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Marx e o futebol

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Woden Madruga [ [email protected] ]

O papo poderia muito bem ter sido na calçada do Cova da Onça ou mesmo entre as quatro paredes do lendário bar-café de Mestre Gaspar, onde, derna do tempo do doutor José Augusto Bezerra de Medeiros, se conversa sobre tudo. É verdade que, naqueles anos vinte, trinta, o que se falava mais era sobre política, voto feminino, exportação de algodão, os aviões descendo no Potengi, aqui e acolá  pilotos franceses (a agência da Air France ficava na esquina com a rua Chile) entrando e pedindo a saborosíssima cartola que eles vieram descobrir na gastronomia nordestina. Os gringos, incluindo os americanos que viriam depois, adoravam a cartola, feitas com banana prata e queijo do sertão (queijo de manteiga), muito açúcar, segundo Gaspar gosta de contar abrindo a lata com canela. De futebol, falava-se pouco. O esporte da moda era o remo, os dois clubes – Sport e Centro Náutico – com suas sedes na Rua Chile, onde passava o trem. Tudo ali perto na velha e abandonada Ribeira dos dias de hoje.

Mas essa conversa sobre futebol com Karl Marx não foi no Cova da Onça. Está no artigo de Roberto Damatta, no Estadão de ontem. O título é “Futebol e luta de classe”, que eu li com deleite até porque esse cara é um dos melhores textos do jornalismo brasileiro. Li e fiquei imaginando o velho Marx por estas bandas brasileiras, acompanhando os protestos contra a Copa do Mundo no rasto do povão sem caprichos ideológicos, até porque tais rótulos não representam suas praias. Bom, vamos deixar a linguiça de lado, transcrevendo algumas passagens do que escreveu Roberto Damatta que, também é antropólogo (Carnavais, malandros e heróis) aplaudido pela galera. Começa assim:

“E se Marx fosse um torcedor de futebol? Perguntou um deles, surpreendendo os ‘entendidos’ com suas extraordinárias lembranças de jogos – essa historicidade que é o traço principal de nossa brasileiríssima (e aporrinhadora) futebologia.

Seria Flamengo! – disse sorrindo um cara que, sério, logo emendou somando uma provocação ao palpite – e diria que o futebol é o ópio do povo!

Mas o ópio amortece a consciência, articulou um desconhecido de olhos empapuçados que era psicanalista, e eu jamais testemunhei tanta atenção e detalhes quanto no futebol. Qualquer torcedor é um detetive descobrindo pistas e lances imperceptíveis. Ora, quem é capaz dessa percepção não pode estar entorpecido, mas em estado de plena e gloriosa vigília.

O ponto é que ao ver futebol, há uma alienação de coisas críticas como educação, saúde e exploração do trabalho – replicou o esquerdista que degustava um vinho argentino, depois de realizar aquele fresco ritual de sentir o seu aroma.

Mas não se pode viver nem apreciar uma boa bebida – exclamou o Sivoca, cuja tese filosófica era a necessidade de ‘se beber muito’ para ‘aguentar a dureza da vida’. Beber  e amar eram artes que criavam a vida e não o contrário.

Marx veria logo que a divisão entre jogadores e torcidas seria a representação da contradição entre burguesia e proletariado. Veria também a mesma segmentação entre os jogadores do ataque (aqueles que fazem gols e são mais populares) e os da defesa (esses operários humildes do futebol que, num antigo Brasil, eram negros). Assim, manifestou-se novamente o marxista, cuja bandeira era lutar contra o mundo capitalista consumista e torcer para que Putin reunificasse a União Soviética, fazendo com que o mundo voltasse a conhecer o Doutor Fantástico, o “amante perverso” com seu plano de sobrevivência para os poderosos num planeta destruído pela guerra atômica.

Ouvimos com simpatia e tomamos um longo gole dos nossos ópios.”

A vez de Tostão
Do craque Tostão, em sua coluna da Folha de S. Paulo (“Respeitem o acaso”), de ontem:

– Ao ver o protesto dos professores, na saída do ônibus da seleção para Teresópolis, lembrei-me de que já estive dentro do ônibus, como atleta, e fora dele, com professor da Faculdade de Ciências Médicas, quando ganhava tão pouco quanto os atuais professores municipais e estaduais.

– Entendo os dois lados. Os professores têm razão em protestar. São, assim como a educação, maltratados há décadas.

– Os jogadores não têm nada a ver com isso. Eles ganham muito porque são protagonistas de um negócio milionário. Os professores sabem disso. As manifestações não eram contra os atletas. Foi uma oportunidade de gritar para serem ouvidos.

Chuva
Há registro de chuva de 138 milímetros. Foi em Baía Formosa, segundo o boletim da Emparn. Chuva de terça-feira para o amanhecer de ontem. As chuvas foram mais fortes no Litoral, como estavam previstas: Canguaretama, 96; Maxaranguape, 42. A chuva de Natal, 38; Parnamirim, 34; Nísia Floresta, 33. Em Espírito Santo, 34.

No Agreste, região com menos chuva no Estado: Jundiá, 46; Ielmo Marinho, 27; Serrinha, 24; Monte Alegre, 20; Nova Cruz e Lagoa de Pedras, 19; Boa Saúde, 15; Bento Fernandes, 14; Vera Cruz e Santa Cruz, 11; São Paulo do Potengi e Tangará, 10. Em Lajes, no Sertão Cabugi, 12. Neblinas no Seridó.

Fotografia
Incluída na programação do Bloomsday 2014, promovido pela UFRN, o fotógrafo Lidi lima-Colon abre, segunda-feira (2 de junho), na Livraria Saraiva, do Miduei, a exposição “In Bloom, Dublin pelo olhar de James Joiyce”. Às 19h30.

Sertão
Foi aberta ontem no Salão de Eventos da Assembleia Legislativa do Estado a exposição do artista plástico Adriano Sartori, “Ô de Casa – Retratos do Sertão Abandonado”.

Da Adra
A Assembleia Legislativa realiza sessão especial amanhã, 9h30, para celebrar os 30 anos da Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA). Proposta da deputada Márcia Maia.  

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