perfeito, mas humanizado.
O caminho que almejo trilhar não é encantado,
Apenas traço o respeito às diferenças.
 
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Conselhos para se viver bem

(Paula Belmino)

Deixa que os pássaros cantem ao pé do ouvido
Livres entoando uma canção de amor
Feito primavera te abre em botões
Desabrocha  alegria e bondade
Fazendo bem aos corações.

Deixa que corra de pés descalços tua criança
Sobre areia fina cingindo-se de força
Das árvores como  raiz se mostre
Forte, seguro,
E logo delas se brote.

Deixa que a vida te ensine a viver
Em doce paz cheio de coisas simples te encher
O pão de teu dia seja o sorriso
A fonte de tua água seja a oração
E será feliz  na simplicidade o teu coração.

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Reciprocidade IV
(Caio Marcellus)

Eu confesso
que converso
com versos
e eles sempre
conversam
comigo.

Conversamos
e versamos
todos juntos.

Numa prosa
tão gostosa
que desejo
me unir a eles
para que um dia
versos sejamos.

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IMAGEM DO SERTÃO
(Dean de Sena)

Ainda na estrada de barro
Pouco antes da porteira
Pode-se avistar aquela casa
Entre as serras e o mato seco do sertão
A casa que agora está perto
É a diversão da família
Aqui criança cai no chão avisando aos
mais velhos
Que é a hora de brincar
Aqui tudo é simples
Mas a mesa no meio da cozinha
A toda hora tem comida
Para todos se fartar
O sol brilha forte
Mostrando a seca que o sertão tem
O açude ao longe
É pra guardar a chuva que aqui demora
a cair
E o tanque no terreiro
É alívio nos dias de sol
Mas aqui tudo é alegria
E a gruta com Nossa Senhora
Lá do terreiro
Nos envia as orações da Santa Mãe
Daqui se vê poucas casas ao redor
E a capela sozinha lá do alto
Nos avisa que Deus se faz presente aqui
também
A cerca de arame limita a terra
Deixando aos nossos olhos
O horizonte serrano do sertão
Arribaçãs voam alto
Anunciando o inverno que ainda está
por vir
A poeira na estrada
É certeza de visitantes chegando
O feijão e o milho verde
Já estão na bacia
Anunciando a boa safra
E na casa em que do pote se faz
chuveiro
É nele que adulto
Vira criança outra vez
O rádio traz a notícia da cidade que
agora está distante
Do outro lado do açude
As serras fazem um boqueirão
Onde o pôr do sol se faz mais belo
E ao cair da noite
Os bichos do sertão silenciam-se
Anunciando o fim
De mais um dia no sertão.

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L     U     A
(Lúcia Eneida Ferreira Moreira)
 

Ao contemplar-te ó Lua amada
Terna lembrança de uma noite plácida
Quando teus raios iluminando a praça
Meu  frágil destino traçaste ali
E eu tão pequenina de olhar inocente
Ofereci meus lábios com pureza d’alma
Deixei teu luar tomar conta de mim
Lua, ó Lua, por que quiseste que eu crescesse tanto?
Onde deixaste por aí em algum canto
Aquela criança meiga a te observar?
Fizeste de mim uma mulher madura
Que ama e  sofre, mas continua pura
Quando de  longe  lanças teu luar

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A poesia que você não escreveu.
(Tarcísio Tas)

O que estava entre a mente, o papel e a caneta?
O que te causa dor ou alegria?
O que há entre o afeto e a renúncia?
O que é mentira ou verdade?

Quantas palavras seriam necessárias para acalmar a alma?
Entre o que não há começo, nem fim, nem ponto final.
Quantas de ti há em ti, que não foi escrito, apenas pensado.
O que cada vírgula descreveria? As buscas pelas reticências da vida?

Entre cada gesto ficou a poesia não escrita,
A dor mal curada, a raiva esquecida.
Em cada silêncio, uma palavra,
Em cada palavra um silêncio.

O amor que traz dor é o mesmo que cura.
A ansiedade que nos faz sofrer é a mesma que liberta.
O que não sabemos de nós é o que nos orienta.
A fé no que acreditamos é o que nos consola.

Tudo passa, tudo move, tudo cresce e morre.
O tempo é nosso aliado ou nosso inimigo.
O medo nos faz perder a calma e a coragem,
E o tormento da angústia perde nossa fantasia.

Ainda lerei os seus versos,
Ainda recitarei teu amor,
Ainda hei de ver…
A poesia que você não escreveu.

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UM PEDIDO
(Diego Breno)

Não sei se existem vidas passadas…
Não sei se haverão reencarnações.
Mas ainda acho que não devem ser encontradas…
Coisas que afligem nossos corações.

Se vivi em tempos passados, certamente o coração sofreu.
Foi tamanho sofrimento que o deixou muito dolorido.
As palavras que foram usadas, certamente ele temeu.
Palavras do seu grande amor, que não foi correspondido.

No tempo presente o coração continua aflito.
A história parece se repetir.
Conseguiu por um tempo, é verdade, mas o sentimento foi rompido.
E as palavras que não queria escutar o fizeram refletir.

Será que vale a pena se martirizar?
Será que vale a pena viver?
Será que eu deva esquecer?
Ou será que eu deva lutar?

Dizem que o Tempo é o senhor de tudo.
Faz com que cicatrize e, muitas vezes, cure a dor.
Não sabia que o Doutor Tempo fosse tão agudo.
Que curasse todas aflições do amor.

Não é fácil esse mal guardar.
Então quero fazer um pedido.
Se for pra sofrer, de novo, não quero nem reencarnar.
Caso contrário o coração sempre ficará aflito.

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(Larissa Dantas)
 

Noites curtas
Dias longos
Olhos fundos
Sono raso
Em descompasso
O passo lasso
Laço o cansaço
Em um abraço
Busco acalanto
Em um sorriso seu
Nele, acho recanto
Até o próximo adeus

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Titikaka
(Victor H. Azevedo)
 

entre marquises, passarelas e telhados, a chuva cai triste
tão triste quanto as pinturas de crianças que os nativos
vendem pelas calçadas, sem nenhuma expressão
de alegria ruminada de um filme hollywoodiano
lembra de antigamente, quando a chuva tinha gosto de barro
e agora tem um gosto melancolico, chumbado,
que sempre se vê nos jornais matinais,
pois todos gostam de ficar desolados comendo seus ovos com bacon
e bebendo one more cup of coffee for the road
o temporal persiste até a noite
quando evoca saúvas aladas
a orbitar diante do sagrado abajur
tentamos entrar no castelo de areia
até a hora em que a luz do sol resvale
com um beijo no rosto das crianças
ou o céu, continue a cair
sobre as sobras da cidade
e tambem na barragem, que os nativos
oram
para logo logo
vazar em uma sangria plena.

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Ele, nós e vós
(Zecanesi)

No princípio era o verbo
Que fazia as pessoas
Serem o que desejavam,
Serem quem queriam ser,
Serem a promessa.
No presente é o verbo
Que revela sua posição
E unção no meio em que vive,
Revela-se cruel ou amável,
Depende da forma como se vê.
Bem mais na frente é o verbo
Que contará a história
Daquele que sofreu em nome da verdade,
Sem recursos e poucos amigos
E que por aqui não acabe
A gana de verbos recitados e profanados
Emaranhados entre sujeito e predicado,
Onde nunca houve pecado.

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NARCISA
(Iara Maria Carvalho)

agora que sou uma
mulher aprendida
no amor
recolho os frêmitos elaborados
frente às águas

e ao meu sono fluvial retorno
como uma sereia desativada
pra peixes e homens.

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Cálice
(Vicente Noronha)

Esse é meu cálice
Quis vinho, mas o que tenho é a dose do sangue
Derramado do buraco de tiro da minha cabeça amante.
Se é que sei a tradução literal de um sentido irreal do ainda dito amor
Choro de mãe pelo filho, aperto de amante no sexo do amador
Um prego na dobra quente do corpo de quem amou.

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Em tempo de seca, nasceu a palavra.
(Thiago Medeiros)

Retirou
Assombrada
A cobertura de pele.
Sobrou o último gozo
Da hóstia adormecida
Presa entre os dentes – pedras
De dentro do mosteiro – ela
Donde ainda se via a lua
Enternecida de naufrágios
Deixou-se…
Reformatada em rios
Sem nunca avistar o mar.
Meu coração – pedra lança encostas
Derrama-se tal gozo noturno
Com essas mãos que não param de dançar.

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BEIJO
(Martinho)

O beijo
Que emudece os lábios
Não cala o coração
É uma resposta surda
Mergulhada em sorrisos
Concreto no olhar
De duas faces

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Não estamos dispostos a perder!
(Ivandrey da Silva Rodrigues)

Deixar de lado o que nos proporcione prazer é missão quase impossível em nossas vidas, cada vez mais, Wi-Fi. Falta maturidade, talvez? Afinal, nem todo o prazer momentâneo é imprescindível. Na verdade, são os que mais nos cobram. Cobranças que de prazerosas nada tem, sendo o vício a maior delas.

Censurar instintos naturais, originários de um tempo irracional, se mostrou necessário e intrínseco a própria existência, sobrevivência e permanência do homem na era da razão. O desenvolvimento de um intelecto que não responde somente a estímulos ambientais, mas também respondem a anseios internos, a sua própria abstração cognitiva, sua crítica natural as suas atitudes naturais sem crítica.

Por tanto, existe uma felicidade, maior, pensada, organizada, constantemente, experimentada para nos manter a salvo de nós mesmos. Algo que só pode ser visto sob uma perspectiva de longa duração. Uma abstração holística, atemporal e constante. Afinal, o tempo é o senhor de todas as respostas.

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A BUSCA DO AMOR
(Maria José Silva Medeiros)

Ao caminhar pelo vale da vida,
O amor se encontrou com a alegria,
Que disse: junto de mim você pode continuar a ser assim tão alegre.
A alegria então diz: Posso um dia ter sido. Mas, sinto que não sou tanto
assim.
Posso até dizer que sou alegre. Mas, possa ser que diga de maneira
artificial para te agradar. Meu amor.
A mais uns passos ele tropeça com a tristeza, que estava a chorar na
calçada, então ele ajoelha e pergunta por que choras tristeza.
E ela diz: sai daqui, não quero saber de você, pois é por sua causa que
choro.
E mesmo assim, o amor a responde: vou estar sempre perto de você e
continuou a caminhar quando a viu  solitária.
A solidão que de tão sozinha somente olhou para ele, e dos seus olhos
escorreu uma lágrima.
O amor apenas balançou a cabeça.
E alguns passos, viu a paixão, que estava com tanta pressa, e falou para o
amor que estava apenas de passagem.
O amor contagiado com a paixão continua a caminhar sorridente, quando
encontra a amizade, que de tão alegre, abraça o amor de tanta saudade.
O amor e a amizade estão sempre juntos, pois é através de uma amizade
que nasce um grande amor.
É quando a riqueza corre em direção ao amor diz: toma, podes com isso,
comprar o que queres e joga na cabeça do amor todo dinheiro que tinha.
O amor simplesmente sorriu e saiu.
A vaidade quando viu tudo aquilo correu e disse aos berros, espera amor
que eu te arrumo!
A caminhar radiante o amor ver a sabedoria que junto de tantos livros,
Grita para o amor:
Ninguém é feliz sozinho, meu amor!
Fique você também sabendo disso.
A fé também grita e diz: Sei que queres saber de tudo. Mas, para ser feliz
é preciso também ter fé.
O amor fica a pensar…
Mas em uma coisa eu o amor concordo com a sabedoria:
Ninguém é feliz sozinho.
Mas eu, amor, sou amor. Mas, me sinto muito mais feliz
quando encontro a felicidade. Mas, amo amar, um amor correspondido.
Um amor que hoje não tem nome. Mas quando é verdadeiro tem até sobre
nome felicidade.

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PRECISO DA LUZ
(Noelma Cavalcante de Sousa)

Sinto-me tão alheia
A tudo que me rodeia
Meus pensamentos se enleiam
E minha alma cambaleia
Procuro uma estrela
Que ilumine o meu caminho
Preciso de uma candeia
Pela luz minha alma anseia
Não sei o que me falta
Mas sei o que me basta
Não preciso de realidade
Preciso é de verdade
Preciso sair das sombras
Para encontrar essa verdade
Olhar para o sumo Bem
E esquecer toda a maldade.

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Mulher
(Adriana de Fátima Araújo e Silva Melo)

De Ana à  Joana,
Encanta e espanta.
Moça bacana,
Olhar que acalanta.
Sois risos, sois lágrimas
Sois lírios, martírios.
Guerreira faceira,
Mulher brasileira.
Formosa, amorosa,
Se faz toda prosa.
Aurora charmosa,
Dos dias de outrora.
No laço te abraço.
Te caço, te acho.
És bela, faceira,
Mulher brasileira.

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DESCONFIANÇA
(Francisca Lopes)

Convém alguém viver
além da imaginação,
saciar a fome
só com café e pão?
Ouvir um rock
ou música pop,
quando a barriga
dança o samba
do crioulo doido?

Vejo crianças em casas simples
ou em mansões
que gastam mais horas

vendo  televisão  do que na escola.

Homens que usam seu tempo
de forma vil
fabricando programas
para deturpar a mente infantil.

Mulheres, primigestas ou não
que nunca assumem na vida
suas paridas.

Há tantos desenganos…
desencantos camuflados
em pés de calçadas
cobertos com jornais.

Enquanto isso acontece,
milhões de cédulas são gastas
para banquetear parlamentares
que discutem
o problema da fome
de barrigas fartas.

Questionam os sem-teto
em belíssimas mansões
E, os sem-terra;
em fazendas
que os olhos
não podem alcançar.
     
Ainda posso crer
numa sociedade corrompida
nos passos sutis
dos que levam
a luz do dia
tudo que tenho direito?

Olho-me no espelho
e nele não posso ver-me
porque sou
a própria desconfiança.

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(Pedro Vítor)

Meu corpo se estende até os cravos dos pneus Marcados pelos sinuosos caminhos de uma viagem sem destino, me banho com a brisa celeste e me alimento de paisagens de uma natureza viva! Meu corpo esta em constante movimento e o que parece sofrimento destituído de um proposito, pra mim é motivação! Meus batimentos marcam e mensuram minha felicidade em cima de uma magrela. Prazer, ciclista.

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(Vânia Maria)

Levantou poeira casco de cavalo
Na terra morna do sertão
Paisagens ofuscadas
Pelo pó das cinzas secas
Da fogueira passada
Sabugo de milho rolando no chão vermelho
E a boca saliva
Na fertilidade amarela do grão

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“Quase”

(Marília Macêdo)

Meu medo é passageiro. Quase como um familiar desagradável que de repente resolve te fazer uma visita indesejável. Quase como um colega. Do tipo insuportável, mas que se aguenta e tenta dar um jeito nele. Tenta se virar, até que se torne comum de se conviver. Quase. É quase como se a vida precisasse disso para “tomar” emoção. Quase. Por que alguém que se move pelo amor sentiria medo? É quase como se o amor fosse movido pelo medo. Quase. Perder alguém que se ama. Perder de todas as formas. Todas possíveis. O abandono. O escuro. O silêncio. O silêncio é quase de matar. É quase como se fosse proposital. É quase que uma dosagem errada de ansiedade. Quase. Algo que talvez ajude a aliviar isso, talvez seja o contato visual. Seus olhos nos meus, que é o que me conforta quando nada sai de sua boca. De medos mínimos e tão infantis, o meu maior medo é te perder. Te perder seria quase como quem perde a bússola enquanto caminha no meio do nada. Quase como um barco sem radar em alto-mar. Quase. Porque todo barco pode chegar na praia, uma hora ou outra (na melhor das hipóteses, claro). Mas é quase. Porque sei e sinto que isso não acontecerá. Porque não quero e nem vou deixar que aconteça. Então por quê o medo? Porque uma das coisas que movem o amor é a dose errada de ansiedade, que ainda não sei lidar. Mas se isso acontece, é porque eu te amo, e te amo demais.

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(In) delicada poesia.
(Adélia Danielli)

minha poesia
não tem pompa
não anda
de salto alto
não tem garbo
de difíceis
palavras
caminha
com pés
descalços
desce
ladeira abaixo
cantando
assanhada e suada
não desfila
elegante
pelas calçadas
tem perfume delicado
mas por vezes que
entranha
invade, corta
e sangra sem
a menor cerimônia.

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LIBERA ESSE SORRISO
(Babi Gallindo)

Libera esse sorriso.
Deixa ele rolar solto!
Deixa ele se mostrar ao mundo
– disse a vida.
Vamos, eu autorizo!

Menina do sorriso doce
e do olhar sereno.

Traz a paz de mil gaivotas
a dançar no ar,
contempladas com um abraço
e uma taça de vinho chileno.

Olha aquela moça a sorrir.
Que tem demais nesse
seu lindo existir?
Que fez a vida tão bela,
para que ela pudesse sorrir?
E a vida volta a repetir:
– Não tente entender.
Se te encanta e te fascina,
entre na onda.

Deixe-se envolver.
Deixe-se levar pela magia.
Deixe a moça sorrir,
deixe a moça viver…
Abra um largo sorriso
e lhe faça companhia.

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ASSIM É, SE LHE PARECE…
(Comandante Cleber Ribeiro)

        Assim será…
        A pujança do amor que acontece.
Que o fulgor do tempo não cesse.
As vicissitudes de um coração doente.

Assim é…
A bonança descrita nas minhas preces.
Que o rubor da minha face não expresse.
O sentimento que por ti se sente.

Assim é, se lhe parece…
Uma paixão imensa que me acontece.
Com a pureza eterna de um amor presente.

Se fosse assim…
Você seria só minha
Como se a mim pertencesse.
Você teria a minha vida
Como se só seu eu fosse.

E assim…
Eu residiria dentro do teu peito
Como se lá sempre eu estivesse.
E permaneceria como o tempo
Por mais “nãos”que o destino nos dissesse. Assim é, se lhe parece…

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Paz Interior
(Málvia Vasconcelos Maia)

Eu sonho com a paz dentro das estrelas
Eu vivo na paz dos meus olhos
Eu quero um mundo de paz, harmonia e alegria
Eu sou da paz, do amor e da alegria
Eu sonho com a paz nas ruas e nas estradas da vida
Eu vou levando a paz aonde não existe amor nem alegria
Eu sonho com crianças estudando e brincando na periferia
Eu quero paz, amor alegria e nostalgia.

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(Ícaro Valentim)

“ O fogo acalma, a água agita, o correto complica o complicado implica, a sociedade pensa, os seres humanos respiram, somos vivos por fora, gostaria de saber se somos vivos por dentro, nossas idéias nos definem, nossas definições nos mostram quem somos. ”

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Necessito de Deus
(Rafael Gomes)

Senhor eu parti em sua direção, mais tropecei e cai. Sentia-me
tão perto, mais na verdade estava muito distante, por favor,
senhor me conceda outra chance, preciso que me perdoe ou me
concedas forças para mudar tudo dentro do meu coração, eu sei
que não sou perfeito e nunca serei mais me conceda forças para
extrair das minhas fraquezas o melhor de mim, não me deixe
sozinho, pois, o caminho é longo, a cada passo quero que seja
ao seu lado, por favor, preciso de ti.

Concedes-me um coração como o teu, é tudo que eu preciso
neste momento, tira de dentro de mim tudo de errado, eu te
peço sinceramente que me perdoe, dá-me um coração igual ao teu.

Mansidão eu reconheço que preciso ter, mas necessito dos teus
conselhos e da tua graça na minha vida, para ser verdadeiro
eternamente. Sem você na minha vida senhor é como viver nas
sombras e na escuridão infinita. Tua voz me faz sentir arrepios
e tremer, então entendo que és poderoso, forte e suave como o
vento impetuoso que bate em meu rosto, se posso te fazer um
pedido, peço para que meu coração só possa aceitar sua
presença e te amar para sempre.

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Sobre a chuva

(Cleiton Ferreira)

a chuva
rasgou o céu
rasgou o chão
rasgou a face
e o sonhar.
rasgou a foice na cana
rasgou a carne na cama
rasgou um arco-íris no ar.
no meu sertão
o sol é no chão
e lá no árido seridó
onde a fome dá nó
a chuva é o pão.

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Candelária
(Oziel de Medeiros Pontes)

O conjunto habitacional que eu morei
só mora agora dentro de mim.
Nele, existiam tacos de madeira,
alegria e um tempo que passava devagar.
 
Crianças brincavam na rua.
Não havia montanhas de concreto
que tapam o pôr do sol.
As ruas eram tranquilas.
As pessoas não eram androides.

Ah! Tenho saudades daqueles tempos.
O campo de futebol de areia, que hoje são duas ou três grandes gaiolas,
era o palco para a diversão.
Saudades do primeiro beijo.
Saudades do concreto pulsando.

Hoje, ele está assentado sobre tudo isso.
É como se estivesse enterrada, debaixo das novas arquiteturas,
uma parte de mim que nunca morreu.
É como se, por baixo de todo aquele cimento e areia,
houvesse as minhas entranhas.

Por detrás dos espigões, a minha armadura.
Por detrás dos carros apressados, a minha alma.
Por detrás dos condomínios fechados, as minhas raízes.
Por detrás das ruínas da casa onde vivi, antigas lembranças.
 
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METAPOEMA
(Januário Wanderley)

Fazer
Desfazer
Refazer
Reconstruir
Reconstituir
Reinventar
A palavra

Ler
Desler
Reler
Recriar
Rebatizar
Redescobrir
Os sentidos

Compor
Decompor
Recompor
Restaurar
Resguardar
Restituir
A tessitura

Alinhavar
Descosturar
Remendar
Tecer
Coser
Tramar
O pano

Perseguir
Extrair
Esculpir
Expor
Descortinar
Libertar
O Poema

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“Um certo laço”
Daniel Wallace Pontes Jucá

Esse é o sentimento percebido
Quando dois seres em um só são unidos
Ainda no ventre, enquanto um se encontra recolhido e cuidado
Surge o extraordinário tão esperado
Não seria algo apenas incondicional
Não seria algo apenas desmedido
Não seria algo apenas sem igual
Seria o próprio infinito!
Bordado a partir da vontade de Deus
Por aquela que tem o poder de gerar
Fortalecido pela vontade de Criador
Para aqueles que não se podem separar
Criador e criatura, mãe e filho, linha e costura
Tecidos na mais bela formosura
Que somente Ele, o alfaiate da vida, o Deus da cura
Poderia ter tecido com a mais pura ternura
Essa é a ligação contundente
O elo do “para sempre”
Que dentro de um ser mortal e limitado
Depositou-se o amor mais extremado
… o amor de mãe, um certo laço!

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Paisagens noturnas
(Deiwis Ewerton de Melo Gomes e Silva)

aqueles que imaginam que a lua já teve pétalas
aqueles, que aquilo seja o botão da armadura de um deus
aqueles que anseiam viver por eras
aqueles, que esses sonhos sejam seus

que a luz do luar, que é a única que me banha
que chuvas noturnas espantam as estacas
que à noite, mesmo alerta, eu consiga amar
que seja a única oportunidade de fugir das amarras

rastejam entre mim os espectros de mil facas
rastejam entre mim as atrocidades suseranas
rastejam de forma familiar meus irmãos
rastejam em minha direção os anos de solidão

na manhã, se esconder
na noite, à soberania de sobreviver
na verdade, eu desejo te ter
na realidade, não adianta se esconder

noite, divindade dos amantes
noite, que me concede provisão
noite, tenha piedade
noite, podes me ganhar, então…

…é lua cheia, por isso me sinto tão bem.

*********************************************************

N A T A L
Lúcia Eneida Ferreira Moreira

Natal cidade praieira
De um povo acolhedor
Tuas belezas naturais
Transmitem paz e amor
Natal do Rio Potengi
De um doce e feliz remanso
Da curva do horizonte
Teu povo contempla o encanto
Natal onde eu nasci
Teu vento me acalmou
Teu sol me fez mais feliz
Teu luar me confortou
Natal Noiva do Sol
Do orvalho prateado
Aqui amadureci
Neste lugar abençoado

*********************************************************

(Jully Rocha)

É fardo do poeta
tecer tantos versos
com a espera
de que lhe decifrem.

E quantos versos nascem
sabendo que irão morrer…
Nos olhos semicerrados
de todos, que nunca
nem por análise
conseguem assumir
a maturidade certa
de uma rima…
O verdadeiro conteúdo
transvertido de metáfora.

É fardo do poeta
vestir-se de lira
Cantar ares, ser água.
Só pra ser visto terra…

*********************************************************

Por onde me perdi
(Lucas Sidrim)

Já te chamei de certeza,
Te odiei,
Naufraguei
Em tua correnteza.

Já me embriaguei de nós
Te amei a sós
Com aspereza
Ou com tristeza
Vi em teus olhos dois sóis.

E preso como a um anzol,
Por teu sorriso farol,
Por onde me perdi,
Não te esqueci
Te medi e (não) prometi
Ser teu.
Simples, ateu.
Escudo, espada, espelho,
Teu.

*********************************************************

ÂNIMA
(Mariana Teixeira)

A roupa e os cabelos
lavados ontem
que agora
cheiram a
trânsito e cansaço
Você
tira os sapatos
põe a chave no lugar
e é aqui que
ele surge
e te toma:
o olhar de
quem morreu
aos 26 engolido
pelas circunstâncias
ou pelo espaço
ou tempo
produto do meio
tempo

Lembro das notas
de Renato
alertando
pr’eu não pensar
que sou teu
num fusca 86
tatuado de Jean-Paul
você gostava de
ver o sol
em primeiras horas
e dizia:
só o céu
numa manhã
de março é
tão bonito
quanto essa
liberdade egoísta
pouco sadia
pouco adulta
e nossa
Ali éramos

Hoje
não mais te vejo
ou não enxergo
nada em ti
reconheço
meu bem
aqui do sofá
te busco há tempo
e ainda há.

*********************************************************

O AMOR
(Maria Alice Cesarino)
 

O amor vem sem falar
Vem através do olhar
Então foi amor que senti
Quando teus olhos começaram a brilhar
Nunca me imaginei assim
Ter você longe, mas perto de mim
Tudo mudou enfim
Os sentidos começaram a florir
Quando você se aproximou
Meu corpo se estremeceu
Minha mão gelou
Meu coração disparou
Meus lábios queriam até falar
Palavras de amor.
No enlace do nosso encontro
Foi que percebi
Que amor como esse nunca senti
E eu querer viver esses sentimentos
Com um final feliz

*********************************************************

Morna
(Maria Clara Mayumi)

Penso em ser várias
Muitas
Cheias
Gritar pros surdos
Dizer que viver assim
Não dá!

Sendo
Uma
P
o
u
c
a
V a z i a
Pra não dizer: oca.

Na inconstância
De ser o que me cabe
Ser?
Mas o que fazer
Se o que me sobrou
Foi esse abismo
Que eu mesma cavei
Nas várias manhãs de Sol
Que – com amor – me foram dadas
E eu na insensatez
De me contentar (só) comigo mesma

Deixei as noites me calarem
Dormi
No ponto
Em mim.

Dizem que faz parte
Essa coisa de uma hora
Tudo ficar normal
Morno
Mas que normal o quê!
Que os deuses me livrem disso

Já não me basta:
A correnteza
A ventania
A vida
Todas insistindo em me levar
Pra onde eu não sei
Mas todos estão indo
Sinal de que não devo ir.

*********************************************************

O Amor

(Vinicius Felipe)

O amor é alegria, o amor é inspiração, o amor é a sabedoria, o amor é o coração.                 Uma sensação inexplicável, um sentimento memorável, quando amamos não existe um, e sim dois. Quando amamos os corações dos dois se torna um, a alma se torna única e a lembrança vira uma passagem para a vida inteira. Com o amor a tristeza vai embora e a alegria bate na porta e é com essa paixão que temos um motivo para viver. O amor é o segredo da felicidade, é o inverso da falsidade e a esperança da igualdade. O amor é a lembrança, é a esperança, e a segurança que temos em nossas memórias. Simplesmente o segredo da vida é o AMOR.              

*********************************************************

(Igor Oliveira)

O ato de voar sentado
De sonhar acordado
O ato de ser estimado
O ato da consciência firmada!
Estando a tocar
Uma mão na outra
Com o entrelace vivenciar
Viajar…
Eu e você
Juntos,
Na nossa imaginação,
Voar.

*********************************************************

Rascunho
(Ana Paula Souza)

Deixe eu me entregar,
falando baixinho, sorrindo em segredo.
Esteja atento, esteja sem medo.
Observe o meu pulso segurando canetas
ou teclando ligeira a me denunciar.

Não sei escrever em versos.
Talvez eu devesse aprender, o que me diz?
Minhas linhas se estendem  mais do que pensei
ou quis.
Meus pensamentos, na verdade, são maiores e atravessam.

É uma tentativa vã, eu sei.
A poesia tem regras, as quais eu já dispensei.
Prefiro versos em prosa. Perceba.
Pode julgar, pode me renegar.
Pode até tentar.

Não preciso me envergonhar de pensar em linhas corridas. Nem todos tem aquilo que desejam – e quem disse que eu desejo ser o estereótipo da poetisa?
 
Apenas me enxergue como sou e como busco transmitir aquilo que não ouso dizer. Para além da forma, quero conteúdo, então abra os olhos e permita-se ler.

Leia-me.
Porque de todos os meus versos, letras, cadernos.
De toda minha imagem, do que sou ao extremo interno
Toda a obviedade que eu não deixo transparecer.

Creia-me.
Minhas letras.
Todos os meus versos em linhas extensas
Estão, mesmo sob o véu da minha consciência, recheados de você.

*********************************************************

Desilusão
(Beatriz Oliveira)

Quando me perguntavam se eu acreditava no amor
Eu dizia que sim
Mas agora,uma parte de mim
Não está nem aí

Já sofri de mais
Agora,eu só quero paz
Para libertar meu coração
Ser feliz e nada mais

*********************************************************

LUAR
(Josimar Tavares de Medeiros)

Na escuridão…
Uma luz brilha
bela, bonita
contemplando as estrelas
inspirando o coração.

Luar…
acima do mar
Em só lugar
olhares
abraços,
orgasmo
gemidos e sussurros.
Prontos a amar.

No silêncio da noite
Só você a testemunhar.
a união
de raças,
cores,
sexos
De vários amores…
Só você Luar.

*********************************************************

TENHO SAUDADES
(Pablo Daniel)

“O meu hoje esta diferente do meu ontem
Estou com falta das minhas historia
Dos meus contos de amor

Saudade das terras que deixei
Saudade das vezes que la fiquei
Mas saudade mesmo estou do meu amor

Sinto falta de pessoas que fui conhecendo
Lembranças que fui esquecendo
Amigos que acabei perdendo
Mas continuo vivendo e aprendendo

Vivendo de saudades
Vivendo de lagrimas
Lagrimas que escorrem em meu rosto
E cai sobre minha alma

Alma marcada por traços
Tracos que corta meu coração
Mais ainda estou vivendo de paixão”

*********************************************************
#ALBUM-5575#

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