O motorista do ônibus envolvido no acidente na avenida Bernardo Vieira, Amício Pablo de Medeiros, de 25 anos, pagou ontem a fiança de R$ 4 mil e já está em liberdade para responder ao processo em que é suspeito de atropelar e matar três mulheres na noite do sábado passado. O delegado Custódio Arraes da Delegacia de Plantão da zona Sul considerou que o suspeito não teve a intenção de vitimar fatalmente as mulheres e assegurou-lhe o direito à fiança. 
Outras duas vítimas do atropelamento se recuperam bem dos ferimentos que sofreram. Famílias relataram à reportagem os momentos de terror da hora do acidente. No sábado passado, por volta das 18h30, um ônibus da empresa Oceano conduzido por Amício Medeiros perdeu o controle, atingiu um veículo e o arrastou, atingindo seis pessoas que atravessavam a avenida Bernardo Vieira.
Maria Gorete dos Santos, 40 anos, Marluce Araújo dos Santos, 37, e Isabela Cristiane Avelino, 19, morreram na hora devido à gravidade dos ferimentos. Ana Lúcia dos Santos, 35, e Isabela Cristina Avelino, 21 anos, sofreram ferimentos, mas passam bem. Uma criança de dois anos identificada apenas por Larissa estava com as mulheres na hora do ocorrido, mas nada sofreu.
Elas se encaminhavam para casa após acompanhar uma missa no bairro das Quintas. Ontem, os familiares voltaram a comentar a tragédia. A mãe de Isabela Cristiane, Maria Iracema, compreende que não houve intenção do motorista, mas não consegue explicar o sentimento de indignação e perda.
“Entendo o que ele (motorista) disse. Mas mesmo assim, teve alguma imprudência dele. Agora só nos resta a saudade”, contou Iracema. A sua outra filha, Isabela Cristina, também estava presente e ficou ferida no cotovelo esquerdo e no tornozelo direito.
“Me lembro de tudo, foi muito rápido. Quando vimos o carro empurrado pelo ônibus já estava nos atingindo”, disse a jovem, acrescentando que demorou a reconhecer uma das amigas – desfigurada por ferimentos no rosto.
O cenário é ainda mais desolador na casa das irmãs Gorete e Marluce. Elas deixaram outras 12 irmãs e a tristeza toma conta da residência localizada no bairro do Bom Pastor. Eram lá que elas freqüentavam a Igreja Católica e excepcionalmente tinham ido acompanhar a missa no bairro das Quintas. O crime deve ser repassado a Delegacia Especializada de Acidente de Veículos (Deav) para investigação e responsabilização do condutor do ônibus. O inquérito deve ficar parado até o fim da greve dos policiais civis, sem data para ocorrer.
População faz protesto em revolta a acidente
A comunidade adjacente ao local onde um ônibus desgovernado atropelou e matou três mulheres, fez um protesto no começo da noite de ontem na esquina da Bernardo Vieira com a rua dos Pegas, nas Quintas, inclusive ateando fogo em pneus que interditaram o trânsito. Pela manhã, o Movimento “Natal Agora” protocolou um documento na Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (Semob), onde pedem mudanças no tráfego de veículos na da Bernardo Vieira, principalmente no corredor de transporte coletivo.
O coordenador do “Natal Agora”, Jailson Soares, disse que a comunidade sugere melhorias nas sinalizações vertical e horizontal, “que praticamente não existe”, e até a colocação de lombadas de concreto para que os ônibus reduzam a marcha.
#SAIBAMAIS#
Segundo Soares, outra sugestão a ser discutida com a secretária Elisabeth Thé, numa audiência prevista para as 9:30 de manhã, é a possibilidade de se fechar o acesso para a rua dos Pegas. “A comunidade e a secretária, todos nós, formos pegos de surpresa com o derramamento de sangue ocorrido no sábado”, disse ele.
Soares ainda explicou que foi solicitado à Semob a realização de um estudo específico pelo setor de engenharia sobre a possibilidade do fechamento desse acesso e um trabalho de educação no trânsito junto à comunidade e escolas, pois muitos são surpreendidos quando atravessam a rua, porque no corredor dos ônibus em determinados trechos eles passam junto um do outro.
O servidor público Edmar Marinho disse que tanto no cruzamento da Bernardo Vieira com a rua dos Pegas e com a antiga avenida 12, “já ocorreram pelo menos sete ou oito mortes aproxidamente”. Segundo Marinho, a primeira vítima de acidente ocorreu na inauguração do corredor de trânsito da Bernardo Vieira, quando uma vendedora de churrasco também foi atropelada. Durante o protesto, uma viatura dos Bombeiros, que foi chamada para debelar o fogo, foi apedrejada por populares. O caminhão ainda teve o parabrisa rachado e só voltou para apagar as chamas depois que o protesto terminou.
Bate-papo
Amício Pablo de Medeiros » motorista de ônibus
“Se pudesse, pagaria com a própria vida”
O senhor adormeceu ao volante?
Foi sim. Acabei perdendo o controle do ônibus e quando vi já tinha acontecido. Não tive a mínima intenção de provocar esse acidente.
Quando percebeu que tinha causado um grande acidente?
Quando eu me dei conta, já havia acontecido. Além do sono, eu não havia me alimentado durante todo o dia. Eu acabei perdendo a noção.
Você trabalhava na empresa há quanto tempo?
Tem pouco tempo. Pouco mais de uma semana.
Existem informações de que o senhor ficou desesperado, não é?
Para mim foi um pesadelo. Até agora ainda não caiu a ficha.
O que você tem a dizer às famílias das vítimas?
Só tenho a lamentar. Peço desculpas, e, se fosse o caso, pagaria com minha própria vida pelo erro que aconteceu.
