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Leilão de energia frustra o mercado

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Andrielle Mendes – Repórter   

“Um leilão para ser esquecido, e rápido”. Foi como a presidenta da Associação Brasileira da Energia Eólica (ABEEólica), Élbia Melo, se referiu ao leilão de energia  A-5 2012 realizado ontem pelo governo federal. Só 12 dos 525 projetos habilitados, incluindo todas as fontes de energia, foram emplacados. Dos 14.181 megawatts (MW) ofertados pelos projetos, de maneira global, foram contratados apenas 574,3 (MW). O restante ficou em stand by – à espera de um novo leilão. A energia eólica foi a fonte que mais aprovou projetos: 10, com oferta de 281,9 MW. O resultado, porém, ficou longe do esperado. “Nem a nossa projeção mais pessimista mostrava um número tão baixo. Esperávamos um número menor, mas este nos surpreendeu”, afirmou Élbia, presidente da ABEEólica.
Parque eólico no Rio Grande do Norte: Estado, que já foi destaque nos leilões de energia, perdeu espaço e, segundo analistas, está com sinal de alerta aceso há tempos
O Rio Grande do Norte, que é líder em capacidade de geração instalada até 2016, não conseguiu emplacar nenhum dos 94 projetos que havia habilitado, e ficou fora do alvo dos investidores no único leilão que incluiu eólica este ano. O fato de o RN não ter emplacado nenhum parque, diferentemente do que vinha ocorrendo nos outros leilões, não dever ser visto como um fiasco, afirma Élbia. “Na verdade, o RN se saiu bem. O estado viu que o preço não cobria os custos de produção e ficou de fora”, afirma.

Jean-Paul Prates, ex-secretário estadual de Energia e presidente do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (Cerne), pensa diferente. “O RN está com o alerta ligado faz tempo. Desde o último leilão, a luz está acesa. O estado tem que recuperar este prejuízo, mostrar que ainda é inviável investir aqui. A demora na instalação das linhas de transmissão pegou mal. A Chesf está atrasando a instalação e o governo do estado não cobra. Nada acontece. Parece que agora é cada um por si. O RN tinha um diferencial competitivo. Agora está igual aos outros estados, com o mesmo potencial. O estado tem que acordar”, afirmou.

O número de parques eólicos instalados é diretamente proporcional ao dinheiro investido no estado. Quanto mais parques, mais empregos gerados e mais recursos investidos. O RN, que aprovou mais projetos do que os outros estados num primeiro momento, perdeu várias posições nos últimos leilões. O crescimento modesto da economia – e a baixa demanda por energia elétrica – foi o grande responsável pelo resultado. Mas não explica tudo.

“Antes a energia eólica era tratada como prioridade no estado. Agora é mais um assunto abandonado entre tantos outros na pasta de Desenvolvimento Econômico”, afirma Jean-Paul. Élbia e Prates preferiram não classificar o leilão como um ‘fracasso’. “Ele só não serve de parâmetro para nada”, completou Élbia, em entrevista à TRIBUNA DO NORTE.

Não é só o número reduzido de projetos aprovados que preocupa. O preço de geração da energia – sobretudo da eólica – também é motivo de preocupação, segundo a ABEEólica. O preço de geração da eólica (R$ 87,94) atingiu o menor patamar desde 2009, quando a fonte passou a disputar espaço na matriz energética. O ideal era que o preço tivesse ficado em torno de R$ 122, considerando as correções monetárias e o comportamento do câmbio, afirma Élbia Melo, presidente da ABBEólica. “O preço definitivamente não cobre os custos de produção. É um preço preocupante”. Segundo Élbia, a preocupação só não é maior “porque o número de empreendimentos aprovados não é relevante”. Ela confirma que há risco de alguns projetos não serem concretizados e afirma que a tendência é que os números de 2013 sejam melhores. “A expectativa é que o Produto Interno Brasileiro, termômetro da economia, volte a crescer a taxas de 4%, aumentando a demanda por energia”, estima.

Distribuidoras pressionam demanda

São Paulo (AE) – O leilão realizado ontem foi o primeiro após a Medida Provisória nº 579 – de renovação das concessões. Mas o motivo do baixo volume de contratação não pode ser entendido como uma retração do investidor. O que houve foi uma demanda menor das distribuidoras, que estão sobrecontratadas, disse a empresa de Pesquisa Energética (EPE).

O volume de energia negociado somou R$ 6,04 bilhões e o preço médio ficou em R$ 91,25 o MWh, com deságio de 18,52%. “Tivemos usinas eólicas, termoelétricas a gás e usinas a biomassa disputando até o final do leilão”, afirmou o presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, destacando que esse fato gera uma tranquilidade ao governo federal de realizar novas licitações já no começo de 2013.

Três fatores explicam a procura menor que o previsto. Primeiro porque as concessionárias têm energia contratada acima do que está sendo consumido pelo mercado nacional. O segundo ponto está associado ao baixo crescimento econômico – o que afeta as projeções de demanda futura das distribuidoras. Por último, tem o efeito da MP 579. Cada concessionária vai receber uma cota, mas elas ainda não sabem qual é, explica Elbia Melo, da ABEEólica.

“A oferta foi 28 vezes superior a demanda. Isso só poderia levar a um preço muito baixo.” Na avaliação dela, é difícil imaginar que uma parque eólico a R$ 87,87 o MWh consiga remunerar os investimentos. O preço praticado no leilão de dezembro, de R$ 105 o MWh, corrigido pela inflação e com a nova taxa de câmbio, hoje representa R$ 121 o MWh, diz ela. “Isso nos leva a uma preocupação muito grande.”

Tolmasquim, no entanto, comemorou. Segundo ele, o leilão mostrou que a MP 579 não afetou o apetite dos investidores. “Eles sabem que o investimento em energia nova é diferente da renovação das concessões.” O executivo destacou ainda o leilão foi disputado tanto por empresas estatais quanto privadas, de capital nacional ou internacional. “O leilão foi disputado pelas empresas federais e as estaduais, como a Cemig e a Copel. O setor elétrico brasileiro é atrativo e existe oferta. A MP não afugentou os investidores. Posso falar tranquilamente isso.”

Empreendimento da EDP  vende pelo menor preço

São Paulo (AE) – O leilão de energia nova que contratou a demanda do mercado cativo em 2017 (A-5), o primeiro grande teste do setor elétrico após a assinatura dos novos contratos de concessão, teve como preço mais alto de venda R$ 95,31/MWh, da usina Cachoeira Caldeirão, cuja concessão foi arrematada pela EDP. Já o valor mais baixo do certame foi de R$ 82/MWh da expansão da hidrelétrica Santo Antonio do Jari, pertencente também à EDP.

Destaque nesse leilão foi o desempenho das usinas eólicas, cujo preço de venda da energia variou entre R$ 87,77/MWh (sete usinas da Bioenergy no Maranhão) e R$ 89,20/MWh da empresa EGP – Serra Azul. O preço médio para a fonte eólica foi de R$ 87,94/MWh, o preço mais baixo nas histórias dos leilões de energia já organizados pelo governo para esta fonte. O recorde anterior era de R$ 99,54/MWh do leilão de energia de reserva de 2009. O preço médio de venda da fonte hidrelétrica foi de R$ 87,94/MWh. O preço-teto do certame era R$ 112/MWh.

No lado dos compradores, a Copel Distribuição foi a que contratou o maior de volume de energia, 8,776 milhões de MWh. A segunda maior compradora foi a Celg, com 7,899 milhões de MWh, seguida pela RGE, comercializando 6,591 milhões de MWh. Os contratos de eólica terão duração de 20 anos, começando em janeiro de 2017, enquanto que os contratos das hidrelétricas terão duração de 30 anos, também começando em janeiro de 2017.

Bioenergy

A Bioenergy, que conta com dois parques eólicos em operação: Miassaba 2 e Aratuá 1, ambos no Rio Grande do Norte, conseguiu vender 70% do volume de eólicas contratados no leilão A-5. Os projetos serão executados no Maranhão. O preço médio, considerado baixo por alguns participantes, parece não ter desestimulado a empresa, que é uma das pioneiras do setor e foi uma das primeiras a instalar parques no RN. “Os fatores de capacidade dos nossos projetos no Maranhão estão entre os maiores do País, o que nos propicia uma vantagem competitiva considerável”, justificou Sérgio Marques, presidente da Bioenergy. A Bioenergy é a única geradora do Brasil que vendeu energia em todos os leilões promovidos pelo governo, inclusive no ambiente do Proinfa. Ao todo, a eletricidade comercializada pela empresa nesses certames soma 804,4 MW em parques eólicos, recorde absoluto no setor.

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