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O assassinato do presidente parrudo

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Ticiano Duarte
jornalista

A Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, vols.XXXV e XXXVII, 1938-1940, lançada em 1941, traz dois trabalhos interessantíssimos, de autorias de Luís da Câmara Cascudo e Eloi de Souza, sobre o centenário de Morte do Presidente Parrudo. Seu nome próprio, Manoel Ribeiro da Silva Lisbôa- o apelido Parrudo. Nascera em Salvador, na Bahia e antes fora o Presidente do Estado de Sergipe. Nomeado Presidente do Rio Grande do Norte, a 10 de Março de 1837, chegando a Natal no dia de São Bartolomeu, 24 de Agosto, considerado aziago, assumindo dois dias depois, como lembrado pelo mestre Cascudo.

Segundo os historiadores, Parrudo era corpulento, impulsivo e sensual, sendo que este último atributo lhe deu fama por onde andou. Silva Lisbôa arrendara uma casinha no sitio “Passagem”, no Barro Vermelho, sempre freqüentado pelas suas conquistas, “moças do povo, em maioria.” Cascudo diz que ele era “fisicamente forte, grande atirador e esgrimista exímio.”

Mas, vamos aos fatos que motivaram o seu assassinato, em 11 de Abril de 1838, no local onde realizava encontros amorosos, a mando da mulher do cel. Estevam Moura, rico e poderoso proprietário do engenho “Ferreiro Torto”. Este grande proprietário de terras, pernambucano de boa estirpe, “onde a mesa era farta e o agasalho fidalgo.” A maçonaria dera-lhe a incumbência delicada de aconselhar o Presidente sobre sua conduta social e erros administrativos e políticos. Ao tentar cumprir a missão que recebera dos maçons, em Palácio, onde se encontrava o Presidente Parrudo, eis que a reação deste surpreendeu o cel. Estevam. Como descreve Eloi de Sousa, em seu artigo, “Palavras Curtas”, publicado pela Revista acima mencionada: “Ouvida a admoestação em palácio (seria mais acertado dizer na Casa do Governo), Parrudo, enfurecido, segurou o amigo e prestigioso correligionário pela gola do paletó e procurou arrastá-lo até o móvel mais próximo, em uma de cujas gaveta estava guardada uma pistola. A senhora do presidente segurou o marido a facilitou o agredido a desvencilhar-se da sua garra possante, gritando a seguir: corra coronel, que Ribeiro é doido.”

O Cel. Estevam fugiu com os seus escravos e capangas, mas perseguido pelo próprio Parrudo e seus soldados de confiança. Em uma canoa remou com toda força em direção ao “Ferreiro Torto”, desembarcando na margem esquerda do rio Potengí, apressadamente, com auxilio dos amigos seguiu para “Cacimba do Viana”, onde ficava uma de suas muitas fazendas de gado.

Aí é que entra na história, a figura da esposa do cel. Estevam Moura, dona Maria Rosa. Determinou que o marido fugisse para o Ceará, prometendo organizar o esquema para mandar executar o Presidente do Rio Grande do Norte, em resposta à agressão e desfeita sofrida, humilhado e esbofeteado pelo truculento Parrudo. E assim foi feito e cumprido, de forma fria e sanguinária.

Eloi de Sousa no seu artigo diz que Maria Rosa mandara um bilhete ao marido afrontado, em linguagem que ele chama de “uma heroína romana.” O texto é o seguinte: “O cel. Estevam, ao receber este, deverá retirar-se imediatamente para o Ceará, de onde só voltará depois de vingado. Antes disto sua mulher não deseja vê-lo. a) Maria Rosa.

O crime foi cruel. Parrudo estava em um dos seus instantes de despreocupação, entre as delicias dos bons vinhos e companhias femininas, quando de repente, entra na mansão, o criminoso João Alves, contratado para consumar o delito: “A porta estava aberta. Parrudo em manga de camisa, sentado numa rede, conversava com uma jovem. Perguntou ao visitante o que desejava. Respondeu o criminoso: entregar esta encomenda que lhe mandaram, descarregando-lhe o bacamarte em pleno peito. Os escravos entraram e cravaram-lhe as facas tão violentamente que ficaram ambas plantadas nas feridas profundas.

Um deles com uma forte dentada decepou-lhe o dedo de uma das mãos, onde havia um anel de brilhante.”

A vingança fora executada de forma mais fria a calculada. Maria Rosa, filha única do coronel Joaquim José do Rêgo Barros, rico poderoso de terras e engenhos, em Pernambuco, possuidor de vinte e duas fazendas, 100 escravos e outros haveres. A mulher dias depois recebia o marido em “Ferreiro Torto”, sem muito aparato, mas com a promessa cumprida.

O homem que conseguira organizar os criminosos, enviando-os ao encontro de Parrudo, chamava-se, coronel João de Oliveira Mendes. Não passou muito tempo, o casal Estevam Moura e Maria Rosa fazia-lhe a doação do engenho “Cajupiranga”, em recompensa de uma velha e leal amizade, como enfatizou o jornalista Eloi de Sousa.

O crime ficou impune. Já se passaram 176 anos.     

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