Yuno Silva
Repórter
O tema 2ª Guerra Mundial é recorrente, tem potencial turístico, econômico e cultural, muita coisa ainda permanece inédita aos olhos do público, e uma nova exposição ilumina a memória ainda rarefeita de um passado cosmopolita ignorado por muitos natalenses. Marcada para ilustrar a primeira edição da Feira dos Municípios e Produtos Turísticos do RN (Femptur-RN), que acontece dias 19 e 20 de março no Centro de Convenções, Via Costeira, a ‘aparição’ do acervo formado por fotografias, objetos e documentos, entre outras raridades, reacende a curiosidade sobre o assunto e alimenta expectativas em torno da possível criação (com 70 anos de atraso) de um museu temático. 
Boa parte do conteúdo da exposição já foi apresentado durante o período da Copa do Mundo, mas sempre há algo mais a ser mostrado, caso do cardápio utilizado pelos norte-americanos nos refeitórios da Base Aérea de Parnamirim, onde soldados e oficiais yankees eram literalmente convocados a colaborar com os atendentes brasileiros na hora de fazer o pedido. Diriam eles no café da manhã: “Poar fah-vor meh-nee-nah trah-gah poung com mahn-tay-gah, o-vosh may-shee-dosh, uma shee-cah-drah de cah-feh com lay-teh e ah-soo-car. Aw-bree-gah-doh!”
No acervo inédito que será mostrado no Centro de Convenções também constam mapas de rotas aéreas dos Estados Unidos e Inglaterra, onde Natal merece destaque; credenciais para acessar a Base de Parnamirim; cartas originais enviadas daqui por soldados; e adesivo do Grande Hotel colado na bagagem de quem chegava para se hospedar.
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“Era uma fartura como em nenhum outro lugar do mundo, os norte-americanos traziam tudo o que eles costumavam consumir nos Estados Unidos”, disse o pesquisador Fred Nicolau, 50, sobre o movimento no PX (Post Exchange), uma espécie de supermercado com lanchonete. “Por um período foi o maior entreposto de mercadorias e logística do mundo. Tinha de tudo. E por sinal era o único lugar do planeta onde se vendia meia de nylon, produto largamente utilizado para fabricar para-quedas”, valorizou Fred.
Entre as curiosidades registradas pelo pesquisador está um modelo de bota criado por um sapateiro natalense que fez sucesso global: “Quando um oficial pediu para o sapateiro fazer uma réplica de suas botas, ele alongou o cano até a altura da canela (para proteger dos mosquitos) e acrescentou alguns detalhes. Quando retornou à Base, todos queriam uma igual. Sei que o modelo se espalhou por todas as bases dos EUA no mundo”.
Paulista radicado em Natal desde 2008, Nicolau veio morar no RN movido pelo interesse histórico no episódio. “Topei com o assunto em 2003, quando entrei num fórum internacional sobre plastimodelismo (réplicas em escala de aviões e veículos). Me interesso por aviação e 2ª Guerra desde a infância, e não sei por que acabei perguntando na lista se alguém conhecia um veterano. O filho de um ex-combatente que havia servido aqui nos anos 1940 começou a me enviar fotos, e fiquei intrigado por não ter lido nada sobre a importância de Natal como base aliada”.
ARENA DAS DUNAS
Nicolau integrou a diretoria da Fundação Rampa, hoje extinta, e em 2014 trabalhou na Fundação José Augusto com a missão de preparar o acervo que iria para o Museu da Rampa (nas Rocas). “Não me pergunte os motivos das obras do museu estarem paradas, já ouvi um monte de explicações mas ainda não entendi os reais motivos”, lamenta. Ele adiantou que há uma conversa mediada pelo secretário municipal de Turismo, Fernando Bezerril, com a administração da Arena das Dunas para montar uma exposição nas dependências do estádio. “Fiz o esboço das necessidades, agora estão levantando os custos e a viabilidade da exposição, que poderá ficar por lá por um ano. Depois há planos de levar o novo terminal de passageiros no porto de Natal”.
