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“Não há uma política para incentivar o mercado”

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Isaac Lira – Repórter

Após 2003, o cenário da carcinicultura no Brasil sofreu uma drástica modificação. Se até aquele ano, exportar para Europa e Estados Unidos era vantajoso, hoje a produção brasileira tem sido direcionado quase que exclusivamente no mercado interno. Os motivos para essa mudança são a desvalorização do dólar e o processo de dumping movido contra o Brasil e outros países nos Estados Unidos. Dumping é quando se vende um produto abaixo do preço de produção. Com o novo panorama, o setor tenta crescer explorando o mercado interno.

Mas, para Itamar Rocha, presidente da Associação Brasileira de Criadores de Camarão, a falta de incentivo também pesou para perder as vendas para o exterior. “O Governo não incentiva de jeito nenhum”, aponta,
Entrevista / Itamar Rocha /presidente da Associação Brasileira de Criadores de Camarão
A produtividade do setor de carcinicultura será abordada no Projeto Motores do Desenvolvimento do Rio Grande do Norte, realizado pela TRIBUNA DO NORTE, Salamanca Capital Investments, UFRN, Sistema FECOMERCIO/RN e Sistema FIERN, com patrocínio do Sebrae, Companhia das Docas do Rio Grande do Norte, Associação Brasileira de Criadores de Camarão, Associação Norte Riograndense de Criadores de Camarão e da Assembléia Legislativa do RN. O tema será PESCA, AQUICULTURA E CARCINICULTURA. O Seminário, quarta edição de 2012, será realizado no próximo dia 19 de novembro, no auditório da Fiern, às 8h. Este é o quinto ano do projeto Motores do Desenvolvimento e o tema Pesca, Aquicultura e Carcinicultura o 16º tema trabalhado desde que o início, em 2008. Outras temáticas, como indústria, inovação e tecnologia, educação, turismo, já foram abordadas pelo Motores do Desenvolvimento. As inscrições são gratuitas e já estão abertas, porém as vagas são limitadas. Para se inscrever, é necessário ligar para os telefones 4006.6120 ou 4006.6121, durante o horário comercial.

O que aconteceu com as exportações de camarão no Rio Grande do Norte?
O Brasil praticamente não exporta mais. No ano passado toda a exportação do Brasil foi de 250 toneladas de camarão. Nós já exportamos mais de 70 mil toneladas no ano. O RN já chegou a exportar mais de 21 mil toneladas. Toda a exportação em 2011 de camarão de cultivo foi 108 toneladas.

Por que isso aconteceu?
Questão de competitividade. No Brasil, o camarão tipo A, o melhor que existe, e o tipo que a Europa consome, sempre era visto com defeitos pelos europeus. Eles são muito exigentes. Se estivesse amarelado, com pontinho preto, etc, era um defeito. Com mais de 10 defeitos, eles devolviam. Então, o que acontecia? Ia para os Estados Unidos. Foi assim muito tempo. Mas lá saturava também. Então, se vendia para o mercado interno. A ordem era: primeiro, Europa; depois, Estados Unidos; e por último, o mercado interno. Por muito tempo, o mercado interno foi o último da fila e ficava com as sobras. Nós perdemos o mercado interno com o dumping, em 2004. Aí nós perdemos o segundo mercado e ficou tudo no próprio Brasil. Nesse ponto, veio a desvalorização do dólar. Perdemos a competitividade nas exportações e ninguém mais se interessou pelo mercado da Europa. O camarão tipo A e B ficou no mercado interno. Nós começamos a mudar a estratégia e o Brasil passou a consumir esse camarão de ótima qualidade. Nós chegamos ao ponto de ano passado quase todo o camarão ficou no Brasil. Em 2013, todo o produto ficará no próprio Brasil.

A crise na Europa influenciou?
Não, porque o camarão nunca foi caro. O camarão custa entre R$ 10 e R$ 12 o quilo. O ministro, inclusive, quis abrir as importações porque dizia que o camarão brasileiro é caro. Ora, um quilo, na fazenda, é R$ 10. Mas um quilo de costela de bode é R$ 12. Tirando todo o osso fica R$ 25. O de camarão se você tirar a casca e a cabeça dá R$ 20. Ninguém está dizendo que carne de bode é caro. Mas a de camarão acham caro. Mas o brasileiro consome quilos de carne vermelha e só 600 gramas de camarão.  Não há uma política de incentivar o mercado. O Governo prefere importar e criar empregos na Ásia, enquanto aqui criou o seguro-defeso. Mais de 600 mil pessoas receberem R$ 1,9 mil o ano passado para não fazer nada. Isso porque não se priorizou a produção. Enquanto a Ásia está na frente. Esse ano vamos chegar a 100% de consumo de camarão no mercado interno e ainda importamos. Era somente 23% em 2003, a participação do mercado interno.

Não há incentivo?
O Governo não incentiva de jeito nenhum. Ele atrapalha e muito. No RN, tem 560 produtores ou mais e esse pessoal não tem licença ambiental. E falta para quem? Para o micro e o pequeno empreendedor. Esses empreendedores estão fazendo uma revolução na inclusão social, porque eles pegam os recursos que nós temos em abundância – água salgada, clima e terras improdutivas – e estão transformando em oportunidade de renda, emprego e negócio. E o Governo faz o que? Aqui do lado eu tenho um dinheiro competitivo, com juros baixos, dois anos de carência, mas vá no Banco do Nordeste para ver quem pegou o recurso? Quem pegou o recurso para investir em camarão ou qualquer outro produto similar nesse estado? Ninguém. E isso porque o Banco pede a licença. Quem dá a licença é o Governo do Estado.

O que está acontecendo? Qual o problema?
Não sei se o órgão ambiental não tem condição de estrutura. O que eu sei é que ele não dá a licença. Como o Governo exige uma coisa que o próprio Governo deve fornecer e não fornece? O pessoal não está licença não é por má vontade não. O que tem sido feito é mandar explodir viveiros de camarão. O cara tem vários filhos, explora um viveiro há 50 anos e vai o Exército explodir o viveiro do sujeito. Não se olha para a inclusão social. Se estão fazendo errado, é preciso ensinar a forma correta. O produtor usa terra improdutiva, água salgada, e consegue fixar as pessoas no interior. São famílias que deixam de vir para a capital utilizar a nossa já precária infraestrutura de saúde, educação, etc. É um herói.

Quando começou a carcinicultura no RN?
O primeiro programa que eu participei de um programa em 1981. Mas em 1972, 1973, já existia um programa capitaneado pela Emparn. Então, são 40 anos de produção e o povo do Rio Grande do Norte continua acreditando em conversa da carochinha. O Brasil tem 1,5 milhão de hectares de mangue e não produz peixe de nada. A China tem 17 mil hectares e produz 35 milhões de toneladas de peixe marinho. Nós estamos deixando um bando de incompetentes tomarem conta e barrarem o desenvolvimento.

A relação com os órgãos ambientais sempre foi tensa. Isso continua?
O Brasil era uma ameaça permanente. Em 2003, nós tínhamos a melhor produtividade do mundo. A segunda era a Tailândia. Em terceiro, a China. Hoje eles estão na frente. O Brasil tem muita área para a aquicultura e esses países sempre tiveram muito medo do nosso país. Se o Brasil avançasse, com esse potencial, engoliria o negócio da Ásia. O mais fácil era investir nesse pessoal de universidade, que não é biólogo, não é engenheiro de pesca e não entende nada, além de alimentar só com informações negativas. Foi o que esses países asiáticos fizeram. Os estudos sérios que existem são extremamente favoráveis ao nosso negócio. Estatisticamente a água da despesca é melhor que a água que entra nos viveiros. Isso é um estudo feito nos viveiros do Ceará. Há mais de 30% menos coliformes fecais na água que sai. Um professor de Pernambuco analisou uma fazenda na Paraíba e percebeu a mesma coisa. Esses ambientalistas são perigosos. Eles ficam no terreno fértil da ignorância e enganam as pessoas.

Qual o caminho para mudar isso?
O Rio Grande do Norte possui 95% da produção de sal do Brasil e deixou colocarem no código florestal que só poderia se usar 30% das áreas de salgado e apicum. Nós somos os incompetentes. É difícil. São duas atividades que não dependem de chuva: o sal e o camarão. E ainda deixam colocar restrição.

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