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Mau humor é doença?

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Hilton Marcos Villas-Boas [ psiquiatra ]

Em nosso dia a dia, quem é que já não se deparou com reclamações como: “fulano” é insuportável, meu pai é muito mal-humorado, seu namorado é muito chato ou aquele seu amigo tem um péssimo humor. Na verdade diante das  citações acima, o que podemos ter como certeza, é que conviver no dia a dia com alguém “mal-humorado”, não é tarefa nada fácil, pelo contrário é muito difícil e desagradável.

Podemos, portanto, dizer que o mau humor pode ser considerado um transtorno, se levarmos em conta como critério diagnóstico o fato de que o indivíduo “mal-humorado” se destaca da população como um todo (critério chamado de estatístico), bem como promove imenso sofrimento para o chamado mal-humorado e todos os que convivem com o mesmo (critério chamado valorativo).

Aqui cabe destacar a diferença semântica entre mau humor com “U”, e mau humor com “L”. Mau humor com “U”, é o contrário de bom humor, e mau humor com “L” é uma característica do transtorno (doença).

A origem da palavra “mal humor”, vem do grego, que significa DISTIMIA, termo tratado pela psiquiatria como um tipo psicológico depressivo e melancólico. É um estado depressivo crônico diferente da depressão típica, em geral disfarçado pelo mau humor, chatice, birra, implicância, irritabilidade, apatia, de mal com mundo, etc.

Entre os conceitos levados em conta para a classificação da Distimia, em nossa opinião a mais apropriada é que ela pode ser considerada como um Transtorno de Humor Persistente. Mas com certeza, o termo mais apropriado para a definição de uma pessoa “mau humorada”, é Distimia, que é um quadro depressivo crônico, incluído na CID.10 (Classificação Internacional das Doenças), na seção que trata dos Transtornos Persistentes do Humor.

Trata-se de uma depressão de sintomatologia de intensidade suave, que tem seu início na tenra idade, promovendo grande sofrimento, e/ou prejuízos significativas, para a qualidade de vida do portador da mesma, bem como para quem convive com o mesmo.

A grande diferença que podemos enfatizar, para o questionamento do título deste artigo, é que o “mau humor” quando é crônico e persistente no indivíduo, ele é patológico e deve ser chamado de Distimia ou Transtorno Persistente da Personalidade. Neste caso, o indivíduo tem o mau humor como uma forma de SER, na sua vida.

Já quando o mau humor é ocasional, e o indivíduo não tem essa característica como forma de ser na sua vida, dizemos que ele ESTA “mau humorado”, ele não é mau humorado, portanto essa situação como um transtorno ou doença, e sim um estado momentâneo do indivíduo.

Dessa forma podemos entender que o mau humor esta relacionado à afetividade, e conceber o mesmo como um traço da personalidade. Traço de personalidade é uma característica estável e persistente da personalidade, que reflete no comportamento e atitude frente à vida, a realidade e o mundo do indivíduo. Por isso dizemos que os traços da personalidade, são responsáveis pela forma que caracterizam a maneira da pessoa SER e não da pessoa ESTAR.

Ao considerarmos o mau humor como um traço da personalidade, então o mesmo também pode ser considerado com responsável por promover o sofrimento, preenchendo dessa forma os critérios para se enquadrado como um Transtorno da Personalidade, tipo Distimia.

A Distimia se caracteriza pelo comportamento inflexível e permanente, do indivíduo perante as mais diferentes situações pessoais ou sociais, devendo satisfazer, principalmente, quatro características básicas: a – início na infância ou na adolescência; b – acompanham o indivíduo ao longo de sua vida; c – se manifestam com um padrão de comportamento anormal nas mais variadas situações pessoais e sociais; d – promovem significado prejuízo ou sofrimento pessoal e/ou social e/ou ocupacional.

Além das quatro características acima, a Distimia pode ser acompanhada dos seguintes sintomas: sentimento de inadequação, perda generalizada do interesse ou prazer (anedonia), retraimento social, sentimento de culpa, preocupação intensa com o passado, sensações subjetivas de irritabilidade, raiva excessiva, insegurança, autoestima baixa, pouca tolerância com o ambiente (pessoas, objetos, economia, clima, transito, política, sociedade, com a vida), questionamento constante sobre tudo, ansiedade, preocupação excessiva.

Lembrar que essas características, também fazem parte do estar “mau humorado”, ou seja de um momento de mau humor que qualquer um de nós pode estar sujeito, em algum momento da vida..

O grande problema que enfrentamos nos casos de Distimia é quando o portador da Distimia, não ter uma consciência de que esta doente, e que pode procurar tratamento. Chamamos estes indivíduos de ego-sincrônicos com sua personalidade (satisfeita consigo mesma), sempre reforçam à sua maneira de ser, como sendo normal, não se consideram portadores de patologia. Quando ao contrário, o indivíduo sofre com sua maneira de ser, e lamenta o seu mau humor, e da mostraras que gostaria de melhorar, chamamos o mesmo de ego-distônico com sua personalidade (ou descontente consigo mesma).

O mais comum de encontrarmos, em um Distimico, é a negação de sua chatice crônica, buscando justificar no cotidiano e nas circunstâncias as causas para seu mau humor. Por fim, a nossa missão diante de um Distimico, e tentar convencê-lo de que é portador de um transtorno, e o mesmo tem tratamento (antidepressivos, ansioliticos, psicoterapia e atividade física), e le pode se beneficiar do mesmo. Um bom final de semana a todos, até a próxima.

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