quinta-feira, 28 de março, 2024
33.1 C
Natal
quinta-feira, 28 de março, 2024

Morte de grandes autores em ano de pouco crescimento

- Publicidade -

Maria Fernanda Rodrigues

Mais do que por grandes lançamentos, o ano de 2014 ficará para sempre marcado por despedidas. Foi um ano especialmente triste para a literatura, que perdeu, num único mês, em julho, João Ubaldo Ribeiro, Ariano Suassuna, Ivan Junqueira, Rubem Alves e Nadine Gordimer. Em abril, foi o colombiano Gabriel García Márquez. Em novembro, Manoel de Barros.

A Academia Brasileira de Letras recebeu seus novos imortais: Antônio Torres, Zuenir Ventura, Ferreira Gullar e Evaldo Cabral de Mello. Também imortal, o africanista Alberto da Costa e Silva recebeu o Prêmio Camões, o mais importante da literatura lusófona. O ilustrador Roger Mello ganhou o Hans Christian Andersen, considerado o Nobel da literatura infantil e juvenil. O escritor e crítico literário Silviano Santiago, o Prêmio José Donoso, e a poeta Adélia Prado, o canadense Griffin.

Não houve unanimidade nas premiações brasileiras e o destaque foi para Ana Luisa Escorel, que inscreveu seu romance de estreia, Anel de Vidro, na categoria de autores veteranos do Prêmio São Paulo e se tornou a primeira mulher a vencer na categoria principal. Destaque, também, para Laurentino Gomes que venceu pela terceira vez o Jabuti de livro do ano de não ficção por sua trilogia best-seller sobre a história do Brasil. E para a criação do Prêmio Saraiva de Música e Literatura – para trabalhos originais.

O mercado editorial foi surpreendido por algumas notícias. A aquisição da Santillana pelo Grupo Penguin Random House refletiu no Brasil com a fusão da Companhia das Letras e Objetiva/Alfaguara. O Grupo Sextante comprou 50% da gaúcha L&PM. A Amazon começou a vender livros físicos no País, lançou seu serviço de aluguel de e-books sem o apoio de grandes editoras e lidera o comércio de livros digitais por aqui, que ainda é pequeno, mas vem crescendo. Segundo a pesquisa Produção e Venda do Setor Editorial, feita pela Fipe e anunciada este ano, o faturamento das editoras com o e-book saltou de R$ 3,8 milhões em 2012 para R$ 12,7 milhões em 2013 – um indício de que 2014 verá números ainda maiores. Pensando nisso, a Saraiva lançou o Lev, seu e-reader.

Mesmo com esses números, este foi, mais uma vez, um ano sem crescimento. Essa crise, a ameaça da Amazon, que chegou com tudo praticando preços que o mercado não consegue acompanhar, e a relação desigual mantida entre editoras e grandes redes de livrarias e entre editoras e livreiros independentes, levou de volta a lei do preço fixo do livro ao debate. O cenário, no entanto, não impediu que novas editoras surgissem em 2014. Dois destaques: a Poetisa, que vai dar prioridade a boas traduções, e a Mundaréu, que se dedicará, por ora, a livros de história, filosofia e ficção alemã.

Independentes
Na cena independente, a editora Lote 42 comprou uma banca de jornal no bairro de Santa Cecília para vender seus livros e de outras editoras e artistas. E a Feira Plana se consolidou como importante ponto de venda e de encontro.

Na área de livros usados, a briga foi entre os sebos e a Estante Virtual, com boicotes e abaixo-assinado. E agora, nos últimos dias do ano, o portal que reúne o acervo de quase todos os sebos do País anunciou que começaria a vender livros novos.

Aspirantes a escritor tiveram mais incentivos para tirar o livro da gaveta com o crescimento da autopublicação e por iniciativas como a da Casa das Rosas, que criou um curso para formação de escritores, inclusive para adolescentes. O público jovem, aliás, lotou a Bienal do Livro atrás de seus ídolos, levou histeria e tumulto aos corredores do Anhembi e movimentou, durante todo o ano, a lista de mais vendidos. E de olho nesse leitor compulsivo editoras criaram selos, incrementaram a presença nas redes sociais e publicaram muito.

A política do livro saiu da Fundação Biblioteca Nacional, no Rio, e voltou a Brasília. Lá, uma audiência pública debateu o conceito de livro – que deve mudar para incluir os e-books e, com isso, isentá-los de imposto. Existe o lobby para que o e-reader também seja considerado um livro, mas a ideia não agradou – exceção seria feita para aparelhos produzidos aqui, mas todos vêm da China. A lei das biografias avançou e recuou, mas houve uma vitória: Sinfonia Minas Gerais – A Vida e a Literatura, de João Guimarães Rosa, fora das livrarias desde 2008 por processos movidos pela família do autor, foi liberada.

O Brasil passou discreto pela Feira do Livro de Frankfurt um ano após ter sido o convidado de honra e fez bonito na Feira do Livro Infantil de Bolonha, onde foi homenageado.

Centenários como o de Julio Cortázar, Bioy Casares e da Primeira Guerra Mundial e ainda os 50 anos do Golpe Militar motivaram o lançamento de dezenas de livros. Em São Paulo, uma caneta que pertencia a Graciliano Ramos foi furtada antes da abertura de exposição dedicada ao autor, no Museu da Imagem e do Som. Em Porto Alegre, vida e obra de Moacyr Scliar foram contadas na mostra O Centauro do Bom Fim.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas