Tádzio França
Repórter
Sem tarja preta, pudores, e nenhuma culpa castradora, será lançado no próximo dia 03/12, uma quarta-feira, o livro “Entre dedos…”, coletânea de contos eróticos da Caravela Selo Cultural, assinada só por autores locais. Será no Café Salão Nalva Melo, na Ribeira, às 19h. Na ocasião também será aberta uma exposição com as ilustrações do livro, feitas por José Clewton do Nascimento. A compilação foi organizada pelo editor José Correia Torres Neto, proprietário do selo. 
O livro traz 17 contos de autores variados, nem todos profissionais da escrita literária. José Correia apostou em seu ‘feeling’ na convocação. “São, na maioria, amigos meus. Convidei todos, mas tendo a perspectiva de que eles seriam capazes de me entregar um bom material na temática proposta”, afirma. Na ‘orgia’ de letras entraram escritores, jornalistas, cineastas, professores universitários, músicos, psicólogos, entre outros que escrevem apenas por prazer, numa libertinagem saudável de ideias e estilos.
“Os autores tiveram total liberdade para escrever sobre e como quisessem dentro do tema erótico. Cada um fez na sua forma e no seu estilo, cada conto oferece um caminho diferente”, explica. Os autores são João Andrade, Cristiano Félix, Dora Cruz, Kaline Sampaio, Jeanne Araújo, Aparecida Fernandes, Jania Souza, Lola Santos, Cefas Carvalho, Eliade Pimentel, Maria Marcela Freire, Maria Maria Gomes, Fábio DeSilva, Sheyla Azevedo, e o próprio José Correia Torres Neto.
Diversidade sexual
Na literatura, assim como no sexo, “vale tudo” – se as partes envolvidas estiverem de acordo, é claro. No caso, os autores e seus respectivos textos exploraram variadas nuances da sexualidade humana. “Tem contos hétero, homo, bi, sobre masturbação, etc. A linguagem também varia, desde as mais poéticas e metafóricas, até as mais explícitas. São relatos que surgiram da imaginação, da vivência ou das fantasias dos autores”, explica. Os contos são curtos, rapidinhos.
Apesar de o erotismo na literatura viver um momento quase pop (vide o sucesso de “50 tons de cinza”), José Correia afirma que o tema ainda envolve algum preconceito e certo…pudor. “Há quem ainda se sinta ofendido por esse tipo de material. Acredito que seja algo relacionado à religião ou à educação da pessoa. Mas o que estamos trabalhando é com literatura, não é uma receita de vida. A literatura oferece a possibilidade de se fazer tudo dentro de sua subjetividade. São apenas histórias”, analisa.
A ideia para “Entre dedos…” nasceu quando José Correia quis dar sequencia ao lançamento de uma nova coletânea de contos, algo que ele já tinha feito em “Travessa da alfândega” (2011), um livro cujo tema é Natal, a capital potiguar. “Eu precisava de um mote para o segundo livro, um assunto que chamasse a atenção de todos. Portanto, tinha que ser sexo”, diz. A Caravela Selo Cultural existe há seis anos. Já lançou crônicas, poesia, biografias, memórias, contos. A nova coletânea é a 32ª publicação da casa.
Trechos
“Ele tirou da estante um livro de Anais Nin. “Delta de Venus”. Abriu, leu uns trechos, escolhidos a dedo, claro. Ela riu, apertando os olhinhos pervertidos e provocantes. Sabia quais as intenções dele com aquilo. Também eram as intenções dela, ao pedir que escolhesse um livro na estante cheia deles. Sabia que ele possuia — danado como era — de Marquês de Sade a Henry Miller, de Grgório de Mattos ao Drummond mais picante….”
(“Delta de Vênus”, de Cefas Carvalho)
“Faço gozar beijando”. O anúncio discreto de jornal deteve os olhos de Adelaide em meio a carros, apartamentos e chipes de celulares com promoções imperdíveis. Balzaquiana, pero no mucho, pele trigueira, cabelo castanho e bem cuidado, corpo recém-esculpido por aulas de pilates, a professora universitária não fodia havia pelo menos um semestre letivo. Talvez por que estivesse folheando um jornal numa sexta-feira à noite…”
(“O beijo”, de Kaline Sampaio)
Serviço:
Lançamento de “Entre dedos…”.
Quarta-feira (03/12), às 19h, no Café Salão Nalva Melo, Ribeira.
Preço: R$40.
