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Liminar garante reabertura de festa

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Ricardo Araújo
Repórter

Um dia após a interdição  judicial histórica que deixou os portões do Parque Aristófanes Fernandes fechados por mais de 24h em plena Festa do Boi, comerciantes, expositores e a própria Associação Norte-Riograndense de Criadores (Anorc) tentavam contar o prejuízo  acumulado, mas não tinham certeza se chegariam a um valor definido. Somente na madrugada de ontem, a Anorc conseguiu derrubar, por força de liminar, a decisão judicial que culminou na interdição do Parque. No início da manhã, os portões foram reabertos ao público e a programação do evento retomou seu curso normal. Para alguns comerciantes, porém, a Festa do Boi 2015 terminou ainda na segunda-feira passada, cuja comemoração montada para o Dia das Crianças foi ofuscada por atos de vandalismo e violência durante protesto realizado por populares no trecho da BR-101 em frente à feira.
Alguns bares ainda continuavam interditados ontem a tarde
“Ainda não temos como mensurar o valor do prejuízo. Iremos tentar compensar nos próximos dias”, avaliou um dos diretores da Anorc, Alexandre Chaves. Ele destacou, ainda, a possibilidade do evento ser estendido por, pelo menos, mais dois dias para que as perdas dos comerciantes, principalmente, possam ser mitigadas. Ainda não há, porém, definição sobre esse assunto. Em relação à interdição judicial, o representante da Anorc, que é a responsável pela organização do evento, reconheceu que isso “nunca havia acontecido antes” e fez ‘mea culpa’ ao apontar que “a cada dia que passa, tudo se moderniza e adequações são feitas”.

Alexandre Chaves comentou que a Anorc não foi comunicada pelo Corpo de Bombeiros Militar (CBMRN) das mudanças que necessitavam ser efetuadas para ideal funcionamento do Parque. Ontem, o CBMRN esclareceu via assessoria de imprensa que  a interdição ocorreu pois, em vistoria, foi identificado que a estrutura montada pela Anorc estava em desacordo com o projeto apresentado ao órgão e aprovado. Além do que a estrutura fixa do Parque apresentava problemas na central de gás e na rede de hidrantes, o que impedia a liberação do Atestado de Vistoria (AVCB).

Já os sistemas móveis de proteção (como extintores e iluminação emergencial) não estavam instalados em sua totalidade, ou estavam de maneira divergente do aprovado, segundo o CBMRN. Parte da rede de hidrantes estava obstruída, impedindo a sua plena utilização. Algumas estruturas metálicas foram instaladas em frente aos hidrantes, impossibilitando usá-los em caso de incêndio. Já as bombas de incêndio da rede não tinham vazão adequada, nem estavam funcionando no modo automático, como prevê o Código de Segurança e Prevenção Contra Incêndio e Pânico do RN.

A estrutura da central de gás que alimenta bares e restaurantes estava localizada em área indevida. Um estabelecimento montou a central dentro da cozinha, não obedecendo à recomendação de segurança, segundo relatório apresentado ao Ministério Público e à Justiça. Havia ainda quadros elétricos expostos em alguns locais do parque.

#SAIBAMAIS#Segundo assessoria do CBMRN, os problemas referentes a parte elétrica foram resolvidos durante a segunda-feira e liberados. Já para rede de combate a incêndio, a organização da Festa do Boi seguiu recomendações do próprio Corpo de Bombeiros. Como os problemas da rede de hidrantes não seriam resolvidos de um dia para o outro, a Anorc apresentou medidas para substituir provisoriamente essa necessidade, como o aluguel de três carros-pipa.

Interdição gerou insatisfação e protesto em frente ao Parque
Insatisfeitos por não terem entrado no Parque Aristófanes Fernandes na segunda-feira, Dia da Criança, centenas de populares decidiram protestar. Após tentarem derrubar os portões de acesso à feira e serem impedidos por policiais militares que estavam dentro do complexo de exposições, eles usaram os gradis colocados nas cercanias do Parque para impedir o tráfego de veículos na BR-101 Sul. Por pouco mais de uma hora, o trânsito ficou interrompido e causou filas nos dois sentidos da via com mais de três quilômetros de extensão cada. Incitados pela população, adolescentes comandavam os atos de vandalismo e, por diversos momentos, xingavam os policiais militares e rodoviários federais que tentavam resolver a situação.

A confusão só foi contornada com a chegada de reforço policial. Duas viaturas da Polícia Rodoviária Federal e policiais militares da Rocam liberavam alguns trechos interditados com os gradis e tentavam convencer os populares que aquela não era a saída adequada para a ocasião. Em outro ponto, os adolescentes com os rostos cobertos discutiam outros policiais até que um deles, da Polícia Militar, sacou uma arma. Outro da Polícia Rodoviária Federal chegou a acionar a pistola taser, que dispara choques elétricos. Nenhuma das armas, contudo, disparou.

“Paguei R$ 50 de taxi, de São Gonçalo do Amarante até aqui. E mais R$ 24 pelos ingressos. Estou decepcionada e com medo. Não sei volto esse ano nessa festa”, destacou a dona de casa Valdirene de Sousa, que estava acompanhada da filha. A menina de seis anos estava desapontada e não parava de falar no show que não assistiu. “Estou muito triste. Queria ver o show”, repetia Valdelayne de Sousa. Ambas ficaram acuadas no muro do Parque Aristófanes Fernandes enquanto populares e policiais discutiam a desobstrução da via.

Somente com a apreensão de dois adolescentes, a situação foi contornada. A assessoria de imprensa da Polícia Rodoviária Federal confirmou que durante a manifestação, quatro pessoas foram presas. Destas, duas pessoas foram detidas por desacato e agressões a policiais, quando jogaram pedras e grades nos inspetores que organizavam o fluxo na BR-101.

Doze bares ainda continuavam interditados ontem
Pelo menos 12 bares e restaurantes, barracas, quiosques de sorvetes e até selarias ainda estavam interditados até o fim da tarde de ontem.  Vistorias diárias serão realizadas pelo Corpo de Bombeiros até o fim  da Festa do Boi, marcado para o próximo domingo, 18 de outubro. “Tudo está se adequando e se organizando”, destacou o representante da Anorc, Alexandre Chaves.

Sobre os problemas apontados no relatório do Corpo de Bombeiros Militar, ele destacou que todas as recomendações foram aceitas e os pontos desconformes foram ajustados. A Anorc, entretanto, não assumiu para si os erros que levaram à interdição do Parque Aristófanes Fernandes, tampouco detalhou se irá recompor as perdas dos comerciantes e expositores. “Todos os lojistas compreenderam e foram  solidários”, frisou Alexandre Chaves.

Prejuízos
A interdição judicial ao Parque Aristófanes Fernandes não causou um prejuízo maior aos organizadores e empresários, pois o único leilão marcado para o dia 12 de outubro havia sido cancelado às vésperas da realização. O promotor do leilão Nuleite, que incluiria raças girolando, gir e holandesa esclareceu que alguns proprietários não confirmaram participação antecipadamente e o evento deve que ser cancelado. ‘Foi por Deus. Senão, o prejuízo seria pior”, frisou Ricarte Procópio.

O Governo do Estado, através da Secretaria de Estado da Agricultura, da Pecuária e da Pesca (Sape), foi procurada para comentar os reflexos da interdição nos negócios programados para a Festa do Boi. A assessoria de imprensa da Sape, porém, informou que somente a Anorc se posicionaria sobre o ocorrido. O Governo do Estado destinou R$ 1,3 milhão para as feiras agropecuárias em 2015, incluindo a Festa do Boi, a maior delas.

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