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Não sou bígamo, mas tive dois amores

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Nome: Claudio Fernando Ramos
E-mail: [email protected]

(crônica)
Homenagem aos 30 anos da conquista do mundial de clubes pelo C R Flamengo.

Por: Claudio Fernando Ramos Natal-RN, dezembro de 2011

Enquanto o país sofria com a crise econômica na década de oitenta. Uma outra nação regozijava-se com o brilho de suas constelações. Para os economistas: a década perdida. Para os Rubro-Negros: a década vencida.
“Sou tricolor de coração…” Desde a minha mais remota história de vida torço pelo clube das Laranjeiras. De forma análoga ao que ocorre com a maioria das pessoas, se não com todas, sofri influência dos parentes. Quando o assunto era futebol, as imagens, os sons e as emoções que me eram apresentadas tinham três cores: verde, branco e grená. Dessa forma fui apresentado ao meu primeiro grande amor: Fluminense FC.
Em uma sociedade onde se valoriza as ações individuais, a espontaneidade e as escolhas pessoais, dever-se-ia tratar como sacrilégio imperdoável a forma, nada democrática, como se busca recrutar novos torcedores no ceio das famílias… Não há escolhas. Cadê a filosofia sartriana (“O homem está condenado a ser livre!”)?
Ao longo de toda a minha infância não houve qualquer problema com o meu casamento tricolor. Durante décadas os tricolores foram os maiores campeões do Estado. Eu vibrava com isso. Porém as coisas mudaram significativamente com o início de minha adolescência. Aos quinze anos de idade, mais consciente do significado de uma vida a dois, fui apresentado a outro clube carioca. Que fique claro que não foi um clube qualquer, da existência desses sempre fui consciente, essa apresentação foi um caso singular, me apresentaram uma seleção: Raul (goleiro), Leandro, o Peixe Frito (lateral-direito), Marinho e Mozer (zagueiros), Júnior, o Capacete (lateral-esquerdo), Adílio e Andrade (volantes), Zico, o Galinho de Quintino (meia), Tita e Lico (pontas de lança), Nunes, o Cabeça de Bagre (centroavante), Paulo César Carpeggiane (técnico).

A partir desse momento não pude mais ser o mesmo. Naquele instante senti pelo Flamengo o que hoje se sente pelo melhor clube da Espanha (Barcelona), o que se sente pelo camisa dez do Santos (Neymar), o que se sentiu por Romário (EUA 94) e por Ronaldo (Coréia-Japão 2002). Não tive nem tempo para dar atenção às vozes da rivalidade. Fui fisgado.

O Fluminense nunca perdeu importância em minha vida, mas teve que reparti-la com o Flamengo; sendo assim, durante toda a década de oitenta, tive dois amores. Confesso, sem nenhum constrangimento, que nesse período, nas poucas vezes em que fui ao Ginásio Mário Filho (Maracanã), cinco no total, três foram para ver o Flamengo jogar.
Sinto saudades daquela época, saudades de minha dupla identidade, saudades daquele Flamengo Campeão Mundial no Japão sobre o poderoso da Inglaterra (Liverpool). O Flamengo de hoje em nada me lembra o de ontem. Por conta disso estou mais sossegado, dedico-me, de forma exclusiva, ao meu maior e primeiro amor. Não houve sequelas, caminhamos firmes para as bodas de ouro.
Quanto à prática da bigamia, não me julguem os tricolores nem os de outros clubes. A prática pode até ser criticada e rejeitada moralmente, mas não se enganem, ela é bem mais comum do que se imagina. Você conhece alguém que tenha ou já teve dois namorados (as)? Que torça ou torceu para mais de um clube? Que tem ou teve ídolos de várias equipes? É provável que sim. Mas afinal, qual é o seu caso?
Cacau :¬)

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