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Lula tenta salvar COP-15 do fracasso

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Lisandra Paraguassú – Agência Estado

Copenhague – No mais forte discurso da plenária de líderes no último dia da conferência do clima, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva colocou o Brasil como o país que, para salvar a Conferência da ONU sobre Clima (COP-15) de um naufrágio, aceitava ser fiscalizado e até mesmo concordava em colocar recursos em um fundo de onde, na verdade, como país em desenvolvimento, deveria só retirar dinheiro. Falando de improviso, Lula se disse frustrado com os resultados depois de semanas de negociações e cobrou responsabilidade dos mais de 100 líderes presentes em Copenhague.

Aplaudido quatro vezes durante sua fala e longamente ao final – o único chefe de Estado a receber esse tratamento – a estratégia foi clara: ‘fizemos tudo e não vamos levar esse fracasso para casa’. “Confesso a todos vocês que estou um pouco frustrado porque há muito tempo discutimos a questão do clima e cada vez mais constatamos que o problema é mais grave do que podíamos imaginar. Pensando em contribuir para a discussão nesta COP o Brasil teve uma posição muito ousada”, o presidente iniciou sua fala. Em seguida, listou as metas e as ações a que o País se comprometeu. “Não é uma tarefa fácil, mas foi necessário tomar essas medidas para mostrar ao mundo que, com meias palavras e com barganhas, a gente não encontraria uma solução nesta Conferência de Copenhague.”

Pela primeira vez desde o início do encontro, o presidente admitiu que o Brasil poderá colocar dinheiro no fundo contra as mudanças climáticas. Apesar de não falar em valores, foi mais uma tentativa de tirar entraves nas negociações. “Vou dizer, de público, uma coisa que eu não disse ainda no meu país, não disse à minha bancada e não disse ao meu Congresso: se for necessário fazer um sacrifício a mais, o Brasil está disposto a colocar dinheiro também para ajudar os outros países. Estamos dispostos a participar do financiamento se nós nos colocarmos de acordo numa proposta final, aqui neste encontro”, afirmou.

A proposta, no entanto, só valeria em caso de um acordo final razoável – coisa que, depois de negociações exaustivas o dia inteiro, terminou sem acontecer. Para colocar seus próprios recursos, avisou o presidente, era preciso algo para assinar que não um documento vazio. “Agora, o que nós não estamos de acordo é que as figuras mais importantes do planeta assinem qualquer documento, para dizer que nós assinamos documento”, reclamou. “Eu adoraria sair daqui com o documento mais perfeito do mundo assinado. Mas se não tivemos condições de fazer até agora eu não sei se algum anjo ou algum sábio descerá neste plenário e irá colocar na nossa cabeça a inteligência que nos faltou até agora. Não sei.”

Apesar de se dizer “excessivamente otimista” e de “acreditar em Deus e em milagres”, Lula já previa que nem um discurso forte nem as concessões do Brasil em aceitar verificações externas e colocar recursos para financiamento mudariam o cenário desenhado até agora. No dia anterior, em entrevista junto com o presidente Nicolas Sarkozy, dissera temer que a foto dos 120 líderes presentes em Copenhague se transformasse na imagem dos incompetentes que não salvaram o planeta enquanto havia tempo. A foto oficial, que retrataria justamente os responsáveis pela falta de acordo, foi cancelada.

Proposta prevê 30 bilhões de dólares até 2012

Copenhague (AE) – O presidente dos EUA, Barack Obama, disse que o acordo alcançado entre seu país e a China, Índia e a África do Sul vai proporcionar US$ 30 bilhões ao longo dos próximo três anos aos países pobres para combater a mudança climática. Pela proposta apresentada, os EUA vão contribuir com US$ 3,6 bilhões no período de três anos, 2010-12. No mesmo período, o Japão vai contribuir com US$ 11 bilhões e a União Europeia com US$ 10,6 bilhões. As contribuições serão nos financiamentos chamados de “fast track”, para ajudar os pobres a mudar para tecnologia de baixo carbono e para enfrentar os efeitos da mudança climática.

O texto do acordo divulgado ontem diz que os US$ 30 bilhões prometidos virão de “recursos novos e adicionais”, não da ajuda existente. O financiamento de longo prazo virá de fontes públicas e privadas. O acordo proposto não estabelece metas para redução de emissão de CO2 e reitera o compromisso individual das nações. O texto também reconhece um limite de elevação de temperatura de 2 graus Celsius.

De acordo com o anúncio de Obama, os países desenvolvidos e em desenvolvimento concordaram em listar suas ações nacionais e compromissos para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Haverá um mecanismo para enviar recursos para ajudar os países em desenvolvimento a pagar por tecnologia e projetos para se ajustarem às mudanças climáticas, como a elevação dos níveis dos mares.

Apesar do anúncio de um acordo, a União Europeia cancelou uma entrevista coletiva à imprensa para anunciar a reação europeia ao acordo de Obama com os quatro emergentes. Um funcionário europeu disse que o acordo ainda está sendo negociado. A posição de recuo do presidente Obama em relação à questão climática é consequência das dificuldades internas.

Obama defende acordo ‘imperfeito’

Washington (AE) – O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, conclamou líderes mundiais reunidos em Copenhague a aceitarem um novo acordo climático global, mesmo que seja imperfeito. Caso contrário, advertiu ele, o mundo correrá o risco de criar perigosas divisões no combate aos efeitos do aquecimento global sobre o clima.  O chamado foi feito em discurso perante líderes mundiais durante a conferência climática patrocinada pela Organização das Nações Unidas (ONU) na capital dinamarquesa.

Ele enfatizou que os principais líderes mundiais não estariam  reunidos em Copenhague se não estivessem convencidos de que o perigo representado pelas mudanças climáticas é real e defendeu medidas ousadas, mas não apresentou nenhum novo compromisso referente a metas de corte de emissões de poluentes.

“Isso não é ficção, é ciência. Se nada for feito, as mudanças climáticas resultarão em riscos inaceitáveis a nossa segurança, nossas economias e nosso planeta. Nós sabemos disso”, afirmou. “Não há tempo a perder. A América fez sua escolha. Nós definimos nosso caminho, assumimos nossos compromissos e faremos o que dissemos que vamos fazer”, declarou Obama.

“Agora eu creio que seja a hora de as nações e os povos do mundo se unirem em uma proposta comum”, prosseguiu o líder americano.  “Devemos de escolher a ação em detrimento da inação; o futuro em vez do passado, com coragem e fé. Assumamos nossa responsabilidade diante de nossos povos e do futuro de nosso planeta”, defendeu o líder americano.

Ele defendeu a criação de um mecanismo de financiamento que ajude as nações em desenvolvimento a se adaptarem para que possam enfrentar o aquecimento global e seus efeitos. “Devemos ter um mecanismo de financiamento capaz de auxiliar na adaptação dos países em desenvolvimento, em especial daqueles países menos desenvolvidos e mais vulneráveis às mudanças climáticas”, declarou Obama na capital dinamarquesa.

Segundo ele, os Estados Unidos ajudarão a levantar US$ 100 bilhões por ano até 2020 para ajudar os países pobres a enfrentarem as consequências do aquecimento global, mas somente se a conferência climática de Copenhague resultar em acordo abrangente. “A secretária (de Estado, Hillary) Clinton deixou claro que nos engajaremos em um esforço global para mobilizar US$ 100 bilhões até 2020, mas se – e apenas se -, isso fizer parte de um acordo mais abrangente”, declarou Obama.

O líder americano defendeu ainda que “todos devem mobilizar-se para chegar a um acordo sobre o clima”, notando que todas as nações precisam ceder para haver o pacto, e pediu um mecanismo transparente de monitoração dos compromissos assumidos. “Este não é um acordo perfeito, e nenhum país conseguirá tudo o que quer”, admitiu.

Na opinião de Obama, há uma divisão clara que há anos impede ações no combate ao aquecimento global. De um lado, há “países em desenvolvimento que querem auxílio sem contrapartida, e pensam que as nações mais avançadas devem pagar um preço mais alto”. De outro, segundo Obama, há também as nações mais avançadas que pensam que os que aumentam suas emissões cada vez mais rápido “devem suportar uma parcela maior do fardo”.

Obama pediu que se supere essa divisão, a fim de se avançar no acordo para a redução de emissões. “Nós podemos fazer isso, e todos nesta sala serão parte de um esforço histórico – um que torne melhor as vidas de nossos filhos e netos”, afirmou. “Não há tempo a perder”, disse Obama. As informações são de agências internacionais.

Minc critica comando da Dinamarca

São Paulo (AE) – O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, declarou ontem que o comando da Dinamarca na 15ª Conferência da Organização das Nações Unidas sobre o Clima (COP-15) foi “ambíguo” e “deixou muito a desejar”. “Toda hora anunciavam que ia chegar algum documento novo, de surpresa, meio desconsiderando os temas dos dois grandes grupos de trabalho, o Protocolo de Kyoto e as metas de longo prazo”, afirmou ele, de Copenhague, em entrevista à Rádio Eldorado.

De acordo com Minc, as paralisações que aconteceram ao longo da COP-15 causaram “desconfiança”. Ele afirmou que os ganhos da conferência serão “relativamente poucos”. Entre os pontos positivos, Minc disse que a conversação avançou além da proposta de financiamento de US$ 10 bilhões por ano, chegando a até US$ 100 bilhões por ano em 2020.

“Esses US$ 10 bilhões são tão pouco que, para cumprir as nossas metas do Brasil com dinheiro público e privado, nós vamos gastar US$ 16 bilhões por ano. Tudo o que eles estão querendo dar para os países em desenvolvimento, tanto para adaptação quanto para mitigação, pelo menos nos três primeiros anos, é menos do que o Brasil vai gastar para cumprir a sua meta, sendo um país em desenvolvimento”, disse.

Segundo o ministro do Meio Ambiente, o Brasil chegou a Copenhague “muito respeitado” por causa da queda do desmatamento na Amazônia e das metas que apresentou para a redução de gases causadores do efeito estufa. “Há um esforço muito grande entre países ricos e pobres. A gente tentou esse tempo todo nessa COP ser uma ponte entre os mais ricos e desenvolvidos e os mais pobres e em desenvolvimento para impedir exatamente uma frustração”, disse.

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