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O amor sob a ótica francesa

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Valério Andrade
crítico de Cinema

De acordo com a opinião abalizada de um critico carioca, Dejean Magno Pellegrin, especialista do cinema francês, inclusive como frequentador da célebre Cinemateca Francesa, o declínio artístico também chegou à terra cinematográfica de Louis Lumiere. Em Natal, por estar sitiado pelo monopólio americano da rede Cinemark, desconheço 99% das produções francesas filmadas nos últimos 10 anos.
Os nomes do amor é uma comédia como as feitas na década de 60, intelectualizada e de roteiro bastante complexo
Graças ao Moviecom, circuito paulista que felizmente não foi comprado ou fechado pelos negociantes de Obama, o natalense está podendo assistir a este filme do moderno cinema francês. Já se foi tempo, como lembra o médico Ernani Rosado, que chegavam a capital potiguar os títulos distribuídos pela França Filmes e que eram exibidos nos cines Rex e São Luiz. O mesmo acontecia em relação ao cinema italiano, através da Art-Filmes.

Neste Festival Varilux em exibição no Moviecom, pude ver um filme que não era falado em inglês. Acima de tudo, foi um sopro de liberdade cultural, independente do filme, “Os Nomes do Amor” (Le Nom des Gens), ser ou não ser bom. Também foi uma pausa no massacre semanal americano proporcionado por subfilmes como “Se Beber, Não Case – 2”, e, ainda, o reencontro com o cinema que não foi substituído pela fábrica da computação cinematográfica.

Se “Os Nomes do Amor” é comparável artisticamente aos filmes franceses dos anos 30, 40, 50 e 60? Não é, mas, por não ter vistos os filmes (novos) assistidos por Dejean, não estou apto a avaliar o nível do citado declínio cinematográfico francês. Este declínio, porém, não parece ter sido tão drástico como o que transformaria o sonho dos anos dourados de Hollywood em pesadelo.

O que é possível perceber é que o diretor de “Os Nomes do Amor”, Michael Lecler, fez um filme que se aproxima mais do enfoque renovador da nouvelle vague (anos 60) do que do classicismo das narrativas de mestres como Marcel Carné, René Clair, René Clement. Trata-se de uma comédia, vale ressaltar, totalmente diferente das de Jacques Tati, construída em cima da personagem e de múltiplas situações vividas pela dupla de protagonistas (Jacques Gamblin & Sara Forestier) e pelos demais coadjuvantes.

A complexidade do roteiro de Daya Kasmi e Michel Leclere dificulta a compreensão da narrativa para os que não estão familiarizados com acontecimentos históricos, políticos, sociais, raciais, ocorridos na França após a II Guerra Mundial. Neste enfoque panorâmico, é dada ênfase a duas tragédias: o genocídio dos judeus e a guerra da Argélia. Há, porém, uma diferença em relação a outros filmes sobre o assunto: a introdução de uma visão satírica, extensiva, inclusive, ao radicalismo ideológico da  heroína.

Bahia (que por causa do prenome é obrigada a esclarecer a todo instante que não é brasileira), filha de pais argelinos, mantém-se fiel ao lema dos hippies dos anos 60: “Faça o amor, não faça a guerra”. Para ela, quem não é de esquerda, é um vilão de direita, e, para convertê-los politicamente, usa o corpo e o sexo. Arthur Martin, filho de judeus, cujo nome foi afrancesado por motivos óbvios, também se vê obrigado a esclarecer que o sobrenome (adotado) nada tem a ver com uma famosa marca de eletrodomésticos francês.

São esses dois personagens, órfãos de duas tragédias, que se encontram e, a despeito das diferenças raciais e políticas, vivem uma tumultuada, mas apaixonante, relação amorosa.

Conclusão

Trata-se de uma comédia, que, como as feitas na década de 60, é intelectualizada e a sua criatividade advém mais de um roteiro complexo do que da inventividade cinematográfica da direção de Michael Leclero. Por tratar de acontecimentos históricos, sociais, raciais, políticos, tipicamente franceses, algumas de suas situações e alusões que talvez não sejam assimiladas pela platéia brasileira. E mais: é uma comédia exclusivamente para adultos.

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