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Limite

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Dácio Galvão
[Mestre em Literatura Comparada, doutor em Literatura e Memória Cultural/UFRN e secretário de Cultura de Natal]
É fato que nossa produção poética-literária tem inserção na linha tênue da tradição da ruptura.  Em Câmara Cascudo (Não Gosto de sertão Verde) e Jorge Fernandes (Rede). Há vários quase-estudos sobre o escritor José Bezerra Gomes. Resenhas críticas-biográficas, anotações, trabalhos acadêmicos… Manoel Onofre Júnior, Luís Carlos Guimarães, Moacy Cirne, Tarcísio Gurgel, Hélio Dias Furtado, Victor Azevêdo… se interessam pela vida-obra de JBG.
Romancista, ambicionou a construção de ambiência literária atrelada ao universo do Ciclo do Algodão. Em terras do sertão potiguar. Expectativa regionalista não consolidada. Os romances: Os Brutos, Por Que Não se Casa, Doutor? -recentemente reeditado por Abimael Silva via Sebo Vermelho- e, A Porta e o Vento, figuram nos destaques autorais. Foram opções de publicações na narrativa ficcional.   Gurgel o definiu inquieto “…puro que sucumbe em meio a esse turbilhão de problemas, submergindo e emergindo da loucura, sem saber, eterno inseguro, a que colo recorrer: se a da mãe/nossa senhora, se o da amada/prostituta ou mesmo o que parece mais provável, o da mãe-terra, para o descanso definitivo.”  
JBG realizou intensa e diminuta produção de poemas radicais. Inventividade qualitativa. O apanhado pioneiro que Cirne fez dos seus poemas-minutos -de concisão poética oswaldiana- não é concessivo. O contexto daquele momento seletivo considerava cortes sincrônicos jakobsonianos. Perpassava aos poemas semióticos da poesia concreta e da não verbalização de poemas-processos. Teorias e espaços históricos em discussões. A condensação linguística e as ressonâncias semânticas de Limite / Voo / Diálogos / Todos e a monotonia de Sempre Sábado -poemaços- receberam leituras e consequentes oralizações na altura das respectivas tensões. Na interpretação-performance de Leonora de Barros somada ao tratamento sonoro elaborado por Cid C. Estão livres nas plataformas de streamings. Barros é a artista visual autora da instalação Ping-Poema para Boris Schnaiderman. Homenagem ao ensaísta judeu ucraniano, no Sesc Pompeia-SP. Ele fora fundamental na edição dos livros   “Maiakóvski: Poemas” e “Poesia Russa Moderna”. Ambos em parceria tradutória com os irmãos Augusto e Haroldo de Campos.
Quase trinta anos após -poemas de JBG são do início da década de 1930- o poeta Luiz Rabelo executa o livro O Espaço Concretista-1957. Nele o poema “Lãmina”. Em linha evolutiva. Foi objeto de leitura experimental dos artistas paraibanos Pedro Osmar e Paulo Ró. Em duas versões. A primeira sugerindo ruídos e grunhidos. Na segunda, vociferação repetindo a sílaba inicial -lã-. Em seguida ocorre a pronúncia completa e dialógica do neovocábulo ‘lãmina’! Ocorre sob sons de rápidos movimentos de aço. Vergado por ventos. Sons extraídos por giros da mão em 360º rodopiando mangueira de regar jardim. Conferir audição nos streamings.
Esses estranhamentos literários multimidias, legados de influências vanguardistas históricas europeias do século passado estão cada vez mais cambiantes. Paradoxalmente, no estabelecido canônico em termos de narrativas. Valendo inclusive para a prosa de Guimarães Rosa e poética de João Cabral de Melo Neto. Ou seja, uma faca nunca foi e não será só lâmina! Nem primeiras estórias! 
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