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Nem o humor se livra da queda

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Valério Andrade
Crítico de Cinema

Seria uma ilusão, uma esperança surrealista, esperar que se faça em Hollywood comédias como as que foram produzidas durante três décadas consecutivas. Com a ausência de Billy Wilder e Frank Tashlin, para citar dois mestres dos 50, cuja diversidade estilística de ambos mostra a criatividade cinematográfica da época, o que era regra virou exceção. Não tem essa de saudosismo. Basta comparar “Amor na Tarde” e “Sabes o Que Quero” para medir o abismo artístico que separam aquelas comédias de “O Noivo da Minha Melhor Amiga” (“Something Borrowed”) e das demais exibidas periodicamente em Natal.

Amigas disputam o mesmo noivoQuando cito o mestre Billy Wilder, não posso deixar de pensar no médico Ernani Rosado, que é o nosso maior admirador e conhecedor da obra do cineasta de “Sabrina” – a primeira versão, é claro. Será que o querido e bem humorado Ernani perdeu o seu habitual bom humor e estragou o seu final de semana cinematográfico indo ver “O Noivo…”? Não acredito, mas, se por descuido cometeu esse equívoco, deve ter saído do Cinemark super arrependido.

É óbvio que sabemos que não existe um novo Billy Wilder e nem atores com a classe de Cary Grant ou comediantes como Bob Hope, que sozinhos eram capazes de segurar o filme e manter o interesse do espectador. Por outro lado, é injustificável que a maior indústria cinematográfica do mundo faça besteiras com uma incompetência que faz qualquer antiga chanchada da Atlântida ser elevada ao patamar das obras-primas.

A frágil e repetitiva historinha de “O Noivo…” é uma variante da de Cinderela: moça feiosa conhece rapaz bonitão, mas, a sua amiga bonitona é quem o leva para a cama. Anos depois, com a dupla já formada, o rapaz bonitão finalmente descobre que sempre esteve apaixonado pela colega feiosa da faculdade, e, já a caminho do altar, desfaz o casamento com a loura tesuda. Ambos, a feiosa e o bonitão, tal qual Cinderela e o Príncipe Encantado, serão felizes para sempre.

A modernização do célebre conto infantil, que resultou em um dos grandes desenhos da Disney (1950), já serviu de inspiração para muitas histórias românticas entre adultos, entre as quais, a de “Sapatinho de Cristal” (1955), com Leslie Caron e Michael Wilding.  Por que, naquela produção da MGM, tudo funcionou, e nada funciona em “O Noivo…”? Resposta: por tudo o que diferencia os filmes americanos de ontem dos de hoje. A começar pela adaptação da história, pela sensibilidade e a criatividade da direção de Charles Walters, e, naturalmente, pela distância pessoal que separam Leslie Caron de Ginnifer Goodwin e Michael Wilding de Colin Egglesfield.

Quem assina a direção é Luke Greenfield, o que pelo menos por enquanto, não significa absolutamente nada. Kate Hudson, que caiu nas graças do crítico Rubens Ewald Filho, talvez seja tão boa como ele afirma, mas, como Darcy, é apenas aquela atriz espaçosa, que com a exuberância das louras quer roubar a cena, sempre que aparece. Se Ginnifer Goodwin é fisicamente adequada ao papel da desgraciosa Rachel, como atriz não possui 10% do charme desglamourizado de Leslie Caron.

Como galã, o novato Colin Eglesfield, embora fraquinho quando o papel exige (como nas cenas em que está sob a pressão paterna) a presença de um ator, justifica fisicamente as paixões de Darcy, a noiva, e de Rachel, a melhor amiga de sua noiva. Parecido, ele faz o possível para ficar ainda mais parecido com Tom Cruise.

Conclusão

Se você gosta de uma boa comédia, então não perca tempo e o seu dinheiro indo ao Cinemark, onde, além da mediocridade humorística, terá de suportar a conduta incivilizada da pior platéia natalense. Agora, se for apenas para comer pipoca, tomar Coca-Cola, conversar em voz alta, falar no celular, empurrar a poltrona da frente com o pé, “O Noivo da Minha Melhor Amiga” é o filmizinho certo para você fazer essas coisas.

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