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‘Muitos ajustes precisam ser feitos’

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Felipe Gurgel
Repórter de esportes

Depois de 16 meses, o ABC tem um novo treinador. A era de Leandro Campos ficou para trás e agora é a vez de Guto Ferreira. Assim como seu antecessor, o novo comandante era pouco conhecido da grande maioria dos torcedores alvinegros. Além disso, outro ponto em comum dos dois é que ambos são adeptos da escola gaúcha de futebol. Campeão gaúcho em 2002 pelo Internacional/RS, Ferreira teve uma passagem pelo futebol português, quando conseguiu dois acessos em terras lusitanas. Antes de acertar com o clube potiguar, ele comandava o Criciúma/SC, mas deixou o clube por divergências com a direção da equipe catarinense. Nessa entrevista concedida a TRIBUNA DO NORTE, antes da partida contra a Ponte Preta, Guto Ferreira falou sobre como pretende recolocar o ABC no grupo dos quatro melhores da série B, categorias de base, rendimento dos jogadores, dispensas e relação com a imprensa. Menos de uma semana de clube. Já deu para se ambientar?
Guto Ferreira, técnico do ABC
Estou procurando me ambientar. Estou a pouco tempo no clube e ainda não deu para saber de tudo. Agora, estou muito feliz pela receptividade, pelo caráter das pessoas, a qualidade dos profissionais do ABC. Natal é uma cidade maravilhosa, um clube  onde a torcida arrepia, passa uma energia muita positiva e muito afim de fazer um trabalho sério, que possa, ser pelo menos a altura do Leandro Campos (ex-treinador do ABC) e que posas ser melhor.

Em relação a Leandro Campos. É difícil assumir um time que teve o mesmo treinador nos últimos 16 meses. Dificulta inserir sua maneira de jogar?

Em tão pouco tempo, sim. Mas, tudo tem que passar por um processo de adaptação. Não só os jogadores ao meu jeito de trabalhar, como eu mesmo, me adaptar ao clube. Costumo dizer que o tempo é o senhor da verdade, ele mostra tudo. Se você está no caminho ou não. Se você acertou ou se errou. E as oportunidades vão surgindo. Muitas vezes, você cai, não por estar errado, mas porque era o momento de você cair. O principal, eu já passei para os atletas que é: o vencedor não é aquele que nunca cai e sim, aquele que consegue se levantar mais rápido.

Falando nisso, o ABC vem caindo de produção dentro do campeonato. Como fazer para ele se levantar rápido?

Muitos ajustes precisam ser feitos, né? Acredito que, em termos de mentalidade, não posso dizer como estava. Mas, acredito que a determinação mostrada contra o Barueri/SP, está, direcionado, com o espírito de luta, de garra, de entrega. Agora, não basta só isso. Tem ajustes técnicos, táticos, emocionais, a serem feitos. Quando eu digo ajustes, não passa só pelos jogadores que estão como titular. Passa por todo o plantel e até com os reforços.

Conversou com a direção sobre reforços?

Mesmo com pouco tempo de clube, sempre estou conversando sobre contratações. Já passei a direção sobre posições que estão carentes.

Um dos grandes problemas do time é a falta de um armador. Cascata joga naquela função, mas  é mais atacante. Tem gente no elenco com essas características ou você está procurando no mercado?

É verdade, o Cascata não é esse pensador do time. Logicamente, você conseguindo esse jogador, para ontem, pronto, maduro, mesmo vindo de fora, por que não? Só que o mercado não é fácil não. Está difícil para encontrar esse tipo de jogador. Então, você tem que buscar soluções, que dêem equilíbrio.

Como fazer isso?

Tem que desenvolver trabalhos, que possam, mesmo com pouco tempo de trabalho, já que o campeonato é muito intenso, com muitos jogos em sequência, possam dar opções. Até tem questões, que você posiciona e os jogadores captam rapidamente. Em outras situações, eles demoram um pouco a captar.

Tem que ter tempo de trabalho, então?

Tem que repetir um pouco mais, para poder incorporar esse processo, essa mecânica. Muitas vezes você vai para o jogo e erra, pensa logo que está tudo errado e muda. Aí, começa do zero. Você começa a voltar sempre para o início e não sai do lugar.

Na sua apresentação, você elogiou muito a qualidade do Renatinho Potiguar. Pensa em usar ele em outra posição?

É um jogador muito intenso, de grande qualidade. Dependendo da forma de jogar, buscando uma mecânica diferente, de repente, pode dar encaixe. Pode ser que, lá na frente, dê alguma coisa nesse sentido. Mas, volta a dizer: é preciso ter um pouco mais de tempo. Sentir, ver o atleta. Não tem como você apenas jogar, descansar e ter pouco tempo para treinar o grupo, querer mudar sua característica. É muito perigoso.

Ou quem no time do ABC, que você mais gosta?

O ataque. Tem muita qualidade, jogadores rápidos, que são decisivos.

O que você observou de errado no ABC, quando era técnico do Criciúma, que agora vai ter que corrigir?

Vamos deixar essa pergunta para lá. Deixa eu corrigir os erros com os atletas.

Mas, tem muita coisa para ser corrigida?

Não posso dizer isso, que tem muita coisa errada. Senão, vou passar uma situação de desconfiança para o meu grupo e eu confio neles. Tanto é, que fui para o campo com menos de um dia de trabalho. Fiquei no banco contra o Barueri, para mostrar que confio neles. Caso contrário, tinha assistido à partida de camarote, transferindo responsabilidades.

Isso você não faz?

Não mesmo. Não passo responsabilidades minhas, para os outros. O que é meu é meu. Costumo até chamar a responsabilidade dos outros para mim.

Existem treinadores que usam do discurso de quando o time perde, foram os jogadores. Quando empate, foi o grupo todo e quando vence, foi apenas o treinador…

Então, no meu caso, você pode inverter essa situação. Quando a equipe vence, os méritos são apenas dos jogadores. E, quando erra, eu sou o culpado.

E qual a receita para o ABC voltar a caminhar tranqüilo na série B?

Estamos trabalhando para isso, buscando as soluções. Só peço, para todos, um pouco de paciência. Tem situações, que precisam de um pouco mais de tempo. Principalmente, quando você tem problemas de contusões importantes e setores que precisam de um pouco mais de tempo para conseguir os ajustes necessários.

Conversou algo sobre dispensas?

Não participei de nenhuma dispensa. As dispensas que foram feitas, não foram feitas por mim. Agora, pode ser que, futuramente, eu participe disso, que peça alguma dispensa. Foi o que coloquei desde o início. Quem está comprometido com o projeto do ABC ou  não.

Foi divulgado que você já tinha um acordo com o Mogi Mirim, para o campeonato paulista de 2012. Até que ponto isso é verdade?

O que eu tenho é um acordo verbal com o Mogi Mirim. Não teve nada de contrato assinado. Tenho sim, um carinho muito grande com o clube, que no meu retorno da Europa, foi o primeiro a me dar uma oportunidade. Tenho uma relação muito boa com os dirigentes. Mas, nesse momento, não tenho que pensar nisso. Agora, é  o momento de fazer o ABC grande. O que vai acontecer na frente,  depois decidimos.

Já o relacionamento com os dirigentes do Criciúma, parece não ser tão amigável assim…

Se analisar o lado pessoal, do meu relacionamento com as pessoas, não tem problema nenhum. A cultura da cidade é assim. Ë a maneira deles de fazer futebol. As vezes, procurava respostas e não encontrava. Peguei a equipe na décima terceira posição e entreguei em quinto lugar. Fiz um processo de remodelação da equipe, tanto na parte tática, quando na técnica e física, trocando jogadores, sem deixar a equipe cair de qualidade. Mas, as pessoas acharam que isso não foi o suficiente, que tinha algum tipo de problema. Mas, essa é uma questão que não cabia a mim.

Você teve uma experiência como treinador no futebol europeu.  O que aprendeu lá, que está utilizando aqui?

Principalmente as questões táticas e de posicionamento. Mas, a minha grande escola foi aqui. Pude vivenciar grandes treinadores, como Telê Santana, Paulo Autuori, Tite, Carlos Alberto Parreira, Muricy Ramalho. Mesmo não trabalhando ao lado, trabalhar próximo. Comprar as ideias para poder vivenciar no meu dia a dia.

O elenco do ABC está junto há quase um ano. Você notou algum tipo de problema de relacionamento?

O grupo se relaciona super bem, me receberam bem e o trabalho vem sendo muito bem conduzido.

Contra o Americana, você vai ter mais tempo de treinamento. Já vai conseguir colocar sua ideias no time?

Irei ter seis blocos de treinamento e já vai dar para colocar alguma coisa no time. E, dentro disso, firmar alguns conceitos. A partir daí, tentar colocar alguma coisa de diferente, para não ser mesmo o de sempre, porque senão, fica fácil para o adversário.

No elenco profissional do ABC, tem jovens da base. Já podemos esperar que algum deles apareçam no time?

Gosto de trabalhar com os jovens. Fiquem atentos, que a qualquer momento, pode aparecer alguma surpresa no time.

Como é o relacionamento de Guto Ferreira com a imprensa?

Ninguém gosta de ser criticado, mas sou muito tranqüilo em relação a isso. Já fui muito chato com a imprensa. Mas, isso não leva a nada. O que não gosto é de jornalista maldoso. Isso existe em todo lugar e o que eu posso fazer é continuar trabalhando e fazendo as coisas pela minha cabeça. Não vou pela cabeça dos outros.

Luiz Felipe Scolari disse certa vez, que, se errar, erra pela própria cabeça e não pela cabeça dos outros. É assim mesmo?

Comigo, sim. Sou muito de escutar as pessoas que me cercam, mas, quando tomo uma decisão, podem me falar mil vezes que estou errado, mas vai entrar por um ouvido e sair pelo outro. Erro pelas minhas convicções.

O comportamento do jogador fora de campo lhe preocupa?

Não sou de ficar vigiando jogador, querendo saber o que ele faz fora de campo. Jogador tem que resolver na hora do jogo. Se alguma coisa está atrapalhando seu desempenho, eu não penso duas vezes em tirá-lo do time. Vocês puderam perceber na partida contra o Barueri. Se eu sei que o atleta pode dar 100% e ele só me dá  10%, não tenho motivo nenhum de deixar ele no time.

O que a torcida pode esperar do time de Guto Ferreira?

Muita determinação. Aqui não vai ter jogador que não entrega dentro de campo, que não corre, que não batalha pela vitória. Se não for assim, ou sai o jogador ou sai o técnico.

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