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Livros estão encaixotados há um ano

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Quatro mil livros, dois computadores, televisão, aparelho de som, cadeiras, circuladores de ar, aparelho de DVD, estantes, mesas. Uma estrutura completa, orçada em R$ 53 mil, que integraria a biblioteca municipal de Poço Branco, há um ano e meio se encontra embalada, empilhada em caixas, dentro de uma sala da Secretaria Municipal de Educação, sem qualquer utilidade. Para o responsável por conseguir a doação, uma prova da falta de atenção da Prefeitura com a educação municipal. Para o prefeito, um reflexo dos problemas financeiros herdados da gestão anterior.

Livros doados e equipamentos estão encaixotados na SecretariaO kit faz parte do programa Livro Aberto, do Governo Federal, executado pela Fundação Biblioteca Nacional (FBN). O professor da rede estadual de Poço Branco, José Cassimiro Felipe, trabalhou durante seis meses para conseguir a inclusão do município no programa e o material chegou à cidade em março de 2009. Após passar cerca de um mês no prédio onde funciona a atual biblioteca, na verdade o Centro Integrado de Leitura, Cultura e Cidadania, as caixas com os exemplares e os equipamentos foram transferidas para a sala da secretaria, que funciona no mesmo endereço da Prefeitura.

“É tudo material novo e está fechado nas caixas, enquanto a biblioteca da cidade funciona de forma precária e os alunos e a população precisam desses livros para estudos, consultas e pesquisas”, reclama José Cassimiro. Segundo ele, não houve durante esses 19 meses interesse da administração municipal em preparar um local para receber o material. “Temos ainda a promessa do reitor do IFRN (Belchior de Oliveira), que é daqui de Poço Branco, da doação de mais mil livros, mas esse material não virá se não houver um espaço adequado”, lamenta.

No prédio da atual “biblioteca”, há menos de 300 exemplares à disposição dos visitantes, a maioria guardada de forma inadequada, formando pilhas em uma sala pequena, enquanto outras duas salas não oferecem condições de funcionamento. Para os alunos do município, a opção são as bibliotecas escolares, bastante limitadas. “Meu sonho é ser professora, fazer Pedagogia, mas do jeito que temos dificuldade em estudar e pesquisar, sem bibliotecas, acho difícil”, afirma a estudante Ranilda Guilherme da Silva, de 27 anos, aluna do 2º ano do Ensino Médio.

Ela afirma que os colegas também enfrentam dificuldades, devido ao número limitado de exemplares nas salas de leitura das escolas. “Às vezes a gente quer levar um livro para estudar em casa, ou para fazer um trabalho, mas não tem, ou não pode, porque é muito aluno e não há uma quantidade suficiente. E como é que a gente vai estudar sem o livro?” questiona a estudante, lembrando que a concorrência com alunos de cidades próximas, como João Câmara e Ceará-Mirim termina se tornando injusta para os “poçobranquenses”.

Reforma deve estar pronta em 45 dias

No mesmo dia que a reportagem da TRIBUNA DO NORTE esteve em Poço Branco, ontem, tiveram início os trabalhos de reforma do prédio que abrigará a futura biblioteca com os livros e equipamentos doados pelo Governo Federal. De acordo com o prefeito de Poço Branco, Maurício Menezes, a demora entre o recebimento do kit e o início dos serviços se deveu a problemas financeiros da Prefeitura. “Estou fazendo das tripas coração para conseguir os recursos e dar início à obra (com custos em torno dos R$ 23 mil). Educação é nossa prioridade número um”, afirmou.

Segundo ele, a reforma só foi possível nesse período do ano devido ao aumento dos repasses federais, previsto para ocorrer a partir de novembro, e também será realizada por conta da “pressão” exercida pelo Ministério Público, que vinha exigindo a adequação do espaço. “Estamos fazendo sacrifícios, inclusive tirando recursos de outras áreas como o investimento em saúde, para essa obra”, destacou. Maurício Menezes espera que os serviços no piso, cobertura e revestimento das paredes dure 45 dias e a nova biblioteca possa ser instalada logo depois.

A receita total do Município é de cerca de R$ 1 milhão mensais, dos quais R$ 660 mil seriam destinados a pagamento de pessoal e outros R$ 86 mil de “dívidas e precatórios deixados pela gestão anterior”, além de repasses à Câmara e outros pagamentos. Ainda assim, o prefeito garante que o investimento em educação tem sido constante, resultando em um aumento de 2.400 para 4 mil alunos atendidos na rede municipal. “Praticamente não temos recursos próprios, mesmo assim estamos melhorando saúde, educação e promoção social.”

Ele atribui as denúncias feitas a respeito da biblioteca a interesses políticos de seus adversários e questiona inclusive os documentos utilizados pelo professor José Cassimiro no pedido envido à Biblioteca Nacional. Maurício Menezes declarou que o prédio que constaria na imagem apresentada ao Governo Federal, onde funcionaria a biblioteca, sequer existe no município. “Fomos pegos de surpresa com a chegada desse livros e desde então temos tentado reservar recursos para fazermos a reforma”, garante o chefe do Executivo.

Como maior exemplo da falta de condições financeiras do município, ele cita a própria sede da Prefeitura, que desde antes de assumir, em 2009, já funcionava em uma antiga escola, dividindo espaço com a Secretaria Municipal de Educação. “E outra preocupação nossa era com a segurança. A cidade só tem dois policiais e se colocássemos os livros no prédio atual, sem a reforma, seria pior. Agora vamos instalar portas adequadas e grades, garantindo a estrutura”, comprometeu-se o prefeito.

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