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No RN, faltam políticas de incentivo à leitura

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As discussões em torno das políticas públicas de incentivo à leitura literária e boas práticas executadas nas escolas foram marcantes na realização do II Fórum Potiguar de Escolas Leitoras, realizado no auditório da Assembléia legislativa, no último dia 20. Agora, a meta é a implementação do Plano Municipal de Leitura, fortalecendo cada vez mais a idéia da leitura como estratégico para o desenvolvimento das pessoas e, consequentemente, das cidades.  “A mobilização em torno do  estímulo para a leitura literária não é um trabalho apenas da biblioteca, nem muito menos da escolas, mas um desafio para toda a comunidade”, enfatizou a professora Miriam Dantas, representando a Secretaria Municipal de Educação.
Projeto de leitura de escola pública municipal de Currais Novos busca atender 203 remanescentes de quilombolas
Como não poderia deixar de ser, o Fórum foi iniciado com o depoimento da professora Maria do Céu, ou Celeste Borges, como assina o livro  “O Sapo Serafim e a Borboleta Flor”, que será lançado nas próximas semanas e distribuído, gratuitamente, em comunidades empobrecidas. Emocionada, lembrou da sua trajetória, das primeiras letras no sítio Borges, zonal rural de Santa Cruz; o aprendizado como professora de português que utilizava a poesia para motivar os alunos, até o desafio de escrever o livro, com apoio da Lei de Incentivo à Cultura Djalma Maranhão. Seu relatou serviu como um exemplo a ser seguido por outros educadores presentes no evento.

Em seguida, sob a coordenação da educadora Cláudia Santa Rosa, coordenadora do Instituto de Desenvolvimento da Educação – IDE, foi iniciada a primeira mesa redonda, focando a questão das “Políticas Públicas de Promoção da Leitura – por um Rio Grande do Norte de Leitores”, com a participação de Miriam Dantas, 

Marisete Paulino de Medeiros, secretaria adjunta de Educação e Cultura de Parnamirim (SEMEC),  Jeane dos Santos Bezerra , secretaria municipal de educação de  Umarizal, representando a Undime  – União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME/RN), Márcio Farias-, representando a Secretaria Extraordinária para Assuntos da Cultura e o deputado Fernando Mineiro, co-autor da Lei do Livro Henrique Castriciano. Infelizmente, a Secretaria de Estado da Educação e da Cultura do RN (SEEC) não enviou representante.

As apresentações focaram sobretudo na ausência de políticas públicas eficazes e eficientes que promovam a leitura nas escolas, e que tenham continuidade. Foram relatados muitos programas e ações com resultados positivos. O deputado Fernando Mineiro, citou vários indicadores da pesquisa “Retrato do Leitor no Brasil”, realizada pelo Instituto Pró-livro, que mostra um índice de 4,7 livros  por habitante no Brasil, considerando neste número os livros didáticos e a Bíblia. “É um índice baixíssimo”, disse.

Para minimizar o quadro, foram apresentadas várias experiências com resultados positivos, como: Escola municipal Laércio Fernandes, Projeto “Escola e Família: Por uma política de formação de leitores” apresentado pela professora Jaciana Sousa, da Escola municipal Laércio Fernandes; “Os Sentidos da Leitura”, apresentado por Eliane Lira de Lima e Vanja Lucia de Oliveira Macedo, da Escola Estadual Clara Camarão; “Picolé Literário”, mostrado pela professora mediadora de Leitura, Maristela Costa; “Leitura, prazer e arte”, pela articuladora Lucieny Félix de Oliveira, da Escola. Estadual. Djalma Aranha Marinho, e o Projeto “Caixa de Leitura: O Mundo Encantado da Imaginação”, pelo diretor da escola municipal Augusto severo,  Luis Carlos Freire, Articuladora Lucieny Félix de Oliveira, além do projeto de Currais Novos.

Leitura como ferramenta de libertação

Sair do espaço escolar e intervir na sociedade, buscando promover a inclusão social utilizando a leitura como ferramenta de libertação. Em suma, este é o objetivo do projeto “Leitura em todos os cantos e recantos do Quilombo”, realizado pela Escola Municipal professor Humberto Gama, em Currais Novos, e busca  atender 203 remanescente de quilombolas que moram na comunidade  dos Negros do Riacho. Uma das iniciativas do projeto prevê a implantação de uma biblioteca comunitária, para isso estão fazendo uma campanha para arrecadação de livros e mobiliário (estantes, mesas e cadeiras), equipamentos que possibilitem uma ambientação adequada para atender aos novos leitores.

O espaço para a biblioteca existe, agora é preciso dinamizá-lo com bons livros e estrutura, tornando-o atrativo e significativo. A ideia de intervenção na comunidade surgiu a partir da constatação das dificuldades que alguns alunos matriculados na escola – e residentes da comunidade quilombola, estavam tendo com o deslocamento e no cumprimento das tarefas escolares, “justificavam que não tinham livros para pesquisar”, relata o professor Josias Ivo de Sousa, um dos educadores que está a frente do projeto. Conversas com os alunos e algumas visitas à comunidade mostraram a dimensão do problema, e a necessidade de uma intervenção.

Assim, no ano passado, foi iniciado um trabalho que vem se transformando num exemplo de como uma escola, seja pública ou privada, pode desenvolver uma ação na comunidade, buscando colaborar na transformação social do local. O primeiro passo para isso: a sensibilização e mobilização dos atores envolvidos. Neste caso específico, os educadores da escola e, na outra ponta, os alunos e seus pais. A partir daí, foi elaborado um diagnóstico da situação, e com base nisso, elaborado um projeto com foco na educação. Um dos primeiros resultados já pode ser visualizado: de um grupo inicial de dez alunos, este ano a escola contabilizou a matricula de mais 14, somando este ano 24 alunos remanescentes de quilombolas.

Ao trabalho de cunho educativo são associadas ações assistencialistas, como a aplicação de flúor nos dentes, corte de cabelo e outras.  A presença dos educadores em reuniões com os pais das crianças, na comunidade, vem acontecendo com freqüência, produzindo demandas que precisam ser discutidas na perspectiva de busca de solução. Foi neste aspecto que surgiu o projeto da implementação da biblioteca comunitária. “a idéia é oportunizar à comunidade quilombola o acesso aos livros, o incentivo à leitura e, consequentemente a produção de textos, levando em consideração a cultura negra, resgatando e priorizando os valores e costumes dos quilombolas, a valorização das raízes culturais e o combate ao preconceito e à aculturação,  buscando a igualdade de direitos”, explicou o professor.

A transformação da comunidade também pode ser visualizada a partir de depoimentos como de José da Silva Oliveira, 18, responsável pela biblioteca Tereza Maria da Conceição.  Filho de pais separados, o padastro trabalha cuidado de gado e José diz que quer ser professor de matemática. “Sei que vai ser difícil, mas vou lutar”, disse. Por enquanto, já considera um avanço o funcionamento de uma biblioteca na comunidade, que conta com 400 livros, arrecadados no município. Quem puder doar livros, estantes, mesas e cadeiras pode entrar em contato com a escola Hemberto Gama, pelo telefone 3405-2718 ou através do professor Josias,  pelos telefones 8892 5109 ou 9976-0685.

Comunidade no Seridó vive da carvoaria

Localizado há 9 quilômetros de Currais Novos, a comunidade quilombola dos Negros do Riacho parece viver presa ao passado. Incrustada numa área de seca e extrema pobreza, conta com uma população de 203 moradores, distribuídos em 43 famílias que sobrevivem, basicamente, da carvoaria.

De acordo com os moradores, quando a antiga líder  da comunidade, Tereza Maria da Conceição, era viva, muitas das pessoas da comunidade trabalhavam com barro, comercializando “louça” na feira de Currais Novos. Por falta de incentivo, hoje a produção de Panelas e potes está restrita a apenas uma pessoa. Os moradores sobrevivem do trabalho na carvoaria e as famílias recebem o bolsa família e aposentadorias, além disso, de três em três meses, recebem a doação de feijão e arroz, distribuídos pelo Governo do Estado.

Segundo o professor Luiz Assunção, no livro “Os Negros do Riacho – Estratégias de Sobrevivência e Identidade Social”, Coleção Humanas Letras – UFRN = 1994, “Os moradores das terras do Riacho (…) formam um grupo de famílias descendentes de um ex-escravo de nome Trajano Vaz da Silva (…) que no século passado apossou-se dessas terras, após ter sido alforriado por um coronel da região”.

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