A observação de tempestades e o uso da eletricidade emanada desse fenômeno para transformar a realidade. O princípio – que em um primeiro momento pode ser atribuído ao cientista americano Benjamim Franklin e a sua pipa – tem aplicação prática e revolucionária na forma de fazer ciência com o neurocientista Miguel Nicolelis. O ambiente nesse caso, nada tem com a agitação violenta da atmosfera, acompanhada muitas vezes de relâmpagos, trovões, chuva e até granizo. É do cérebro e suas conexões com a tecnologia que o indicado ao Prêmio Nobel trata em suas pesquisas e no livro “Muito além do nosso Eu – A nova neurociência que une cérebros e máquinas e como ela pode mudar nossas vidas”, lançado na noite de ontem, no Teatro Alberto Maranhão.
“É uma verdadeira tempestade cerebral e o maior desafio é ler, registrar e interpretar esses sinais elétricos, capazes de transformar a nossa ideia de eu. Só o universo tem a complexidade, beleza e feitiço comparado ao cérebro”, define o cientista. E quem esteve no Teatro não só foi apresentado ao poder e funcionamento dessa tempestade como pôde ouvir o som, que ela emite. Um áudio das vibrações de células corticais foi exibido. A pesquisa consiste em analisar o comportamento de cada célula. A complexidade do estudo, ilustra o cientista, é como estudar a floresta amazônica a partir de cada árvore.
Durante a conferência, Nicolelis falou como as pesquisas sobre o cérebro e o sistema nervoso estão mudando a concepção de realidade, a partir conexão cérebro-máquina. Essa interface transforma a capacidade de expansão das ações motoras, a partir de um estímulo visual, mesmo que à distância.
Para o cérebro, a bola que rola no pé do craque de futebol, o carro que você dirige e artefatos, como os usados nas pesquisas, podem ser entendidos como extensão do corpo humano. “A ideia é libertar a atividade do cérebro das limitações do corpo físico”, afirma.
E para quem acha que isso não é possível ou está reservado a um futuro distante, o Professor da Universidade de Duke e co-diretor do Centro para Neuroengenharia da instituição, nos EUA, prova o contrário. Com uso de artefatos computacionais e mecânicos, um primata, a macaquinha Aurora, usando somente o cérebro, estando nos EUA, fez uma robô andar no Japão. O experimento ocorre a partir da decodificação de estímulos elétricos emitidos pelo cérebro do primata e decodificados pelo robô CB1. “O futuro já chegou”, disse.
A aplicação serve de base para os estudos, coordenados pelo fundador e diretor-científico do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINNELS), para que pessoas com alto grau de paralisia voltem a andar.
“Esperamos com isso garantir o direito alienável de todo cidadão de poder navegar, se locomover pelo mundo real que o cerca”, disse.
* Matéria alterada para correção ortográfica.