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Mossoroense estreia no gênero policial

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Uma novela policial com direito a mensagens criptografadas, numerologia, contrabando de cédulas raras, investigação independente de dois garotos curiosos, ação policial e, finalmente, captura dos fora-da-lei. É isso que oferece a leitura do livro “Suspeitas de um mistério” (Multifoco, 2012), do estreante mossoroense Thiago Galdino, o qual se autodenomina “contador de histórias”. E, como reforço a esse mínimo autorretrato, sublinha que “somente o tempo dirá se o grau de escritor me cairá justo”. 

Dizer que “Suspeitas de um mistério” é um livro que se lê de uma assentada, não o isenta de reparos, mas salta à vista que o autor se desincumbiu satisfatoriamente da tarefa que se propôs de escrever um “thriller”, não obstante seus recursos limitados, quer literários, quer estilísticos, como a pobre caracterização dos personagens, a falta de uma padronização para marcar os diálogos, a mobilidade fácil demais dos personagens, as viagens mirabolantes etc. O importante, numa obra de estreia, é se mostrar capaz de conduzir a trama ao seu desfecho unindo as pontas soltas que foram deixadas pelo caminho. E isso Thiago Galdino mostrou saber fazer.

Na verdade, a trama segue um ritmo irregular, na medida em que seu clímax é postergado por descrições de caráter lateral, dispensáveis ao enredo do livro. Uma viagem a Boston a pretexto de tratar uma infecção bucal de um dos jovens “detetives” chega a ser inverossímil, ou melhor, desnecessária, pois o é. A própria viagem de avião em primeira classe para o sítio da tia Daura, numa ocasião em que esta passa por dificuldades financeiras é dessas situações em que só podemos exclamar: cadê o revisor desse livro? Porque o revisor não cuida apenas da correção ortográfica, mas precisa estar atento à coerência textual, a fim de que os lapsos do autor não passem para o texto final. E esse foi um trabalho que ficou por fazer.

Com efeito, uma frase como “Dezoito e meia” (referindo-se à hora) soa inteiramente artificial; do mesmo modo, é inaceitável que o livro apresente construções frasais do tipo: “contraste assombrador”, “o chefe daquele grupo era um brutamonte”, “então o porquê vocês estão chateados?”, “por que começará as aulas”, “deixei a parte que os cabiam”, dentre outras, que findam por desviar a atenção do leitor para questões gramaticais, afastando-o da trama propriamente dita. 

Quanto ao enredo em si, que peca pelo excesso de coincidências que se sucedem em seu curso, tem um elemento de modernidade inconteste: os enigmas que aí aparecem associados à criptografia, lição certamente aprendida na leitura do clássico “Um estudo em vermelho”, Conan Doyle, que desafia por algum tempo o cérebro privilegiado de Sherlock Holmes.

De fato, o “thriller”, a novela policial, gênero eminentemente anglo-saxão, não exerceu grande fascínio sobre os autores potiguares. A exceção, que confirma a regra, é a do cearense-potiguar Francisco Sobreira, cujo livro “Palavras manchadas de sangue” constitui uma bem-sucedida incursão nesse gênero. O enredo é ambientado na Natal dos anos 1980 e pontilhado de crimes que desafiam o pantagruélico e adiposo delegado Simões. Pena que o livro esteja esgotado há décadas sem que seu autor se decida a reeditá-lo. Mas não só esse, vez que a produção de Sobreira é fecunda especialmente no conto.

Enfim, “Suspeitas de um mistério” é mesmo um livro precoce, em muitos sentidos, precoce demais, haja vista que poderia ter passado por um trabalho de releitura e revisão de algumas situações dispensáveis aí presentes. Fica a certeza, porém, de que o autor, apesar de tão jovem ainda, tem inegáveis qualidades literárias. Assim, precisa cuidar do próximo livro “pra valer”, mas sem se deixar dominar pela pressa de publicar. Afinal, agora já tem “experiência”, e isso supõe profissionalismo e maturidade literária.

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