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Nasce um maracatu potiguar

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Yuno Silva – Repórter

O sangue que corre nas veias do norte-riograndense é tão colorido como o de qualquer outro brasileiro; e o branco dos portugueses, holandeses e franceses, a pele vermelha dos potiguaras e a negritude africana, em maior ou menor proporção, formam o caldo cultural que borbulha na esquina do continente. Apesar da mistura nacional, em Natal a comunidade negra permaneceu ‘invisível’ aos olhos da cidade por muitos anos, décadas – e por que não dizer séculos. Os reflexos são sentidos na pele pelo percussionista Kleber Moreira, natalense da gema que cansou de ser confundido com baiano, maranhense ou carioca. “Sempre me perguntavam de onde eu sou, de onde venho, como se não houvesse negros por aqui”. Aos 29 anos, Kleber faz parte de uma nova geração de afro-descendentes que estão mostrando a cara e assumindo com orgulho suas origens, situação que culminou com a criação da primeira Nação de Maracatu em Natal.
O Zamberacatu fará apresentações na praia do Meio e na Cidade Alta, durante o Carnaval, com direito a coroação da Rainha Iracema em frente a Igreja do Rosário
Batizado como Zamberacatu, o grupo surgiu em outubro do ano passado como desdobramento de outro projeto musical, o Poti Axé, com a diferença de que o embasamento para justificar sua existência deixa de ser apenas o batuque. “Há uns dois anos aprofundamos a pesquisa em torno dos ritmos africanos e sentimos a necessidade valorizar nossa africanidade e o maracatu tem um simbolismo muito forte por coroar um rei e uma rainha negros”, observou Moreira. Em novembro o grupo começou a realizar ensaios abertos em vários pontos da cidade como zona Norte, Vila de Ponta Negra, Pedra do Rosário, o ponto de cultura Tecesol em Neópolis e em Capim Macio, onde participaram da 8ª edição do Brechó Cultural no último domingo dia 3.

Se for comparar com os grupos pernambucanos, o formato adotado pelos potiguares segue o perfil do baque virado, o maracatu nação, que tradicionalmente acompanha um cortejo real – diferente do maracatu rural com seus caboclos de lança.

“Como não temos nações de maracatu aqui em Natal, tivemos que experimentar, criar e aprender; e para o trabalho ficar com a nossa cara misturamos o Zambê, que é só nosso”, disse Kleber Moreira, que há onze anos está envolvido profissionalmente com música. Além de participar de vários projetos e bandas, como Saturnino e o Disco Avoadô, ele também dá aulas de percussão na Escola de Música da UFRN.

Quando o maracatu natalense está completo reúne cerca de 25 integrantes, que se dividem em cinco tipos de instrumentos (alfaia, caixa, tarol, gonguê e abê): “São pessoas envolvidas por essa atmosfera”, avisa. O percussionista ressalta que o grupo possui uma fundamentação religiosa e alguns músicos são iniciados no Candomblé. “Durante nossas pesquisas topamos com Preta Caiá, uma potiguar que participou do movimento popular que entrou para a história como ‘Revolta de Quebra-Quilos’ (Paraíba, 1874), figura da história que tomamos como representante dos nossos ancestrais”, explicou o percussionista.  Em tempo: a “Revolta de Quebra-Quilos” foi deflagrada em Campina Grande (PB), se estendeu por outros estados do Nordeste e foi protagonizada por camponeses que se opunham à introdução dos novos padrões de pesos e medidas do sistema internacional no Brasil.

CARNAVAL

O Zamberacatu participa em duas ocasiões do Carnaval na capital potiguar. A primeira maracatuzada acontece na quinta-feira pela manhã, com concentração às 8h na Ponta do Morcego. O grupo segue em cortejo a partir das 9h até a estátua de Iemanjá na Praia do Meio. “Essa tocada não está na programação oficial, mas a da sexta-feira sim”, adiantou Kleber. No dia 8, o maracatu segue em cortejo da Igreja do Rosário na Cidade Alta até o Beco da Lama – a concentração está marcada para às 16h e o cortejo começa às 17h. “Vamos coroar nossa rainha Iracema em frente ou dentro da igreja, vai depender do padre, antes de sair em cortejo”, informa.

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