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O americano tranquilo

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Felipe Gurgel
Repórter de Esportes

Os dias do volante Bruno Renan são solitários. Desde que lesionou a coxa esquerda, ainda no início do primeiro turno do Estadual, que o jogador está longe dos gramados. Seu trabalho é mais dentro do departamento médico rubro e na academia americana, para tentar se recuperar lesão, que abriu 11 centímetros no adutor e que já o deixou fora do time por um mês. Antes, vinha se destacando na equipe, sendo titular e fazendo bons jogos, na vaga que hoje está sendo ocupada por Tiago Dutra. A previsão para o retorno ainda é demorada: mais duas semanas de recuperação.
Aos 24 anos, Bruno Renan tem no América uma chance para recomeçar a vida no futebol, depois de passar por problemas familiares
“Passo o dia todo aqui no centro de treinamento. Chego de manhã e só volto a noite para casa. Agora, os fisioterapeutas me disseram que mais uma semana, 10 dias, eu começo a transição para o campo e depois, devo voltar a jogar. Essa foi a minha primeira contusão séria. O resto foram períodos curtos, de apenas dias”, revela Bruno, de 24 anos.

Mas, isso está longe de abalar o atleta, que já passou por muita coisa desde que optou por deixar Maringá/PR, para se tornar jogador profissional de futebol. Aos 12 anos, deixou sua cidade, no interior do Paraná, para tentar a sorte nas categorias de base do Grêmio, em Porta Alegre/RS. Aos 17 anos, se profissionalizou e logo em seguida, foi vendido para Villarreal, da Espanha, com o seu companheiro de clube, que teve a felicidade de reencontrar no América, Tiago Dutra. Infelizmente, a primeira aventura na Europa não durou muito tempo.

“Chegamos, fizemos a pré temporada lá e estava esperando o meu passaporte sair, para poder trabalhar lá e acabou não saindo e ia ter que esperar quase seis meses para receber, além de que a já tinham três estrangeiros na equipe. Por isso, conversei com meu empresário e optamos em voltar para o Grêmio, para não ficar seis meses sem jogar. Disputei o brasileiro sub-20, fomos campeões, me destaquei e acabei nem voltando para a Espanha. Fui direto para o Shakhtar Donetsk da Ucrânia”, relembra.

Mesmo com pouco tempo de Espanha e sem ter entrado em campo para defender o Villarreal,  Bruno Renan avalia a como positiva a sua estada na cidade espanhola. “Quando cheguei lá, já tinha o Marcos Senna, que era o capitão e nos ajudou muito na ambientação na cidade. Quem foi com a gente também foi o Nilmar. Então, mesmo sem jogar, foi um experiência muito boa, positiva, que a gente leva para o resto da nossa vida”, afirma.

Como também não vai ser esquecida tão cedo a sua passagem de quase quatro anos no leste europeu. “Na época, quando você falava que ia jogar na Ucrânia, as pessoas tomavam um susto, mas não é assim. A cidade, que é Donetsk, tem tudo que você precisa para morar. Por mais frio que seja, lá tudo gira em torno do clube, o presidente é dono de quase tudo. A adaptação foi fácil, porque tinha muito brasileiro na equipe e isso me ajudou muito. Foi muito positivo para mim, pela experiência, por tudo”, disse.

Depois da perda do pai, o recomeço no América

Depois do falecimento do seu pai, Bruno Renan foi liberado pelo Shakhtar para vir ao Brasil. Passado o tempo de luto, ele se reuniu como sua esposa  e decidiram permanecer em Maringá e repensar o futuro. Algo parecido com um ano sabático. Nesse tempo, Bruno revela que ocupou a cabeça com outras atividades, como se aventurar na construção civil, trabalho que seu pai exercia antes de sofrer o infarto. “Fiz muita coisa nesse tempo que fiquei parado. Aproveitei bastante a minha mãe, fomos ao psicólogo, tirei um tempo para terminar umas obras que meu pai tinha inciado. Desde os meus 14 anos, quando comecei a ganhar dinheiro no futebol, que ajudo meus pais, mas não estava presente. Tive esse tempo para ficar mais com minha família”, disse.
Bruno Renan ao lado da esposa Thaís e da filha recém nascida
Com o tempo passando, a vontade de voltar a jogar futebol foi  aumentando. O volante conversou com sua esposa e decidiu elaborar um projeto para retomar a carreira e também, a longo prazo, voltar a se destacar no esporte. Foi quando o América lhe abriu as portas para esse recomeço. “No final do ano passado, eu, minha esposa e meu empresário, elaboramos um projeto para essa meu retorno ao futebol e fiquei muito feliz com o contato do América. Por mais que meu contrato seja só até o final de maio, que fazer história aqui. Ser campeão estadual, fazer uma boa Copa do Nordeste, subir o time para a série B e depois, que sabe, para a série A. Estou bem adaptado a cidade e quero ficar muito tempo aqui”, afirmou.

Tensão na Ucrânia e volta ao Brasil

As quatro temporadas na Ucrânia não serão esquecidas por Bruno Renan. Seja por causa da boa condição financeira que conquistou jogando lá ou também pelos momentos de tensão que teve que enfrentar na crise envolvendo o governo ucraniano e o russo, em 2013 e 2014. “Ali foi um momento tenso. Uma vez, estava em casa, de noite, quando o telefone tocou. Era um pessoa da embaixada brasileira mandado arrumar minhas malas e da minha esposa, porque, no outro dia, iam nos tirar de lá. Foi um susto muito grande, foi tudo muito rápido. Pouco tempo depois, o pessoal do clube ligou e disse que não precisávamos ir, que eles garantiam a nossa segurança. Mesmo assim, a minha esposa veio para o Brasil e eu fiquei lá”, revela.

Mesmo com o apoio e a promessa do clube que eles estariam seguros, os dois eram complicados, quase todos passados dentro do apartamento, já que as ruas não eram seguras, como lembra Bruno Renan. “Às vezes, olhava pela janela do meu apartamento e tinha 20 mil pessoas na praça, protestando. E quase sempre acabava em tumulto e confusão. Mas, ainda bem que não aconteceu nada comigo”, afirma.

Se na Ucrânia as coisas estavam garantidas e “tranquilas”, o mesmo não poderia ser dito das pessoas que Bruno deixou no Brasil.  Ele acabou recebendo uma ligação que iria abalar sua vida e seu futuro como jogador de futebol: seu pai tinha falecido, vítima de um infarto. Foi quando o atleta decidiu repensar na vida e dar um tempo na carreira. “Vivi muito pouco com meu pai, porque saí muito cedo de casa. Depois que ele se foi, parei para pensar e decidi ficar mais próximo da minha mãe, Por isso, voltei”, finaliza.

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