sexta-feira, 29 de março, 2024
26.1 C
Natal
sexta-feira, 29 de março, 2024

O amor na maré

- Publicidade -

Yuno Silva
repórter

Ao cruzar a ponte de Igapó, já do lado da zona Norte, repare na solitária casinha de taipa que ocupa quase a totalidade de uma pequena ilha cercada pelo mangue do Potengi. O lugar é humilde, seu cotidiano obedece o movimento das marés, e quem vê de longe nem imagina que ali há uma história de amor pronta para ser contada. A paisagem bucólica, o famoso pôr do Sol e a relação estreita com o rio servem como fonte de energia para Biluca e Ilton seguirem vivendo sem lamentos; também são a moldura enxergada pelo jovem diretor Victor Ciriaco no documentário “Abraço de Maré”.
Victor Ciríaco e Hélio Ronyvon dividem roteiro do documentário “Abraço de Maré”
Apesar do cenário, pobreza é última coisa que passa pela cabeça de quem assiste o curta-metragem em preto e branco – o foco está no amor que paira sobre aquele pequeno naco de terra onde o casal e seus três filhos compartilham há doze anos. Ilton é pedreiro e pescador, e quando não está empregado, recorre ao rio para garantir o sustento da família.

Melhor filme do Goiamum Audiovisual, a produção ganhou vida alimentada pela curiosidade que o estudante universitário de 19 anos nutria pela paisagem diária avistada da janela do ônibus. “Passo por ali todos os dias e aquela casa sempre foi motivo de muitas perguntas: quem são e como vivem aquelas pessoas? Até que decidi ir lá conhecer de perto”, disse Victor ao VIVER. Diretor estreante, aluno do curso de Rádio e TV da UFRN, ele participava de uma oficina de formação audiovisual com o cineasta paraibano André da Costa Pinto, e aquele contexto poderia servir como base para se construir o argumento de um documentário.

Cenário do curta Abraço de Maré, rio PotengiDito e feito! Ele passou a frequentar o lugar, participou do cotidiano, e começou a levar outros integrantes da equipe até sentir confiança para ligar a câmera – as filmagens foram realizadas em apenas quatro dias, mas o resultado coroa uma relação que durou cerca de três meses, de maio a agosto.

O primeiro indício de que aquela história havia sido bem contada veio no início de novembro, com o prêmio de Melhor Filme, Roteiro e Direção na Mostra Primeiros Passos do festival nacional Curta Taquary, em Taquritinga (PE). Esse resultado reflete outro mérito da “Abraço de Maré”, que passa longe do perfil ‘reportagem’ visto em muitos documentários.

Questionado sobre a opção visual de adotar o preto e branco como linguagem narrativa, Victor informa que foi uma decisão tomada na hora de editar o material. “A montadora Pipa Dantas que sugeriu o preto e branco. Acredito que esse recurso disfarçou a humildade do lugar, das pessoas, e concentrou foco na história”, acredita o diretor.

O casal Biluca e Ilton, protagonistas do documentário, moram na ilhota há doze anosPara Helio Ronyvon, 22, diretor executivo do curta, “com o preto e branco víamos menos os detalhes da pobreza e mais a essência das palavras deles. As cores poderiam desviar a atenção”, garante. O produtor lembra que conseguiu viabilizar o filme através de pequenos apoios: “Pedimos de R$ 50 a R$ 100 aos comerciantes da zona Norte, e quem não podia ajudar com dinheiro ajudou com serviço: em um salão de beleza conseguimos quatro cortes de cabelo e rifamos, um sex shop nos deu um kit e vendemos…”, contou.

Além de Victor, Pipa e Helio, a ficha técnica também inclui Beatriz Tanabe (direção de produção), Luara Schamó (direção de fotografia), Bárbara Neves (som direto), Ixion Fonteneles (produção), Pedras Leão (trilha sonora) e Eduardo Schamó (arte) – todos são estudantes de Rádio e TV na UFRN. O roteiro é assinado por Victor, Luara e Helio.

O próximo passo da equipe é utilizar o crédito ganho no Goiamum Audiovisual, o Prêmio Mangue Filmes, para gravar uma ficção. “Como teremos estrutura e suporte, vamos utilizar esse prêmio para fazer uma ficção, bem mais dispendioso de  rodar um documentário. Temos duas ideias em discussão no momento”, adiantou Ciriaco.

Em tempo: Ibama e Idema sabem da existência da casinha de taipa, e já avisaram que a família não pode fazer nenhuma benfeitoria no local que recebe o “abraço de maré”.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas