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Nada sincronizado

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Felipe Gurgel
Repórter de Esportes

A música dá o tom e determina o ritmo. Dentro da piscina, a concentração é fundamental para um bom desempenho e a repetição faz toda a diferença na hora de ensaiar uma coreografia. São horas de treino até alcançar o objetivo desejado. Quem vê de fora, pensa que é fácil ser atleta do nado sincronizado. Mas, não é bem assim. Como em qualquer outro esporte, a dedicação é importante para não errar nas provas, seja individual ou no dueto. “Às vezes é cansativo, mas é o que gosto de fazer. Por isso que sempre estou aqui na piscina”, revela Isabelle Carneio, de apenas nove anos de idade e que conquistou três medalhas no campeonato brasileiro da modalidade, realizado no final de semana passado, na Paraíba. Fora duas de bronze e uma de prata, se destacando como a melhor atleta potiguar na competição.
Enquanto, dentro das piscinas, as atletas potiguares vão conquistando resultados expressivos na modalidade, fora delas as dificuldades, por falta de patrocínio, complicam o desenvolvimento do esporte
Ela foi vice campeã brasileira na prova de solo, na categoria infantil principiante, além de bronze no dueto, ao lado de  Maria Clara Pinheiro, de 12 anos e tinha como reserva, Luana Ramalho. Na classificação final, a escola ED/HC, da qual faz parte, ficou em terceiro lugar, perdendo apenas para clubes de renome no cenário nacional, o Flamengo e Tijuca, ambos do Rio de Janeiro.

Mas, até chegar a esse ponto de participar de competições e conquistar medalhas em âmbito nacional, o trabalho é difícil. A começar pelo fato de que o apoio ao esporte amador, no Rio Grande do Norte, seja público ou privado, é quase nulo. Tudo acaba dependendo da ajuda financeira dos pais ou familiares, para que as atletas consigam treinar e participar de campeonatos de alto rendimento. “É muito difícil, o investimento é alto e acaba que não temos ajuda de quase ninguém, fica tudo por nossa conta. E, para quem não sabe, praticar nado sincronizado é dispendioso. A cada coreografia, é um maiô diferente e esse material é caro. E, para mim, que tenho duas filhas no esporte, acaba ficando mais pesado”, desabafa Cláudia Carneio, mãe de Isabelle e também de Geovanna Carneiro, que conquistou medalhas no brasileiro no ano passado e está em Fortaleza/CE, disputando os Jogos Escolares da Juventude.

E não é só com o material de treinamentos que os pais tem gastos com as filhas. Como elas treinam e representam a escola nas competições, é preciso pagar uma mensalidade para que, tanto Isabelle, quanto Geovanna, sigam perseguindo seus sonhos de se tornarem atletas de destaque no nado sincronizado.

“Como eu tenho duas filhas, acabo pagando quatro mensalidades de esportes, já que, além do nado sincronizado, elas também fazem natação. Ou seja, são quatro mensalidades, o que acaba pesando no final do mês. Mas, não posso deixar de realizar esse sonho delas, que gostam de nadar e se sentem bem com o que fazem”, afirma Rommel Carneiro, pai das meninas.

Além da satisfação de poder acompanhar as filhas nos treinos e nas competição, para Cláudia, o esporte é importante em vários fatores para a formação de caráter das suas filhas. “O esporte lhe dá foco, confiança, responsabilidades e isso é bom para elas, que ainda estão em fase de crescimento, além do que, aqui, elas vão poder lidar com as vitórias e derrotas. Por isso que sempre motivamos nossas filhas para que elas continuem treinando, independente das dificuldades que apareçam”, afirma.

Esporte vem conquistando adeptos
O Nado Sincronizado (NS) pode ser considerado um esporte competitivo individual, ou por equipe, ou ainda uma forma de representação artística. Na sua forma competitiva, o NS é um desporto aquático que engloba quatro provas: figuras, rotina técnica, rotina livre e rotina livre combinada. A primeira refere-se a uma apresentação individual de quatro figuras, pré-determinadas pela regra sendo dois obrigatórios e 2 por sorteio; a segunda compreende a realização de movimentos de uma ou mais pessoas sincronizada entre si e com a música, construída com base em movimentos pré-estabelecidos na regra e de outros movimentos livres para comporem a rotina.

A terceira também compreende a realização de movimentos de uma ou mais pessoas sincronizadas entre si e com a música, tendo, entretanto sua  construção, por base em movimentos livres e sem restrições. A quarta é uma rotina livre que combinam em uma só rotina três das provas de NS quais sejam solo, dueto e equipe.

No século XIX, surgem os primeiros indícios do aparecimento futuro do NS, quando de uma demonstração realizada na Inglaterra, em 1892 , para o rei Eduardo VII e sua corte. Já no início do século XX, o esporte configurava-se por meio de uma versão próxima à atual encontrada no Canadá, Holanda, Alemanha, Bélgica e França com diferentes terminologias: Natação Artística, Entretenimento Náutico, Balé Aquático, Natação Fantasia e Natação Ornamental. Em 1934, o termo Nado Sincronizado foi citado pela primeira vez por Norman Rios, na Feira Mundial de Chicago.  No Brasil, registros encontrados apontam o estado do Rio de Janeiro como sendo o ponto de partida do NS durante a década de 1940.

Pais bancam a ida da técnica nas competições
O incentivo para que as atletas continuem realizando seus sonhos de disputar competições aqui no Rio Grande do Norte, como fora do Estado, não vem apenas dos pais. Fora da água, na borda da piscina, está, em todo treino a figura de Rozanna Mattos, técnica da equipe ED/HC de nado sincronizado. É ela que deixa as meninas prontas para competir. Por isso, em todo treino é muita cobrança, muita atenção para consertar algum defeito nas coreografias, que podem fazer a diferença na escolha dos juízes. Por isso a treinadora sempre está atenta aos mínimos detalhes.

“É necessário ter essa atenção, essa cobrança nos treinamentos, para que, na hora da prova, elas fazem tudo correto e que diminuam a probabilidade de erros. Por isso que participo mesmo dos treinos, mostrando o que errou, o que precisa melhorar e o que estamos bem”, afirma Rozanna.

Como no Rio Grande do Norte não se tem a cultura de treinar em clubes, as equipes são formadas pelas atletas de suas escolas, que viajam separadamente. O que se torna um problema a mais, já que as atletas potiguares acabam sendo rivais entre elas mesmo. Um falha na opinião da treinadora.

“Aqui deveríamos ter um clube que representasse o Rio Grande do Norte. Com isso, seria até mais fácil conseguir patrocínio, investimentos para que o nado sincronizado tivesse resultados ainda melhores. Para se ter uma ideia, algumas meninas daqui, disputaram provas com atletas que estava no Pan do Canadá. E, mesmo assim, ainda conquistamos bons resultados”, revela.

A diferença entre o que é investido no esporte no Rio Grande do Norte e em grande centros, como o Rio de Janeiro, é muito diferente. “A delegação do Flamengo conta com vários técnicos, nutricionistas, preparadores físicos. Muito diferente daqui”, revela Rozanna.

Dificuldades
E de dificuldades Rozanna Mattos entende bem. Isto porque, na hora em que suas atletas precisam viajar, ela tem que contar com a ajuda dos pais das alunas para poder acompanhar a delegação nas competições. “Para o Brasileiro, que foi em João Pessoa/PB, a escola disponibilizou um ônibus para as atletas irem.  Mas, somos nós, os pais, que temos que arcar com a hospedagem, alimentação, tudo, inclusive da técnica. Para ela poder viajar, nós que bancamos. Os pais se juntam e dividem os custos. É muito importante que Rozanna vá com as meninas nessas competições, porque ela que é a técnica e sabe o que é bom para as atletas”, afirmou Cláudia, mãe de Isabella.

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