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Luta livre combate pelo direito de ser cidadão

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Leonardo Erys  – Repórter

A ideia surgiu por acaso. Em março passado, a Confederação Brasileira de Lutas Associadas (CBLA) ofereceu um curso de formação de treinadores em luta greco-romana – a luta olímpica – em Natal. Entre os inscritos, estava o professor Fernando Antônio, de 31 anos, apaixonado e praticante do judô desde os 9.

O educador viu na luta olímpica, uma oportunidade de credenciar garotos a conquistas mais expressivas. Ofereceu a ideia aos alunos da Escola Estadual Vigário Bartolomeu- – pra quem já dava aulas de judô desde 2011 – no bairro de Lagoa Seca, zona Sul de Natal, e com 4 meses de treinos, conquistou vaga em quatro categorias do esporte nas Olimpíadas Escolares deste ano. Apesar de pouco popular, a  aceitação do esporte pelos alunos foi total, segundo o professor.
Os alunos da escola Vigário Bartolomeu se dedicam aos treinos
No judô, a Escola já havia conseguido 3 medalhas nos Jogos Escolares do Rio Grande do Norte (Jerns) no ano passado. Propor a mudança de esporte, no entanto, tem explicação. “A luta olímpica é um esporte menos oneroso. A gente tem menos custos e mais chances de conquistas”, disse o professor. Fernando Antônio explicou que as dificuldades em relação a compra do quimono – roupa para a prática do judô – influenciaram na decisão. Convencer os alunos a mudarem de esporte foi fácil, garante. “Quando eles me perguntaram o que era isso [luta olímpica], eu respondi: é o judô sem o quimono”. A oportunidade de disputar as Olimpíadas Escolares, que será realizada em Poços de Caldas neste ano, também foi um fator decisivo. “Se um menino desse subir no pódio pode até ser credenciado a ter uma bolsa atleta. Eu já vislumbro isso”, projeta o professor.

Enquanto a equipe de reportagem da TRIBUNA DO NORTE conversava com o sensei Fernando Antônio, os alunos treinavam em um tatame improvisado no centro da quadra da escola. Sem as roupas especiais da luta olímpica, eles vestiam a farda do colégio  e questionavam o professor sobre os próximos passos do treinamento, que durou 45 minutos. Eram meninos e meninas com média de idade de 14 anos.

Entre os quatro alunos da escola classificados para os Jogos, estão Emanuel Felipe, de 14 anos, e Jefferson Teixeira de Moura, 13. Tímido e de fala mansa, Emanuel Felipe, que mora em Nova Natal, na zona Norte da capital, vai à escola todas às terças e quintas-feiras fora do horário normal de aula, para treinar a luta greco-romana.  Ele explica que seus pais o apóiam  na prática do esporte. “É legal, porque eu não fico nas ruas, essas coisas”, diz. O amigo Jefferson Teixeira, também classificado para as Olimpíadas Escolares,  consegue enxergar boas perspectivas no esporte.  O garoto lembra que com as conquistas já conseguiu que a viagem e hospedagem para os jogos fossem pagos e já projeta, quem sabe, conseguir subir ao pódio na competição. “Se eu ganhar em primeiro lugar na competição, eu já ganho metade do salário mínimo”, explica o garoto. Segundo Jefferson de Moura, que nunca havia praticado nenhum esporte antes do judô, o incentivo para entrar no mundo das artes marciais partiu do professor Fernando Antônio.  “Ele me chamou pra fazer judô [em 2011]. Aí teve um campeonato, ganhei uma medalha e fui me interessando mais até chegar na luta olímpica”, lembra. Os adolescentes dizem que a aceitação à luta greco-romana foi tranquila e Jeferson garante: “Eu gosto muito de praticar”.

Professor acredita que o esporte  mostra “outros caminhos”

Orgulhoso das conquistas que tem conseguido com alunos no judô e na luta olímpica, o sensei Fernando Antônio não pensa apenas na projeção esportiva. Ele vê, principalmente, o esporte como uma forma de mostrar às crianças que existem outros caminhos para seguir na vida. “ É um meio da gente pegar essas crianças e mostrar que tem outro caminho. Porque o mundo das drogas, da prostituição, ele está aí, e a gente tem que evitar” diz. Para ele, “o esporte é o meio mais rápido de você socializar e dar um futuro melhor”.

O professor diz que tenta ajudar as crianças para, de certa forma, retribuir o que o esporte lhe proporcionou. Ele conta que aos 9 anos, o professor Geovani Nóbrega o convidou para treinar judô.   A mãe de Fernando, no entanto, receosa em função de um acidente que o então garoto havia sofrido aos 6 anos de idade – quando foi atropelado por um carro – deu o quimono dele para outra pessoa, para evitar que ele treinasse. Fernando recebeu um novo quimono do professor e começou a lutar. Hoje faixa preta no judô, ele reconhece o quanto  o esporte lhe ajudou. “Lá em Mãe Luiza a  gente ficava muito a mercê de tudo.  E o judô me ajudou muito”.

Diretora da Escola vê projeto como oportunidade de estudo para garotos

A diretora da Escola Estadual Vigário Bartolomeu, Aparecida Silva, dá total apoio ao projeto da luta greco-romana. Segundo ela, é uma oportunidade que os garotos tem de se desenvolver “física e mentalmente”.

A diretora, no entanto, encontra mais perspectivas do que somente a prática do esporte.  Para Aparecida Silva, os alunos  têm a possibilidade de buscar novos rumos na educação. Ela acredita que com bons resultados no esporte, abrem-se portas para os garotos conquistarem bolsas de estudo em colégios particulares da capital. “Eles podem ganhar bolsas com o que estão conquistando. A gente pode perder um aluno aqui, mas sabemos que eles estarão ganhando no que diz respeito ao ensino”, diz.

A diretora se mostra feliz com a ida dos alunos para as Olimpíadas Escolares e diz que estará na torcida, mas faz questão de frisar que os garotos não estarão representando apenas a escola. “Eles estarão representando todo o Rio Grande do Norte nos Jogos Escolares”, afirma.

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