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Narrativa para além do fundo do poço

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Tádzio França – repórter

Longe de casa, porém mais próximo de quem pensa a literatura como algo essencial. Estabelecido em São Paulo há dois anos, o natalense Thiago Barbalho refez sua vida nas letras, e vem à capital potiguar para lançar seu primeiro livro, o romance “Thiago Barbalho vai para o fundo do poço”, neste sábado, às 19h30, no Jazzy Rock Bar. O livro sai pela Edith, selo editorial do pernambucano Marcelino Freire, cujo mote é “não esperar pelos outros para fazer o que se quer”. Literatura de ideal punk.
Formado em Filosofia pela UFRN, aos 19 anos Thiago recebeu menção honrosa no Prêmio Othoniel Menezes de Poesia. Depois, partiu para Amsterdã e, no retorno, se estabeleceu em São Paulo. Hoje, é editor assistente da Publifolha, o braço editoral da Folha de S. Paulo.
“Já me perguntaram se é um livro autobiográfico, por ter meu nome no título, mas não é. Faz parte de uma série que a Edith está lançando, em que o autor deve escrever sobre a ida para um lugar que não existe. Um tema que dá espaço a muitas ideias”, diz Thiago Barbalho, 28 anos, explicando que não está no “fundo do poço”.    Formado em filosofia pela UFRN, ele mora e trabalha em São Paulo há dois anos, atualmente como editor assistente da Publifolha, a editora do jornal Folha de São Paulo.

O Thiago personagem do livro é um adolescente atormentado por pesadelos, às voltas com o tédio cotidiano e as descobertas da idade. Enfurnado em casa, apesar das férias, ele mata o tempo com videogames, uísque e música. Relembra a infância turbulenta e sente falta de Farto, seu porquinho-da-índia que está morto e enterrado no quintal. Em casa, as coisas não vão muito bem, devido à crise entre a mãe e o padrasto. Ao pensar num lugar no mundo que seja só seu, Thiago só imagina um: ao lado de Farto, no quintal. Ele cava um buraco no quintal, onde espera se sentir acolhido diante da falta de sentido da vida. O livro ainda conta com desenhos do artista plástico Júnior Suci.

EXPERIÊNCIA E TRANSIÇÃO DA POESIA À PROSA
“De certa forma, o livro pode ser encarado como um romance de formação, já que o personagem  é obrigado a amadurecer”, analisa Thiago. Ele mesmo, apesar da pouca idade, passou por vários estágios até amadurecer suas ideais sobre o que realmente gostaria de fazer na vida. Thiago escreve desde a adolescência, antes, com bastante dedicação à poesia. “Achava que a poesia seria meu caminho natural numa futura carreira literária”, conta.

Ele chegou a receber menção honrosa  numa edição do concurso literário  Othoniel Menezes, aos 19 anos. Houve um momento de desencanto com a poesia e, após se formar em Filosofia, Thiago largou tudo e foi para Amsterdã, na Holanda, onde trabalhou como babá.

A experiência holandesa fez com que Thiago mudasse sua relação com a escrita. “Passei a fazer textos em prosa sobre meu cotidiano na Holanda. Sempre inventando alguma coisa em cima, criando histórias. Foi assim que passei a escrever contos”, diz. De volta ao Brasil, Thiago tentou a faculdade de Direito, mas bateu o sentimento de inadequação. “Amo Natal, mas o clima provinciano, a mente fechada das pessoas, começaram a me incomodar demais. Decidi ir para São Paulo”, conta. Por lá, passou momentos difíceis. “Cheguei sem perspectiva alguma. Seis meses desempregado, morando de favor na casa de amigos”, ressalta.

Encontro com Marcelino e Glauco Mattoso

Houve, para Thiago, a oportunidade de articular ideias junto a pessoas com um interesse em comum: fazer literatura. “Conheci o Marcelino Freire por acaso, apresentei uns textos meus e ele gostou. Nesse momento já existia o selo Edith, com a proposta de publicar quem já tem algo a mostrar, de forma independente”, diz. Ele conta que também foi a uma palestra de Glauco Mattoso, de quem é leitor, fez contatos, mandou textos seus, e teve alguns publicados na página do escritor. “Achar os seus comuns é fundamental, e eu achei os meus aqui em São Paulo”, ressalta.

O escritor natalense acredita que sua geração, pega em meio à revolução da Internet, sabe que a literatura tem agora várias formas de se mostrar. “Correr atrás ainda é fundamental, isso não mudou. A oferta de ferramentas para isso é que cresceu”, diz. “Em São Paulo tive contato com escritores da minha idade, gente que lê a literatura de hoje, troca impressões. Eles têm um jeito libertador de escrever, sem amarras, que me influenciou bastante”, afirma. Thiago é apreciador de literatura russa – uma de suas grandes influências -, do filósofo Cioran, e de brasileiros como Glauco Mattoso e Juliano Garcia Peçanha.

Há hoje muitos caminhos para escritores jovens. Atualmente, houve polêmica no meio envolvendo o lançamento de “Os melhores jovens escritores brasileiros”, publicação da revista inglesa Granta, cobiçada por muitos autores. “Não me surpreendi, já que a Granta sempre funcionou selecionando os nomes de peso do momento. Quem não foi selecionado é que deve se mexer mais, pensar amplamente, fazer o seu. Há tantas formas de se mostrar…”, opina. “Intervenções urbanas, artes plásticas, um blog… se você tem algo a dizer, pode falar de várias formas”, completa.

Thiago conta que já superou seu desânimo com a poesia e anda escrevendo bastante atualmente. “Nunca pensei, mas ando escrevendo muito sobre desilusões amorosas. Eu sei que é clichê, mas tem sido bom, uma catarse pessoal”, brinca. Mas os versos ficarão para mais tarde. Ele tem um livro de contos já pronto, e deve batalhar para lançá-lo no próximo ano.

Confira um trecho do livro aqui.

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