Tádzio França – repórter
Entre uma troca de e-mail e outra, ou numa mensagem deixada na rede social do momento, ainda há espaço para apreciar a relevância dos bons e velhos selos postais? Mais que uma obsessão de colecionadores, os selos registram momentos, contam histórias, contextualizam uma época. Foi assim que o filatelista Cleudivan Jânio de Araújo pensou ao escrever “O Rio Grande do Norte nos selos postais do Brasil – Filatelia como fonte de conhecimento”, livro que será lançado no próximo dia 02 de agosto, às 18h, na livraria Nobel da avenida Salgado Filho.
“O valor de um selo não está ligado exatamente à idade que ele tem. Mas ao contexto que o envolve. Selos são verdadeiros documentos históricos”, explica Cleudivan, que se dedica à filatelia há 20 anos, e possui uma coleção pessoal de cerca de 150 mil selos. Formado em pedagogia e também funcionários dos Correios, o filatelista já costumava pensar em selos para além da paixão de colecionador: em 2007, sua monografia de conclusão de curso teve o tema “Filatelia e educação: o selo postal como fonte de educação escolar”. Segundo ele, o livro é um desdobramento desse trabalho, acrescido de mais dados, imagens, e informações sobre a presença potiguar na área.
O trabalho de pesquisa incluiu o acervo pessoal de Cleudivan e consultas aos diversos Catálogos de Selos do Brasil (RHM), que se renovam de dois em dois anos, e trazem os registros de todos os emitidos. Durante a pesquisa, o filatelista observou que as referências do Rio Grande do Norte não chegam a 1% de representatividade, dentro do universo de emissões. Ele ficou negativamente surpreso. “É muito pouco para a importância desse Estado no contexto sociocultural do País”, disse.
PRIMEIRO SELO COM TEMA LOCAL SAIU EM 1929, O DIRIGÍVEL PAX
Apesar de serem poucas – no contexto geral – as referências potiguares nos selos são bastante representativas. As primeiras se deram em 1929, com o lançamento de uma série de oito selos aéreos em homenagem à aeronáutica brasileira.
MENÇÕES AOS PILOTOS DOS ANOS 20
Os dois faziam menção ao pioneiro aviador Augusto Severo – um com a imagem do Dirigível PAX e o outro com a efígie do próprio Severo. O dirigível foi mostrado novamente em 1977, em nova homenagem à aviação civil. Aliás, a presença nos ares foi o tema que mais prestigiou o Estado nos selos. Em 1945, foi emitida uma série de cinco selos comemorando a vitória dos Aliados na II Guerra Mundial, incluindo o “Cooperação”, que mostra Natal em um mapa. Há menções a Jean Mermoz e sua rota Dakar-Natal, ao Brigadeiro Eduardo Gomes, e à Barreira do Inferno.
NÍSIA FLORESTA E CÂMARA CASCUDO
Entre personalidades, monumentos e fatos históricos, os selos registraram diversos momentos. O selo com a efígie de Nísia Floresta foi emitido em 1954, por ocasião da repatriação de seus restos mortais, da França para o Brasil. Em 1998, foi lançado o selo de Câmara Cascudo, por ocasião de seu centenário de nascimento. A Fortaleza dos Reis Magos é a imagem potiguar mais homenageada pelos selos, já tendo sido lançadas versões em 1975, 1986, 1999 e 2009. O Farol de Mãe Luíza foi mencionado duas vezes, em 1999 e 2009. Ponta Negra também foi retratada duas vezes, em 2001 e 2009. O Cajueiro de Pirangi ganhou seu selo em 2006.
MONUMENTOS E PAISAGENS, DE GENIPABU AO CASTELO ZÉ DOS MONTES
Os selos personalizados surgiram como condutores de mídia institucional, seja por entes públicos ou privados. Estes registravam aspectos diversos de cada Estado brasileiro, e a série potiguar foi lançada em 2009, de onde vieram imagens da Praia de Genipabu, o Castelo Zé dos Montes, a Praça Rodolfo Fernandes (Mossoró), Ponte Newton Navarro, praia da Barra de Cunhaú, praia da Pipa, igreja matriz de Martins, pórtico dos Reis Magos, e o Teatro Alberto Maranhão. Os selos também já mencionaram atividades como as dos salineiros e dos colhedores de carnaúba, e exibiram a bandeira do Rio Grande do Norte em 1982. Antes de listar os selos postais que retrataram a cultura potiguar de várias formas, o livro de Cleudivan traça um contexto geral da história dos selos no Brasil e no mundo, desde a gênese do selo postal, origens da correspondência no Brasil, e a chegada do selo postal no País.
INTERNET A FAVOR DA FILATELIA
A revolução que a Internet causou nos formatos de comunicação tradicional, ao contrário do que se pensa, não foi visto como um ‘apocalipse’ pelos filatelistas. “Disseram que a Internet iria acabar com essa cultura, mas desde a época achei o contrário. A rede de computadores ajudou a estreitar ainda mais as relações entre os colecionadores, já que podemos pesquisar melhor, comprar e trocar novidades e raridades com maior facilidade. É um mercado que move bilhões por ano, está bem longe da decadência”, afirma Cleudivan. Segundo ele, em Natal há cerca de 40 filatelistas – só entre os registrados.
Obviamente, o colecionador é consciente de que o e-mail e as redes sociais causaram uma mudança radical no ato da comunicação à distância. “Sabemos que o fluxo de correspondência teve um decréscimo imenso com a Internet, mas ainda se mantém a cultura para o envio de cartões postais, por exemplo, que continua forte”, diz. Ele ressalta que os Correios continuam lançando novos selos a cada mês, e surpreendendo os colecionadores. São escolhidos 15 temas por ano, lançados e desdobrados ao longo dos meses.
“Eu, como pesquisador, prefiro os selos que remetem a personagens e fatos históricos”, diz. Entre os temas que Cleudivan de Araújo espera com ansiedade de colecionar, estão as homenagens aos escritores portugueses Eça de Queiroz e Fernando Pessoa, e ao centenário do rei do baião, Luiz Gonzaga. Para breve virá o evento do ano para os adeptos, a XXIª edição da Lubrapex – Exposição Filatélica Luso Brasileira, novembro, em São Paulo. Uma paixão registrada, selada e entregue para quem a valoriza.
Serviço: O Rio Grande do Norte nos Selos Postais do Brasil, de Cleudivan Araújo. Lançamento no dia 02/08, na Nobel da Salgado Filho.