Woden Madruga [ [email protected] ]
Mexendo na máquina do tempo é como se voltasse ao jornal mural de O Zepelim, a mais famosa banca de jornais e revistas de Natal, coisa dos anos quarenta, calçada do Natal Clube, esquina da Rio Branco com a João Pessoa, no miolo do Grande Ponto. O Cinema Rex, logo ao lado, depois da Cruz Vermelha. O dono era Luiz Cortez, pai de Ipiranga e Natalino, amigos meus de infância, meninos da rua Padre Pinto, das Laranjeiras, praça João Tibúrcio, rua do Equador, a da Misericórdia mais embaixo junto aos trilhos do trem, a Santo Antônio mais em cima. Era o nosso mundo. No poste da Força e Luz (onde o bonde do Alecrim, vindo da Ribeira, fazendo a curva, tirava um fino) Luís Cortez colocava o jornal mural com as principais manchetes do dia, entre elas, durante semanas, o esconde-esconde da onça do Baldo que assombrava a cidade. Um dia descobriu-se que tudo não passava de “invenção” de “seo” Cortez para atrair a freguesia. A onça nunca existiu e nunca comeu ninguém. Mas no Baldo, comia-se.
O Zepelin já não existe mais – nem o bonde – e as manchetes de hoje o cara vai lendo pela internet, que você se acostuma com ela, mas que não impede de sentir falta do jornal mural de Luiz Cortez e da onça inventada, saudade de um Baldo onde também morei, esquina da Rio Branco com a Memoz, na frente a Praça Carlos Gomes. Dali, via-se quando os bondes eram recolhidos às garagens da Força e Luz, parede e meia com Maria Boa, cujo sítio de frondosas mangueiras e de outras deliciosas frutas, o menino afoito só veio a conhecer quando frangote metido a besta. Como o zepelim e o bonde, Maria Boa não existe mais. Saudades.
As manchetes do jornal mural da internet que vou lendo neste amanhecer de quinta-feira não são animadoras. Esta, por exemplo: “O Brasil crescerá abaixo da média da região”. A notícia informa que o desempenho do nosso país será o pior da América do Sul e Caribe, coisa assim de 2 por cento. O Banco Mundial aponta algumas das causas desse resultado ínfimo: “O país não promoveu reformas para impulsionar o crescimento, a poupança e os investimentos”. Outra manchete ainda na área econômica: “A inflação atinge média de 0,92% em março e volta a preocupar mercado”.
Na área da Segurança Pública, a coisa preocupa mais, muito mais, do que a Onça do Baldo. Veja a manchete dos principais jornais: “1 em cada 5 foi vítima de violência no país de um ano para cá”. Debulho a notícia que começa assim:
“Um em cada cinco brasileiros teve a casa invadida ou foi vítima de ao menos um tipo de crime, entre roubo, agressão e sequestro relâmpago, de abril de 2013 a abril deste ano, revela pesquisa da Datafolha sobre vitimização no país. O percentual é quase o mesmo dos brasileiros que tiveram algum parente ou amigo assassinado no período (21%)”.
Motel também está mais caro. Confira esta manchete: “Comida, avião, motel e jogos de futebol ficaram mais caros e março”. A pesquisa é do IBGE. Realmente, comer ficou bem mais caro. O danado é que o brasileiro não come somente em casa. Come também em motéis, aviões (viaja-se muito por estas bandas) e em campo de futebol, um cachorro quente aqui e outro acolá, três, quatro vezes. Nos cinemas, come-se pipoca. Confira alguns detalhes da notícia:
“Além dos alimentos, também pesou no bolso do consumidor a alta das passagens aéreas que, na média nacional, foi de 26,5%. A conta do motel aumentou 4,3% e para abastecer o caro, o preço do etanol teve alta de 4,07%. Já os preços dos ingressos para jogos de futebol subiram 3,1%”
Mas a internet nos dá uma notícia palatável, principalmente para quem gosta de futebol e pratica bairrismo cívico: a posição do Brasil melhorou no ranking da Fifa. Ganhamos três posições e estamos, agora, empatados com a Argentina (olha com quem!) no sexto lugar. Quem lidera é a Espanha, seguida da Alemanha, Portugal, Colômbia e Uruguai. Abaixo do Brasil e Argentina, estão a Suíça, Itália e Grécia.
Política
Do analista político Josias de Sousa, em sua coluna de ontem no UOL, com o título de “PT nega a Vargas solidariedade de mensaleiros”:
– Em privado, André Vargas queixa-se de solidão. Considera-se abandonado pela cúpula do PT. Pelo menos não perdeu o contato com a realidade. De fato, está só. O partido o fritava desde o final de semana. Lula achou melhor acelerar o processo. E deu com frigideira na cabeça do companheiro.
– Ao migrar do noticiário de política para o de polícia, Vargas subverteu a rotina do PT. Na sua anormalidade normal, o partido habituara-se a tratar os seus delinquentes com o mesmo tempo de deferência concedida aos membros de uma grande família. Que deve ter seu bom nome protegido mesmo quando se sabe que as acusações são verdadeiras.
– O escândalo que engolfou André Vargas levou o petismo a concluir: o único crime que a solidariedade familiar não cobre, além de matar a mãe, é manter um relacionamento monetário com um doleiro chamado Alberto Youseff e deixar pistas para a Polícia Federal descobrir em pleno ano eleitoral.
– Pressionado a renunciar ao mandato, André Vargas topou licenciar-se da Câmara por 60 dias. Espremido novamente, abdicou nessa quarta-feira da poltrona de vice-presidente da Câmara. Levado ao Conselho de Ética, tornou-se uma cassação esperando para acontecer. Fora isto, tudo vai muito bem no PT. Tudo sempre vai muito bem no PT. Nesta quinta-feira (ontem), a legenda reúne sua Executiva. Vão tratar de André Vargas.
Nomes trocados
Na coluna de ontem, WM andou trocando os nomes na nota sobre as chuvas na Fazenda Sombrio. Saiu Mário Sérgio de Sá Leitão em vez de Mário Roberto de Sá Leitão. São primos. Mário Sérgio é da Reta Tabajara; Mário Roberto é quem cuida das ovelhas e das vacas da Fazendo Sombrio, em Jardim do Seridó, ponha aí mais de 200 quilômetros de distância entre os dois.
Chuva Mais
Chuvas no Seridó e no Oeste, sete dias emendados. No boletim da Emparn as melhores chuvas no Seridó foram em Equador, 36 milímetros; Jardim de Piranhas, 33; Ipueira, 27; Ouro Branco, 25; Caicó (Emater) 23; Florânia, 22; Acari, 20; Cruzeta, 19; Santana do Matos, 17; São João do Sabugi, 12. No Oeste: Janduís, 23; Alto do Rodrigues, 19; Mossoró, 17; Ipanguaçu, 15; Serra do Mel, 12; Tabuleiro Grande, 11.
Nei
O poeta Nei Leandro de Castro foi visto ontem, coisa das 11 da manhã, atravessando a Ponte Newton Navarro no rumo da Redinha. Tinha encontro com o poeta Carlos Castilho.
