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O ambiente perfeito para as pesquisas

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Ciência e inspiração são palavras que não costumam estar relacionadas, mas não seria equivocado afirmar que a criação de um ambiente “perfeito” para a reflexão é a principal tônica do Instituto Internacional de Física (IIF) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Segundo o diretor do Instituto, Álvaro Ferraz, a criação de um ambiente propício para a pesquisa é a principal vantagem com relação a outros agrupamentos acadêmicos. No IIF, os professores têm uma dedicação quase exclusiva à pesquisa, além de existir um trânsito intenso de visitantes. Tudo isso é um estímulo para a pesquisa de boa qualidade.

Ao contrário de como funciona um departamento de Universidade, o Instituto tem uma capacidade muito grande de adaptar as suas pesquisas ao que há de mais novo no mundo em termos de ciência. Enquanto os departamentos têm uma estrutura mais rígida de docentes e temas, o Instituto Internacional de Física é pautado por um comitê científico internacional. Esse comitê decide quais são as áreas prioritárias. “O instituto é aberto para todas as áreas da física teórica. Nesse comitê, nós tivemos o cuidado de colocar pessoas de destaque em todas essas áreas importantes da física teórica e possam nos dar essa orientação com respeito ao que anda acontecendo, quais os temas nos quais deve se investir, etc”, aponta Álvaro Ferraz.

Além da capacidade de se adaptar aos temas mais urgentes, atuais e desafiadores da física, o Instituto trabalha a partir de um modelo de vínculo muito mais fluido, por parte dos professores. O número de efetivos é pequeno, sendo que a maioria dos pesquisadores passam meses ou poucos anos vinculados às pesquisas. Isso significa uma rotatividade de pessoas, visões de mundos e pesquisas muito grande. Os professores apresentam projetos e desenvolvem dentro da estrutura do Instituto. “Nós temos um programa de professores visitantes de longa duração, que são pessoas que vem para cá por um período de um a quatro anos e tem também programas de professores visitantes de curta duração, que vem para cá pra ficar até quatro meses”, explica Álvaro Ferraz

Uma outra vantagem comparativa é a obrigatoriedade em dar aulas. Uma universidade tem um compromisso com a formação de recursos humanos, então os professores ligados aos departamentos costumam ter uma carga horária de aulas significativa. Já no Instituto de Física a dedicação para a pesquisa é exclusiva. “As pessoas que virem pra cá ficarão inspiradas a produzir. É um ambiente tranqüilo, sem atribuições administrativas. É um trabalho de pesquisa. Os visitantes não são obrigados a se envolverem com aula. Eles até podem fazer isso, se quiserem, com cursos avançados para a Pós-graduação, mas não são obrigados”, detalha. Os professores efetivos, ainda em processo de escolha, terão carga horária com aulas, mas de número reduzido.

Para constituir esse ambiente, o projeto do Instituto possui, além do prédio próprio ainda em construção – uma casa alugada pela UFRN faz as vezes de sede por enquanto, um hotel de trânsito. Lá, os professores visitantes irão ficar hospedados enquanto pesquisam no instituto. Esse modelo é utilizado em todo o mundo. “Quando você fica em um local onde todos os seus colegas ficam, a interação é muito mais intensa, a troca de informações, e o trabalho é bem mais produtivo”, justifica o diretor Álvaro Ferraz.

Interdisciplinaridade

O perfil procurado para os cinco cargos de professor efetivo também traduz o espírito do Instituto Internacional de Física. Ao contrário de privilegiar o reducionismo e a especialização, tão utilizadas no último século, a tendência é contratar professores com capacidade de dialogar com áreas distintas, numa formação interdisciplinar.

“Não é uma coisa trivial, porque o conhecimento como se deu nos últimos 30 anos se tornou uma coisa muito especializada. Para você fazer um trabalho de um nível desejado, você precisa conhecer muitas ferramentas e ter uma formação muito específica. E em geral se faz isso em detrimento do que deixa de conhecer nas outras áreas. O Instituto vai fugir disso. Vai sempre tentar trabalhar com temas interdisciplinares”, encerra Álvaro Ferraz.

Q Curiosidade

Os estudos na área de neurociência a partir da biologia e do comportamento animal produziram uma rixa entre correntes da psicologia e da psicanálise e os neurocientistas. Psicólogos e analistas argumentam que os estudos de neurociência têm proferido uma visão “totalizante” do ser humano, “reduzindo” o comportamento a aspectos puramente biológicos.

Contudo, na visão do professor Sidarta Ribeiro, essa distinção tende a acabar, assim como a distância que separa as ciências exatas/tecnológicas e as ciências humanas/sociais deve diminuir. “Na minha opinião tanto os psicanalistas têm razão em alguns momentos, quando a neurociência tende a ser totalizante como os psicanalistas por sua vez tentam negar a compreensão biológica do comportamento. Mas essa distância deve diminuir e as duas áreas devem experimentar uma aproximação”, opina Sidarta Ribeiro.

Explicar o comportamento humano, qualquer que seja, a partir de causas e efeitos determinados não é uma tarefa fácil. Para se ter uma ideia, há bilhões de neurônios no cérebro, cada um com capacidade de milhares de conexões possíveis distintas. Se não é infinito, o número de possibilidades resultantes disso são incontáveis. “É muito complexo e por isso a causa e o efeito nem sempre estarão aparentes quando se analisa”, diz Rômulo Fuentes. “Acredito que quanto mais respostas obtemos, conseguimos formular mais perguntas. Quanto mais sabemos, mais descobrimos que ainda há muito para saber. O número de perguntas se multiplica, então é muito difícil pensar em termos de explicar tudo”,  encerra.

Para explicar o ser humano

É possível explicar, mostrar uma relação de causa e efeito, no comportamento do ser humano? Por mais difícil que pareça a tarefa, para a neurociência é possível sim. E um dos principais locais de pesquisa do Brasil e do mundo está encravado no litoral potiguar, a partir da iniciativa pioneira do neurocientista Miguel Nicolelis em parceria com a UFRN. O Instituto Internacional de Neurociências de  Natal surgiu há seis anos e abriga em seus centros de pesquisa projetos científicos em abarcam praticamente todas as áreas da neurociência.

As pesquisas no IINN vão desde os aspectos moleculares e celulares do neurônio até a articulação do comportamento humano com o funcionamento cerebral, passando pela comunicação entre os neurônios e o funcionamento dos circuitos neuronais. A intenção é provocar, a exemplo do que acontece no Instituto de Física, uma integração entre pesquisadores e áreas distintas, tendendo à interdisciplinaridade. “Buscamos um conhecimento holístico sobre o assunto. Embora o reducionismo dê resultados, queremos

realizar essa integração entre várias áreas distintas e aprofundar os conhecimentos adquiridos”, explica o diretor do Instituto, Rômulo Fuentes.

A neurociência é eminentemente uma área de fronteira do conhecimento e tem tido um desenvolvimento vigoroso nos últimos anos. Boa parte da esperança de cura de doenças complexas, como o mal de Parkinson e o mal de Alzheimer. A grosso modo, pode-se dizer que a neurociência parte do pressuposto que todo comportamento (percepção, movimento, sentimentos, etc) tem uma base biológica, passível de explicação. Há uma relação de causa e efeito, segundo a neurociência, em qualquer comportamento. A busca é para entender as causas e os efeitos.

O trabalho desenvolvido nesse sentido no Instituto tem dado visibilidade a pesquisas realizadas no RN Um artigo publicado pelo professor Sidarta Ribeiro em colaboração com a Universidade Federal de Pernambuco teve importante reconhecimento do Instituto de Tecnologia de Machassusetts (MIT). O artigo descreve como princípios matemáticos podem ser aplicados para entender as “avalanches neuronais”. A expressão designa momentos de grande excitabilidade do neurônio. Por motivos ainda não testados, os neurônios passam por momentos de grande “excitação”, onde há um maior trânsito de informações. De acordo com o que a pesquisa mostrou, essas avalanches acontecem ao acaso. Existem padrões de excitabilidade máximo – as avalanches –; mínimo, quando a atividade dos neurônios seria quase zero; e todos os padrões intermediários.

O cérebro de acordo com a pesquisa  otimiza esse fenômeno para que sejam utilizados o maior número de padrões de excitabilidade possível. “Basicamente, os pesquisadores vêm dizendo que um sistema que utilize memória como o cérebro precisaria ser desse jeito. Então, sabíamos que o cérebro, para ser o que achamos que ele é, precisaria ser assim e agora conseguimos mostrar que de fato ele é assim”, explica Sidarta Ribeiro.

A intenção do cientista Miguel Nicolelis, ao escolher Natal como sede de um instituto de pesquisa de ponta, é descentralizar a ciência e utilizá-la como indutor de desenvolvimento social no Brasil.

““A questão da globalização é recente, tem 15 ou 20 anos, mas a ciência sempre foi globalizada. Para se produzir ciência em qualquer parte do mundo, é preciso estar inserido na comunidade internacional. É preciso receber pesquisadores de outros países e mandar pesquisadores daqui para outros países, não só para participar de congresso, mas para passar alguns períodos. Então, a internacionalização é algo fundamental. As pessoas acham que é possível fazer ciência olhando apenas localmente. Mas é preciso pensar globalmente, para agir localmente. Quanto mais internacional estiver a Instituição, mais qualidade há na pesquisa e se consegue responder melhor aos desafios”, Ivonildo Rego, reitor da UFRN

“A área de física é profundamente internacionalizada. O que se faz em física de boa qualidade, é feita em todas as partes do mundo. Não existe uma física voltada somente para o Rio Grande do Norte, por exemplo, ou para o Brasil. É uma ciência internacional, o que se faz, se faz bem em toda parte. Além de fazer pesquisas, o Instituto promove encontros científicos que são definidos com uma certa antecedência por um comitê científico internacional. O comitê científico internacional tem essa visibilidade e visão do que anda acontecendo mundo afora”, Álvaro Ferraz, diretor do Instituto Internacional de Física

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