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Nicolelis anuncia descoberta do “tato virtual”

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Isaac Lira – repórter

O grupo coordenado por Miguel Nicolelis deu mais um passo em direção ao objetivo de fazer um tetraplégico andar, utilizando uma veste robótica, no projeto conhecido como Walk Again. Se antes o neurocientista tinha feito um macaco movimentar um robô apenas com a força do pensamento, agora, segundo estudo publicado na revista Nature, o primata consegue sentir aquilo que toca com um “braço virtual”. De acordo com Nicolelis, esse é um passo fundamental para a concretização do projeto Walk Again, que será sediado em Natal, segundo anúncio a ser feito na próxima semana pelo Governo Federal.

Miguel Nicolelis chefia equipe de cientistas norte-americanos, brasileiros, britânicos e suíçosOs resultados divulgados hoje pela revista científica Nature demonstram uma via de mão dupla na interação cérebro-máquina. Até então, os cientistas da Universidade de Duke, coordenados por Miguel Nicolelis, haviam conseguido fazer uma macaca movimentar um robô “com a força do pensamento”. Da mesma forma como o cérebro do macaco “ordenava” o movimento de suas próprias pernas, ele enviava as informações através de um computador para um robô, que executava o movimento. Tratava-se da mente enviando informações para uma espécie de prótese, um aparelho externo. Dessa vez, deu-se o contrário.

Uma macaca conseguiu identificar uma textura através do movimento de uma mão virtual no computador. Ao invés de somente enviar a informação, a macaca conseguiu receber e processar uma informação do ambiente através de uma “prótese”. Dessa forma, fica estabelecida uma “mão dupla”, onde o cérebro interage com o ambiente, enviando e recebendo informações a partir de um aparato estranho ao seu próprio corpo.

Na experiência anterior, a prótese era um robô. Na pesquisa divulgada ontem, uma mão virtual numa tela de computador. “O cérebro conseguiu processar informações a partir de um canal tátil artificial”, explicou Miguel Nicolelis em entrevista à TRIBUNA DO NORTE. O cientista que chegou a denominar o feito de descoberta de um “sexto sentido”.

Além disso, o resultado significa mais uma fase alcançada para a concretização do projeto Walk Again. Para entender melhor: como poderíamos caminhar, por exemplo, sem conseguir sentir o chão sob nossos pés? Como poderíamos segurar um copo sem sentir a resistência do material para poder aplicar a força necessária? Miguel Nicolelis afirma que um paciente tetraplégico poderia recuperar a “sensação” das mãos e pés através de uma veste robótica. Diz o texto enviado à Nature: “Aqui nós demonstraremos uma experiência com uma interface cérebro-máquina que pode restabelecer o sentido de tato nos seres humanos“. Dessa forma, o usuário da veste robótica poderia identificar o terreno no qual está pisando ou o objeto que está segurando.

A intenção é utilizar o mesmo princípio para dar mais complexidade à experiência. Os cientistas já conseguiram provocar movimentos e “criar” uma sensação tátil. A esses dois atributos, pode-se adicionar a capacidade de perceber a temperatura do ambiente, por exemplo, tornando a interação com o ambiente a partir de uma prótese mais próxima da experiência direta do corpo humano com o mundo ao seu redor.

O Projeto Walk Again é realizado numa parceria entre cientistas brasileiros, norte-americanos, britânicos e suíços. A demonstração de um adolescente brasileiro com a veste robótica será realizada na abertura da Copa do Mundo de 2014, segundo intenção de Miguel Nicolelis e de seu grupo de pesquisas

Instituto no RN

O Instituto Internacional de Neurociências de Natal surgiu há seis anos e abriga em seus centros de pesquisa projetos científicos em abarcam praticamente todas as áreas da neurociência, além de projetos de educação científica. As pesquisas no Instituto de Neurociências vão desde os aspectos moleculares e celulares do neurônio até a articulação do comportamento humano com o funcionamento cerebral, passando pela comunicação entre os neurônios e o funcionamento dos circuitos neuronais.

Além dos centros de pesquisa em Natal e Macaíba e do Campus do Cérebro, ainda em construção numa parceria com a UFRN e instituições federais, o Instituto mantém, através da Associação Alberto Santos Dummont de Apoio à Pesquisa, duas escolas de educação científica, com alunos da rede estadual de ensino. São 600 crianças atendidas dentro do modelo estabelecido por Miguel Nicolelis.

A intenção, ao escolher Natal como sede de um instituto de pesquisa de ponta, era descentralizar a produção de ciência no Brasil. A UFRN é a principal parceira do Instituto Internacional de Neurociências.

União e IINN firmam nova parceria na próxima semana

Um outro anúncio importante para viabilizar o projeto Walk Again será realizado Governo Federal na próxima semana, segundo declarou o neurocientista Miguel Nicolelis. Ele não deu detalhes do anúncio, mas disse que ele colocará Natal como “capital da Neurociência no Brasil”. A capital potiguar será a sede mundial do projeto nos próximos anos e a parte das pesquisas que cabe ao Brasil, dentro do consórcio com os EUA, a Alemanha e a Suíça, será realizada unicamente no Campus do Cérebro pelo Instituto Internacional de Neurociências de Natal.

Segundo o diretor do IINN, o Walk Again terá Natal como sede. “O Instituto de Neurociências de Natal será a sede mundial do Projeto Walk Again e na próxima semana teremos um anúncio importante nesse sentido, mas eu não posso comentar ainda o teor desse anúncio”, diz (veja entrevista). E complementa: “Esse projeto será o maior projeto de pesquisa do Brasil nos próximos três anos e terá mais de 70 pesquisadores trabalhando integralmente nele, muitos deles no Brasil. A parte brasileira da pesquisa será exclusiva e totalmente feita em Natal”.

O Walk Again começou a virar realidade em janeiro de 2008, quando a equipe de cientistas liderada por Miguel Nicolelis fez  uma macaca movimentar um robô no Japão estando nos Estados Unidos. Adquirir a capacidade de sentir objetos foi o passo seguinte, anunciado ontem. O seguimento da pesquisa que poderá resultar em um tetraplégico andando será realizado principalmente em Natal.

Bate-papo: Miguel Nicolelis, neurocientista

“O IINN será a sede mundial do Walk Again”

A pesquisa divulgada hoje teve a participação do Instituto Internacional de Neurociências de Natal?

Teve a minha participação, que sou diretor de pesquisas do Instituto de Neurociências. A pesquisa foi feita na Universidade de Duke, nos Estados Unidos, mas foi escrita em Natal. Escrevi essa pesquisa olhando para o mar em Natal.

O Governo Federal irá fazer um anúncio acerca do apoio ao Projeto Walk Again em Natal?

O Instituto de Neurociências de Natal será a sede mundial do Projeto Walk Again e na próxima semana teremos um anúncio importante nesse sentido, mas eu não posso comentar ainda o teor desse anúncio.

Qual a relevância desse trabalho para o Instituto de Natal?

Esse é um trabalho que muda todo o campo de estudos interação cérebro-máquina. Isso porque ninguém nunca tinha conseguido mandar uma mensagem elétrica para o cérebro ao mesmo tempo em que extraía comandos motores para controlar um corpo virtual. Isso revoluciona toda a pesquisa na área, tanto que é manchete em todas as revistas de ciência do mundo. Essa pesquisa transforma o Instituto de Neurociências de Natal em uma referência mundial na área da interface cérebro-máquina e por isso irá capitanear o projeto para fazer um brasileiro voltar a andar aqui no Brasil.

A pesquisa do Projeto Walk Again será feita principalmente em Natal?

Esse projeto será o maior projeto de pesquisa do Brasil nos próximos três anos e terá mais de 70 pesquisadores trabalhando integralmente nele, muitos deles no Brasil. A parte brasileira da pesquisa será exclusiva e totalmente feita em Natal. Natal será a capital da neurociência brasileira.

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