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No baú da História

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Woden Madruga [ [email protected] ]

Neste sábado, 28, véspera de São Pedro e dia do jogo Brasil e Chile, o sebista e editor Abimael Silva oferece um aperitivo literário de boa qualidade no Sebo Vermelho da avenida Rio Branco, 705, Cidade Alta. O jogo começa às 13 horas. O aperitivo vai das 9 às 12, tempo suficiente para uma massagem na alma do torcedor brasileiro também apaixonado por uma boa leitura. Exatamente o que vai acontecer por lá. Abimael está laçando uma  edição fac-similar da Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, a mais antiga instituição cultural do Estado, lá se vão 112 anos. O volume reúne os números 35, 36 e 37 que correspondem às atividades da instituição nos anos de 1938, 1939 e 1940.

Estão reunidas em suas 326 páginas textos primorosos, valiosos, importantes da nossa História. Assinados por Felipe Guerra (Philipe Neri de Brito Guerra), Câmara Cascudo, José Augusto Bezerra de Medeiros, Nestor Lima, Aderbal de França (Danilo), Eloy de Souza. Um timaço. Cascudo comparece com dois ensaios: “Fanáticos da Serra de João do Vale” e “O Brasil Holandês do Rio Grande do Norte” e uma crônica sobre “O Presidente Parrudo”. Nestor Lima, que era o presidente do Instituto, junta um ensaio sobre a história dos municípios de Macaíba, Macau, Martins e Mossoró, além de discursos pronunciados em sessões da instituição, um deles contando a própria história do IHGRN, que durante a sua trajetória ocupou cinco sedes. Fiquei sabendo que a primeira delas foi uma sala do velho Atheneu da balaustrada da Junqueira Aires.

Doutor José Augusto Bezerra de Medeiros está presente com dois ensaios: “A cadeira de Gramática Latina da Villa do Príncipe” e “Famílias Seridoenses”, cujo texto serviu de base para o seu livro, com o mesmo título, publicado pela Editora Pongetti, do Rio de Janeiro, em 1940. De  Aderbal de França, que assinava suas crônicas em A República com o  pseudônimo Danilo, a revista transcreve uma crônica de 3 de janeiro de 1939, sobre a solenidade que marcou a oficialização do Dia do Município. A festa foi no Teatro Carlos Gomes. Destaco o trecho final no qual Danilo comenta a parte musical da solenidade:

“Na parte da música que se seguiu ao orador oficial, a menina Riva Axelband tocou ‘Rondó Caprichoso’, de Mendelssohn; a senhorinha Glória Sigaud deu à belíssima página de Liszt, que é a sua 11ª ‘Rapsódia Húngara’ – o brilho e a sensibilidade dos seus cânticos; e a senhorita Lígia Bezerra executou com muita expressão, a fantasia que Gottschalk escreveu em 1869 sobre o Hino Nacional, sentindo também, embora americano do norte, a emoção da vitória brasileira sobre os paraguaios. Pena que houvesse faltado Oriano de Almeida, incluído com a 12ª Rapsódia Húngara, de Liszt.”

O texto de Philipe Guerra, “Manoel Antônio de Oliveira Coriolano”, me encantou. Não somente pelo estilo do autor – que escreveu um  clássico sobre o semiárido nordestino, “Seca contra seca”, publicado em 1909 -, mas também pelo perfil do personagem que dá título ao ensaio, o sertanejo Coriolano, uma anotador de chuvas, num tempo em que  não existia pluviômetro. Os pluviômetros apareceram no Sertão do Apodi, o mundo de Coriolano, em 1910. Coriolano anotava as chuvas caídas no século 19 em sua região e as diferenciava com as palavras “grandes” e “pequenas”. A milimetragem pluviométrica ainda não havia chegado na Chapada.

Doutor Philipe Guerra, que foi magistrado e deputado na primeira Assembleia Constituinte Republicana do Rio Grande do Norte, conta que Coriolano era rábula e “Interessava-se pelo problema das secas, principalmente por sua cronologia. Em um caderno, em tiras de papel almaço, tomava notas, dia a dia de todas as chuvas caídas em Apody. A esse tempo não havia pluviômetros no Estado. Os primeiros foram instalados em 1910, pela Inspectoria de Obras Contra as  Secas”. E acrescenta:

“Entretanto, os dados fornecidos por Coriolano são muito valiosos e interessantes, para o estudo e conhecimento das secas. Abrangem o longo período de 1854 a 1908, isto é, 55 anos de observações diárias. São registadas sob a classificação de ‘chuvas grandes’, ‘chuvas pequenas’. E às vezes, mas de uma em um dia. Depois faz um apanhado do número de chuvas ‘grandes’ e ‘pequenas’, em cada ano. Enchentes, inundações, entrada d’água na lagoa do Apody, com as pingues pescarias que então se fazem, etc., tudo isso se lê no caderno”.

Adiante Philipe Guerra destaca um trecho do mestre Coriolano, onde ele anotou a primeira chuva do mês de janeiro de 1877. Foi no dia 23:

“Deu uma chuva muito grande. Correram os rios Apody e Umary com pouca água. Aquele botou na lagoa Itahú. Houve porção de peixe, curimatã, da pescaria que se fez.”

Essa história sobre Manoel Antônio de Oliveira Coriolano bem que poderia ser contada em todas as escolas do Estado. Nela aparecem as alegrias dos bons invernos e as tristezas das secas. O baú da História do Rio Grande do Norte está, vivo e vibrante, nestas páginas das revistas do nosso Instituto Histórico e Geográfico.

Futebol 
O Chile tem uma ligação efetiva e afetiva, histórica, com o futebol do Rio Grande do Norte. Maria Lamas Farache, que dá o seu nome ao Estádio do ABC Futebol Clube, completando amanhã 99 anos de fundação, era chilena. Casada com Vicente Farache, natalense filho de italiano, que presidiu o clube por décadas. Seu irmão, Chico Lamas, foi um dos primeiros narradores de futebol no rádio natalense, integrando a equipe da Rádio Educadora/Poti, fundada por outro irmão, Carlos Lamas, que jogava tênis. Um terceiro irmão, Antônio, era americano doente e foi diretor do seu clube por muitos anos. Um quarto irmão, Jacob,  abecedista.
Mas hoje todos, seus descendentes, abecedistas e americanos, vão torcer pelo Brasil.

Música 
O Som da Mata, amanhã no Bosque dos Namorados (Parque das Dunas) é imperdível. Juntos, no palco do Anfiteatro Pau Brasil, Diogo Guanabara e Macaxeira Jazz. Confira a escalação do escrete: Diogo, no bandolim; Ticiano D’Amore, na guitarra; Henrique Pacheco, no contrabaixo, e Raphael Bender, na bateria. Começa às 16h30 e o ingresso custa 1 real, o mesmo preço da metade de uma tapioca.

Política 
Vi na televisão o programa eleitoral  do PPS. Gostei. Recado perfeito, começando pela proposta do partido na campanha presidencial: Tem que mudar para melhorar. E a trilha musical bem brasileira, bem gente boa, acreditando. Um dos líderes nacionais do partido é o deputado federal Roberto Freire, pernambucano, eleito por São Paulo. Tem história.

Chuva 
As chuvas de quinta para sexta-feira foram além do Agreste, chegando ao Oeste e ao Seridó. Foram até mais fortes nos sertões de lá do que nos sertões de cá. Números da Emparn:
Caraúbas, 45 milímetros, Tabuleiro Grande, 32, Itaú, 30, Pau dos Ferros, 25, Martins, 23,Campo Grande, 21, Rodolfo Fernandes, 20 (Oeste). Parelhas, 33, Equador, 28, Ouro Branco, 22, São José do Seridó, 18 (Seridó). Monte das Gameleiras, 20, Serrinha, 19, Sitio Novo e Coronel Ezequiel, 17, Judiá e Ielmo Marinho, 15 (Agreste). Baia Formosa, 15, Canguaretama, 12, Taipu, 11 (Leste). Em Queimadas, 20.

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