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“No Estado o problema do PT é o PT mesmo”

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Anna Ruth Dantas – repórter

O pleito eleitoral de 2010, no Rio Grande do Norte, estampou dois cenários contraditórios para partidos políticos. O PT fez a Presidente da República, aumentou a bancada no Congresso Nacional, mas os petistas potiguares continuaram com o mesmo tamanho: apenas um deputado federal e um estadual eleitos. Situação semelhante vive o PSB, que fez governadores de Estados importantes, aumentou a bancada, mas em solo potiguar vive a delicada situação de não ter eleito governador e senador, e manter apenas uma bancada na Assembleia Legislativa. Para o cientista político e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Antônio Spineli, a situação do PT se deve ao “fechamento” do próprio partido. Já o PSB terá que enfrentar, a partir de agora, um momento de reerguimento. Mas o professor destaca: a ex-governadora Wilma de Faria, embora com o cenário adverso, não pode ser retirada da condição de líder política.

Antônio Spineli não acredita que o fato da governadora eleita Rosalba Ciarlini ser de oposição ao governo Dilma, possa prejudicar a próxima administração. Em uma análise do pleito do último domingo, o cientista pondera que não é possível debitar a derrota de Dilma Rousseff em Natal na conta apenas da prefeita Micarla de Sousa. Para ele, essa votação tem origem ainda no pleito de 2008. A seguir, a entrevista que Antônio Spineli concedeu analisando o pleito de 2010 e suas implicações no cenário político.

O que o senhor espera do governo Dilma Rousseff? Lula irá governar?

Não. Tudo indica que não. O discurso que ela fez como candidata vitoriosa foi muito afirmativo, discurso de estadista, delineia as linhas gerais do plano de governo. Óbvio que ela vai dar continuidade ao Governo Lula. O apoio de Lula será importante, ele é uma grande liderança no partido. Dilma Rousseff não poderá dispensar o apoio de Lula, mas isso não significa que ela não vai governar.

Como justificar o candidato José Serra ter ganho em Natal?

Acho que isso tem a ver com 2008 ainda. Em 2008 houve uma inflexão política do eleitorado de Natal. Naquele ano evidenciou-se que a liderança da governadora Wilma de Faria estava em xeque, esse era um processo que já vinha há algum tempo, a base política dela vinha se diluindo. Em 2008 se evidenciou de forma mais clara.  A base política da governadora, que há muito é a grande líder política de Natal, que foi a grande base dela. Foi de Natal que ela se alçou à condição de líder política do Estado, surpreendendo em 2002 com aquela eleição, e em 2006, quando disputou com o senador Garibaldi Alves, que era a grande liderança política do Estado até então. Mas depois de 2006, no segundo governo, a base política dela começa a se esfacelar, há inúmeras defecções e, ao mesmo tempo, o próprio estilo do segundo governo contribuiu para que ela perdesse a liderança. Isso em 2008 tem um momento significativo, o arco de aliança não consegue eleger a prefeita de Natal. De lá para cá o processo de perda de liderança se acelera. E por outro lado, você vê uma certa inflexão para a direita. O eleitorado natalense assume um perfil conservador, mais para direita. Isso é determinado sobretudo pela atitude da classe média. A classe média natalense faz uma opção nesse momento por um voto mais conservador, mais à direita. Acho que isso explicaria a vitória de Serra em Natal, embora por uma margem pequena, mas de qualquer forma é uma derrota em Natal. E detalhe curioso, em Mossoró Dilma Rousseff ganhou por uma grande margem e Mossoró é reduto eleitoral da governadora eleita.

O resultado de Natal pode ser reflexo do apoio da prefeita Micarla de Sousa?

Acho que não houve tempo para o apoio da prefeita de Natal a Dilma Rousseff repercutir negativamente. Ela tem uma avaliação muito negativa em Natal, um índice de rejeição altíssimo. Segundo consta em uma das pesquisas feitas recentemente, o índice de rejeição dela é de 70%. Portanto, o apoio dela não canalizaria votos para nenhum candidato. Mas eu acho que se deu muito na última hora, foi um lance muito claro de oportunismo eleitoral a tentativa da prefeita de fazer reverter seus índices de rejeição, mas sobretudo de apostar no futuro, tentativa de criar nova base política e montar no projeto do novo governo e facilitar o acesso aos canais federais e dessa forma tentar reverter um pouco os números da administração. Acho que é um lance mais para o futuro, apostando na parceria mais próxima ao Governo Federal e na Copa de 2014. Não sei como ela vai conseguir reverter isso, é bastante difícil. Mas eu não acredito que tenha influído no resultado eleitoral em Natal.

O mossoroense difere a Rosalba Ciarlini candidata da Rosalba que apoia um candidato (José Serra apoiado por Rosalba Ciarlini perdeu em Mossoró)?

À primeira vista, a leitura é essa. Mas a gente fica com alguns grilos na cabeça de um resultado como esse (em Mossoró). Será que a governadora eleita trabalhou efetivamente pelo seu candidato (José Serra)? Há rumores que ela estaria negociando a mudança para outro partido. Não para o PT, ela não tem perfil de ir para o PT, para o PMDB, provavelmente não. Há especulações também que o senador eleito Aécio Neves estaria articulando a formação de um novo partido de oposição e a governadora Rosalba Ciarlini viesse a se compor com esse partido. Por enquanto são especulações. A gente não tem ainda uma avaliação segura sobre esse resultado em Mossoró. Mas é muito intrigante você contrastar o resultado em Natal e o de Mossoró.

A ex-governadora Wilma de Faria, com a derrota do PSB e dela própria, deixa a condição de líder política do RN?

Não acredito. Wilma de Faria tem uma liderança muito forte. Ela se perdeu um pouco no segundo governo, não deixou uma marca, esse foi o dado fundamental para sua derrota ao Senado ao lado da perda do esfacelamento político. Esse esfacelamento foi importante. Agora ela se defronta com o seguinte desafio: recompor a base política, recompor sua liderança. Ela tem uma característica de brigar, de ir à luta e eu não acredito que ela esteja liquidada, mas sofreu uma derrota importante.

O PSB do RN até seis meses atrás era o partido mais forte.

Ele agora sai esfacelado. Isso contrasta com a situação do PSB nacional, que cresceu, conquistou Estados importantes. Veja, elegeu o governador da Paraíba (Ricardo Coutinho), o governador de Pernambuco (Eduardo Campos), reelegeu o governador do Piauí (Wilson Martins). O PSB tem posição importante.

Qual foi o erro do PSB local?

Acho que houve um erro de ter uma base política muito heterogênea, volátil, havia muitas ambições. De certa forma ocorreu com o PSB de Natal em 2008 e 2010 o que ocorreu com o PMDB do Rio Grande do Norte em 2002. O partido que passa oito anos no poder atrai muitos aliados, são muitas ambições, muitos projetos políticos díspares, heterogêneos, concorrentes entre si, há muita competição interna e isso gera uma situação difícil de administrar. Então acredito que a governadora fez determinadas opções políticas que não garantiram a unidade do partido, sabemos que o principal dissídio se deu entre Robinson Faria e Iberê Ferreira, os dois candidatos declarados a governador, na mesma base política. A governadora tinha compromisso com Iberê e não pôde satisfazer as ambições de Robinson, ao lado da outra frente que ela abriu com o deputado Rogério Marinho. Ela não conseguiu administrar isso, não conseguiu reverter. Mas eu acredito, sobretudo, que foi o segundo governo, a forma como conduziu o segundo governo. Se tivesse um bom índice de avaliação talvez ela tivesse condições de reverter esse processo de desgaste.

O Rio Grande do Norte foi um dos dois Estados nordestinos que elegeu uma governadora de oposição, o outro foi Alagoas (com Teotônio Vilela Filho). Como o senhor avalia esse fato gerado pelo eleitor potiguar?

Em primeiro lugar é preciso considerar que os dois políticos Teotônio Vilela e Rosalba Ciarlini não se apresentaram explicitamente como candidatos de oposição ao Governo Lula. Teotônio Vilela Filho foi candidato a reeleição, filho de Teotônio Vilela que foi maior liderança do PMDB, foi um dos grandes combatentes contra ditadura e representa uma ala do PSDB que não é a mais guerreira. Ele faz uma oposição moderada. Ele faz uma certa composição como governador. Rosalba Ciarlini não se apresentou como oposição ao Governo Lula. Ela todo tempo mascarou isso. Ela se apresentou como oposição à governadora Wilma de Faria. Dado o desgaste da governadora, o esfacelamento da base política, ela teve vitória em Natal e Mossoró, que favoreceram profundamente e determinaram a eleição. Rosalba tem um perfil diferente de Garibaldi Filho e José Agripino. Para se legitimar como candidata ela lutou contra certa relutância. Ela é uma política de Mossoró, vinha de eleição ao Senado, que foi consagradora.

A administração de Rosalba Ciarlini pode ficar comprometida pelo fato dela ser de oposição?

Não acredito. Isso não ocorreu nem em São Paulo durante o segundo governo Lula. O próprio José Serra (que foi governador de São Paulo) em inúmeros depoimentos que deu à mídia antes da campanha eleitoral de agora, sempre fez questão de ressaltar que sempre obteve nos pleitos apoio do Governo Lula. Se o Presidente da República não retaliou um Estado como São Paulo, que é o principal reduto da oposição ao Governo dele, não se entende que vai retaliar um governo como o do Rio Grande do Norte. Além do mais existem mecanismos hoje, mecanismos de caráter republicano, que dificultam bastante que um Presidente da República adote medidas de retaliação contra um Governo de oposição. É difícil fazer isso. Os mecanismos não permitem e as políticas públicas você não pode adotar uma política de caráter geral e discriminar um Estado.

O que acontece com o PT do RN que não acompanha o crescimento do PT nacional?

Essa é uma pergunta difícil de responder. Porque veja que em alguns Estados o PT teve que renunciar certas ambições para favorecer seu projeto no plano nacional, mas esse não foi o caso do Rio Grande do Norte. No Estado o problema do PT é o PT mesmo. O PT do Rio Grande do Norte tradicionalmente consegue angariar apoio de setores mais organizados da classe trabalhadora. O PT amplia a bancada no Congresso Nacional, tanto na Câmara como no Senado, nas pesquisas quando se pergunta preferência partidária dos eleitores, uma grande parcela dos eleitores opta pelo PT. Fica a indagação na nossa cabeça: o que acontece com o PT do RN? Acredito que ele seja muito insulado, muito fechado dentro de determinado grupo.

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