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O absurdo da realidade

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Michelle Ferret – repórter

“Depois de 10 anos da morte do poeta Blackout e oito anos da desencarnação do poeta Zé Gonçalves mais um artista potiguar corre o risco de transmutar num leito do H.W.G. À espera de tratamento depois de ter caído em um buraco/galeria, aberto no meio da rua sem sinalização e no escuro, estou com um colar cervical improvisado para sustentar o pescoço emprestado pela SAMU municipal. Aguardo há 18 dias um diagnóstico preciso para recolocação das vertebras ou intervenção cirúrgica. A maior indignação são os supostos diagnósticos comentados próximos ao leito por diferentes médicos (passaram mais de oito por aqui); pescoço quebrado, fratura grave, fratura simples e medula solta. Apenas um raio-x. (…) O medo é esperar tanto pela emissão de um parecer médico e ficar paraplégico como aconteceu com o artista plástico Pedro Pereira (…)”.
O artista Jackson Garrido fraturou a segunda vértebra ao cair em um buraco  no bairro de Petrópolis.  Ele pretende transformar em livro as observações e sentimentos nesses 18 dias deitado em um leito
O desabafo foi escrito pelo próprio Jackson Garrido e entregue à equipe do VIVER numa visita normal ao hospital Walfredo Gurgel na enfermaria 261 na manhã de quarta-feira. Com uma agenda livre de rascunhos, o livro já está sendo elaborado e ganhou o título de “Relato de um passageiro intransigente no Walfredo”. 

Colar improvisado

Com um colar improvisado no pescoço  — quando o próprio paciente conseguiu adaptar com uma tampinha de água mineral para que o fecho pudesse sustentar, por ser tamanho PP – Jackson não consegue acreditar na situação em que se encontra. “Estou com esse colar que vim da ambulância desde o dia do acidente. Como no Walfredo não tem imobilizador especial estou tendo que readaptar o que tenho. E observando a situação de Jackson isso é só uma das suas inquietações. A cama em que ele encontra não tem colchão apropriado para o problema. “Espero que troquem por um colchão de ar. Já encomendei”, contou. A cama não tem movimento especial para o seu caso e como não consegue mover o pescoço – devido a fratura da terceira vértebra – ele permanece imóvel de maneira horizontal sem apoio de nada para seus braços ou pernas. Para urinar, ele precisa de uma bolsa coletora que os enfermeiros só cedem uma por dia. E assim ele espera uma resposta há 18 dias. “Passam médicos por aqui e não chegam a uma conclusão do meu problema. Preciso desse laudo em mãos para sair para outro hospital”.

A saída

A saída está sendo preparada por amigos e pessoas que estão ajudando de várias maneiras. Se for transferido para a cirurgia o custo está calculado entre R$ 15 mil e R$ 150 mil reais. “Tudo isso para ser preciso é necessário o laudo final que o Walfredo não fornece por nada nesse mundo”.

Ao lado de Jackson estão 4 pacientes cada um com um quadro diferente. E no leito exatamente ao lado um paciente que fraturou uma vértebra no pescoço e começou a perder os movimentos depois de 70 dias interno. “Minha maior aflição é a demora. Aqui tudo é assim, as pessoas vão perdendo os movimentos, a referência e o futuro. É estranho sentir isso num lugar inóspito e desumano”, desabafou.

Além desses problemas que mexem com os nervos do paciente, Jackson precisou passar três dias no corredor, demorou oito dias para receber o primeiro banho e ficou de tênis por cinco dias sem tirar do pé com medo de roubo. “A enfermeira me disse que se eu tirasse o tênis, quando fechasse os olhos e abrisse o par não estaria mais ali. Então resolvi deixá-los”, contou.

Ele escreve seu relato para um livro possível enquanto termina de ler “O Feitiço da Ilha do Pavão” de João Ubaldo Ribeiro. “É com poesia e literatura que tento sair desse lugar horrível. Não posso mais ficar aqui”.

Para ajudar

Jackson precisa de ajuda. depósito em nome de

Ricardo França da Silva. conta: 027 -74223 -6. Agência 35 operação 13. Contato: Lenilton Lima: 8731.8500.

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