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No rastro dos primeiros voos

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Na gaveta dos papeis desarrumados encontrei esta semana uma carta do dr. Paulo Pinheiro de Viveiros, datada do dia 21 de novembro de 1974, lá se vão 41 anos. Antes de se dedicar à advocacia, foi jornalista, repórter por algum tempo do Diário de Pernambuco e do Jornal do Commercio, de Recife, e das agências de notícias United  Press (americana) e Reuters (inglesa). Foi aí que cobriu os primeiros instantes da aviação no Rio Grande do Norte. Depois, na década de 30, entrou na política, foi chefe do Gabinete do Governador Rafael Fernandes (1935), suplente de deputado estadual, atuando no fórum como advogado. Mais tarde seria Juiz Eleitoral, um dos fundadores da Faculdade de Direito, seu diretor, e imortal da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras.

Foi um dos melhores papos que eu conheci. Das esquinas da Ribeira aos salões mais fechados da aldeia. Sabia de tudo ou quase. Veríssimo de Melo em seu livro “Patronos e Acadêmicos” (Academia Norte-Riogradense de Letras, Antologia e Biografia), traça o perfil de Paulo de Viveiros, de onde destaco esta passagem: “É homem dinâmico, inquieto, perguntador, gostando de um papo na Av. Tavares de Lira, tomando cafezinho e filando cigarro dos amigos, procurando saber a última notícia ou o último boato… À noite, entretanto, é homem da sua casa e dos seus livros. ”

Paulo de Viveiros publicou em 1974 o livro “ História da Aviação no Rio Grande do Norte”, com o selo da Editora Universitária, da UFRN, prefácio de Américo de Oliveira Costa e capa de Newton Navarro.  Em 2008 saiu uma segunda edição também pela Editora da UFRN. O livro conta a história da aviação no Rio Grande do Norte desde Augusto Severo até fim da Segunda Guerra Mundial.

A carta do doutor Paulo de Viveiros foi por conta de uma nota sobre o livro publicada por esta coluna no dia 21 de novembro de 1974. A carta está datilografada em papel timbrado do seu escritório de advocacia, “Viveiros advogados”, instalado na avenida Duque de Caxias, 80, 1º andar, sala n. 9. Era ali no Edifício Quinho Chaves, onde hoje funciona a Delegacia do Ministério do Trabalho.  A carta está escrita, assim:

“Natal, 21 de novembro de 1974
Meu caro W. Madruga:
Por não ser homem de guerra, mas de justificações abertas, informo-lhe a respeito de uma Nota que envolve o meu nome, publicada em sua Coluna de hoje, o seguinte:
a) – as fotografias incorporadas ao meu livro “História da Aviação do Rio Grande do Norte”, constam, em parte, dos meus próprios arquivos da época, quando servia, como repórter para o Diário de Pernambuco, U.P. e Reuters;
b) – outra parte me foi ofertada pelo meu amigo Fernando Gomes Pedrosa;
c) – outras fotos me foram dadas pelo meu amigo Professor Tarcísio Medeiros que as obteve dos preciosos arquivos do Doutor Alberto Rozeli, hoje em poder do professor Ulisses de Goes.
É oportuno fazer um apelo ao Instituto Histórico e ao Brigadeiro Palermo para que salvem o que resta sobre a aviação, inclusive um grande material fotográfico e que pertenceu ao Doutor Rozeli, tudo encaixotado sob a guarda do professor Ulisses de Goes.

Note-se que algumas fotos publicadas na “História da Aviação do Rio Grande do Norte” registam o acontecimento com a própria letra daquele meu amigo falecido, um dedicado incentivador da aviação no Estado.

Para que não passe no tempo como ladrão de fotografias e nem seja esta a impressão dos seus leitores, mesmo porque esta qualidade negativa, em termos de qualquer espécie, ainda não marcou a minha família, dirijo-lhe esta com pedido para publicação.
Paulo Pinheiro de Viveiros”.

A nota  Fui nos arquivos da TN e encontrei a coluna do Jornal de WM do dia 21 de novembro de 1974. Diz assim:
“É uma guerrinha que está surgindo no panorama literário da cidade e que vai dar o que falar. Negócio seguinte: O advogado Paulo Viveiros escreveu um livro sobre a “Aviação no Rio Grande do Norte”, assunto que também é livro do sr. João Alves de Melo, que tem o maior acervo fotográfico sobre o tema, talvez no Brasil. O dr. Paulo já publicou o seu livro. O de João Alves está dependendo apenas do Ministério da Aeronáutica. Nesta sua obra ele juntou 300 fotos, inéditas quase todas.

Não são todas inéditas porque o dr. Paulo Viveiros usou algumas dessas fotos em seu livro. E é aí que começa a guerra, pois o dr. Paulo usou o material sem a autorização do sr. João Alves, o dono das fotos. Mais ainda: o dr. Paulo Viveiros não disse de quem são as fotos. Para o sr. João Alves houve uma usurpação da parte do dr. Paulo e, por isto, contratou um advogado para processá-lo. Um detalhe: os negativos das fotos publicadas no livro de Paulo Viveiros estão com João Alves, que foi o seu autor. O fotógrafo não sabe mesmo como o dr. Paulo conseguiu o material. ”

As fotos
O livro tem 33 fotos. Nenhuma delas identifica o autor, exceção de uma, a que ilustra o capítulo “Os ratos cinzentos”, na página 110 da edição original de 1974.  No rés da foto aparece um pedaço de um carimbo onde se lê Alves de Mello. É de 1938, registrando a passagem por Natal do aviador italiano Moscatelli. Entre os passageiros desse voo estava um filho de Benedito Mussolini.
Há fotos também do lendário piloto Jean Mermoz, dele e de seus aviões. Sua primeira travessia Senegal/Natal, 22 horas de voo, aconteceu entre os dias 12 e 13 de maio de 1930. Seu Laté-28 amerissou nas águas do Potengi. Mermoz desceu várias vezes em Natal nas tantas travessias entre a América do Sul e a África. Numa outra foto ele aparece de calção, corpo de Tarzan, fazendo pose sobre uma pedra, numa das praias daqui. O cara tinha quase 2 metros de altura.
A leitura do livro de Paulo Viveiros é fundamental para se saber de Natal naquelas décadas de 20, 30 e 40.  Como, por exemplo, o Aero Clube, fundado em 1928, pelo governador Juvenal Lamartine de Faria, também seu primeiro presidente.

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