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Natal está mais quente e sufocante

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Sol forte e pouco vento. Essa combinação resultou num março de calor “anormal” na Região Metropolitana de Natal. As temperaturas máximas do período, que  geralmente vão de 29 a 30 graus, alcançaram a marca dos 31. Nas ruas, a sensação térmica experimentada pelo natalense chegou à casa dos 39 graus, durante os dias mais quentes. A mudança abrupta ocorreu devido a fatores repentinos, mas os especialistas confirmam que a temperatura média da Grande Natal está mais quente e a tendência é piorar. Em meio século, entre 1960 e 2010, os termômetros registraram um aumento de 1,5 grau nas médias anuais da região metropolitana.

A diferença pode parecer pequena, mas o meteorologista Gilmar Bristot, da Empresa de Pesquisa Agropecuária do RN (Emparn), garante que não. O terceiro mês de 2014 foi mais quente porque a região teve menos ventos que o esperado. Uma variação na pressão sofrida pelo oceano Atlântico foi o fator que levou para outras regiões, os ventos que se deslocariam para o Nordeste. “Sem o vento, a umidade fica parada. E umidade parada retém o calor”, explica o especialista. É esta a sensação “abafada”, sentida pela população.
Aumento da temperatura acelera desertificação no Seridó e ilha de calor em Natal obriga a população consumir cada vez mais água
Já o avanço das temperaturas   médias é o mais preocupante e está relacionado à urbanização e industrialização de Natal. “Isso acontece devido à construção de mais prédios, impermeabilização do solo, retirada do material verde, concentração de veículos… A tendência é formar uma ilha de calor. E não tem como reverter isso. Podemos apenas amenizar com a utilização de transporte coletivo, das tecnologias de combustíveis renováveis e redução dos combustíveis fosseis”, coloca.

#SAIBAMAIS#O aumento da temperatura em Natal foi bem maior que o registrado em todo o Planeta. Para se ter uma ideia, entre 1880 e 2012, a temperatura do globo aumentou 0,82º, de acordo com relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês). Segundo Bristot, são os grandes centros urbanos que se tornam “ilhas” e acabam transferindo calor para Terra.

Cobrir a cabeça com os documentos que carregava, foi a melhor forma encontrada pelo funcionário público José Reinaldo da Silva, de 57 anos, para  enfrentar o sol e o calor no Centro da capital, durante o início da tarde na última sexta-feira (4). Morando na cidade desde 1987, ele revelou que percebeu a  mudança da temperatura durante as décadas e, ainda mais, no último ano.  O mestre de obras Damião Almeida, 49, comprou uma garrafa de água para repor o que fora perdido no suor de poucos minutos de caminhada. “Está muito quente e abafado. O vento diminuiu e tem pouca chuva”, declarou.

Ao contrário dele achar que não, as chuvas permanecem dentro da normalidade, de acordo com a Emparn. “Se aumentar um, dois ou três graus, isso não vai influenciar a quantidade de chuva, mas o comportamento dela. A água, por exemplo, fica menos tempo à disposição e logo evapora”, avalia Bristot. “Os jovens não percebem essas mudança, porque ela ocorre gradativamente ao longo do tempo. Mas quem conheceu Natal antigamente sabe disso”, acrescenta.

Para o professor Ricardo Ojima, do Departamento de Demografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o aumento da população tem grande influência sobre as mudanças no clima. Porém, deve-se observar mais ainda os padrões de consumo da humanidade. “Na verdade, a intensidade do crescimento populacional de hoje já é muito baixo e as taxas de crescimento da população nas idades jovens já é negativa há algum tempo. Natal e Parnamirim, por exemplo, apresentam uma taxa de fecundidade de 1,6 filhos por mulher. E a taxa de reposição da população seria de 2,1 filhos por mulher. Apesar disso, poucas são as chances de que as emissões de GEE (gases do efeito estufa) no país diminuam. Ao contrário, com uma população menor e mais envelhecida, a tendência é que o padrão de consumo aumente mais ainda”, argumenta.

Também existem correntes científicas que acreditam que não é a interferência humana a causadora do aquecimento global. Para o professor Luiz Carlos Molion, meteorologista e professor da Universidade Federal de Alagoas, a Terra passa, atualmente, por um ciclo natural. A reportagem entrou em contato com o professor, que aceitou ser entrevistado por e-mail. Até o fechamento da reportagem, porém, as perguntas não foram respondidas.

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