Por Por Lynne O’donnell
Associated Press
Cabul, Afeganistão – Quando o carro do jornalista Hussain Sirat desapareceu, no final de dezembro, ele pensou que havia sido um simples roubo. Até que um homem telefonou para ele dizendo estar com o seu veículo e com uma arma com a qual pretendia matá-lo.
Nas semanas seguintes, Sirat, editor do maior diário afegão, o 8AM e que também trabalha para a rede alemã Deutsche Welle, foi atacado nas ruas e recebeu mensagens de texto que o acusam de ser um “infiel”. Ele acredita que a acusação esteja relacionada ao fato de trabalhar para a empresa de comunicação da Alemanha.
“Eu não me sinto seguro”, disse ele. O jornalista de 33 anos se mudou para uma casa mais protegida, longe da mulher e dos cinco filhos, que têm medo de sair na rua. Nem a polícia, nem os serviços de segurança têm sido capazes de encontrar as pessoas que o ameaçam. “Eles não podem fazer com que me sinta nenhum pouco mais seguro”, afirmou.
Oito jornalistas foram mortos no Afeganistão em 2014, o que fez do ano o pior para a mídia desde 2001, quando a invasão liderada pelos Estados Unidos derrubou o Taleban, dizem grupos de defesa dos direitos humanos.
Quando cobria a eleição presidencial do ano passado, a fotógrafa da Associated Press Anja Niedringhaus, de 48 anos, foi morta a tiros e a repórter Kathy Gannon, de 60 anos, ficou seriamente ferida após o ataque de um policial afegão na cidade de Khost, perto da fronteira com o Paquistão. O homem que as atacou recorre da pena de morte à qual foi sentenciado.
A liberdade de imprensa no Afeganistão tem sido elogiada como um dos maiores conquistas desde a invasão de 2001. Atualmente, cerca de 1.000 organizações de mídia estão em operação, em comparação com apenas 15 que funcionavam sob o governo extremista do Taleban.
Mais de 40 jornalistas foram mortos desde então, segundo a Nai, uma organização de apoio à mídia com sede em Cabul. Muitos repórteres se sentem pressionados pelo governo, pelos insurgentes e por senhores da guerra corruptos para que se autocensurem e, dessa forma, evitar problemas. A alternativa seria deixar totalmente o jornalismo.
“Não há dúvidas de que as coisas estão piorando”, disse Abdul Mujeeb Khalvatgar, diretor executivo da Nai. Incidentes de violência, ameaça e intimidação subiram 65% em 2014 na comparação com 2013, afirma ele. O assassinato de jornalistas mais do que dobrou em relação ao ano anterior, quando três foram mortos.
O Human Rights Watch, organização sediada em Nova York, divulgou um relatório recentemente com o título “Pare de fazer reportagens ou mataremos sua família”. Segundo a entidade, os que cometem atos de violência contra jornalistas raramente são punidos, o que reflete uma “ampla impunidade e fracasso em estabelecer o estado de direito no Afeganistão”.
“Os jornalistas afegãos enfrentam ameaças de todos os lados: funcionários do governo usam as frágeis proteções legais para intimidar repórteres e editores para obrigá-los a não cobrir temas controversos; o Taleban e outros grupos insurgentes usam ameaças e violência para obrigá-los a retratá-los de forma que eles consideram favorável; e policiais e funcionários da Justiça permitem que ameaças, ataques e até mesmo assassinatos fiquem sem investigação e sem processo judicial”, diz
A maior parte dos atos de violência e intimidação acontece fora da capital, Cabul, “longe da concentração de holofotes dos meios de comunicação nacional e internacional”, afirma a pesquisadora do HRW, Patricia Grossman. “Nada nunca foi feito contra os que tem realizado ataques há mais de doze anos”, diz ela. “Eles continuam a fazer essas coisas sem medo ou sem serem responsabilizados.”