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Nossa poesia reunida

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Quando dava aulas em turmas de cursinho pré-vestibular, o professor de literatura Alexandre Alves percebeu que a maioria dos alunos não tinha sequer ouvido falar em Auta de Souza, Jorge Fernandes e Zila Mamede, baluartes da poesia produzida em solo norte-riograndense. A escassez de fontes para pesquisas, e o desconhecimento quase que generalizado sobre o assunto, despertou em Alexandre a ideia de trazer à tona uma produção literária dispersa ao longo do século 20. Foram necessários quatro anos de estudos, de 2010 a 2013, para o projeto “Poesia Submersa – Poetas e poemas no RN: 1900-2000” ser defendido como tese de Doutorado e se transformar em livro.
Em “Poesia Submersa”, Alexandre Alves quer contribuir para maior conhecimento e leitura da produção poética do passado
Como a intenção do autor é compartilhar as informações com perfis distintos de leitores, o conteúdo está livre do rebuscamento academicista e foi dividido em três volumes para publicação: o primeiro deles, que faz um recorte até 1950 e destaca a influência modernista por essas bandas, será lançado nesta quinta-feira (21), às 18h30 na livraria Saraiva do Midway Mall. O título de 130 páginas sai pela editora Queima Bucha, de Mossoró, onde Alves dá aulas de Literatura Brasileira, Teoria e Literatura Potiguar na UERN.

“No início tentei começar pelo Modernismo (anos 1920), mas vi que seria necessário retroceder um pouco para contextualizar o momento histórico”, disse Alexandre Alves, que também é autor da versão bilingue de Rosa de Pedra, de Zila Mamede, além de músico e capitão do extinto selo musical Solaris. Ele disse que driblou a falta de material de pesquisa com a ajuda de bibliógrafos e pinçando aqui e ali informações em dissertações de Mestrado e teses de Doutorado. O livro de Tarcísio Gurgel, “Informação da Literatura Potiguar” (2001), de perfil historicista, também serviu como fonte – diferente da obra de Alves que faz uma abordagem mais crítica do assunto. O professor Humberto Hermenegildo foi quem orientou a pesquisa.

Uma das curiosidades comentadas no livro é o intervalo da poesia modernista entre Jorge Fernandes (1927) e Zila Mamede (1953). “Tivemos o levante Comunista, a 2ª Guerra, foi um período conturbado para a poesia aqui no RN”.

Alexandre destaca ainda uma frase emblemática do jornalista Paulo Francis (1930-1997) que ilustra a influência intelectual de Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) no tocante a forte conexão que existia entre o RN e o resto do Brasil nas primeiras décadas do século passado (principalmente na literatura). “Francis escreveu em um de seus artigos que ‘se não fosse por Cascudo o RN seria o Estado mais silencioso do país’”.

O segundo volume será lançada em novembro, durante o Festival Literário de Natal (FLIN), e compreende o intervalo entre 1950-70; já o terceiro só em 2015, onde o autor tece a teia da poesia marginal e os últimos vestígios do movimento do Poema/Processo – assuntos que encontram forte resistência dentro da Academia. Essa passagem de tempo vista nos três volumes é representada na ilustração da capa, com arte assinada por Afonso Martins, por um cacto: na primeira capa o cacto está despontando, com ramos para todos os lados; na segunda é aquele cacto arredondado, uma poesia mais polida; e a terceira ilustração o cacto está despedaçado, espalhado pelo chão, como a linguagem contemporânea que ninguém sabe para que lado vai.

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