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O Brasil depois das urnas (2)

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Ney Figueiredo
consultor

Na sucessão presidencial de 2010,nesta  época,publiquei um artigo na “Tribuna”sob este mesmo título. Escrevi que ,se caso vencedora,a candidata petista contasse no seu núcleo principal de decisão de nomes como o próprio Lula e Palloci,as linhas centrais de sua política econômica não se afastariam muito do modelo do antecessor.Por razões conhecidas isto acabou não acontecendo e os resultados foram os que todos conhecemos e estão influindo no seu  desempenho nas pesquisas eleitorais.Alertei,também,para a grande dificuldade que teria para administrar o país e cuidar da formidável aliança partidária tecida por Lula,tendo o PMDB como principal aliado.

Hoje,examinando atentamente o perfil de Dilma,acho que em caso de reeleição  será mais ela do que nunca,abandonando de vez os tênues laços que a  ainda a unem ao setor privado.A falta de qualquer perspectiva de carreira política futura,seu distanciamento do PT fará que se volte para si mesma,administrando o país na linha das coisas que acredita e que pautaram toda a sua existência.

Marina,ao contrário de que muitos pensam não será uma incógnita,mas sim uma certeza.Nem mesmo como candidata,precisando conquistar o maior número de eleitores possíveis em todas as classes e regiões do país,ela faz concessões que contrariem suas crenças mais arraigadas.É de se supor que  irá governar como  diz que o irá fazer.Teremos crises sucessivas com o agro-negócio,com o setor elétrico,com o setor financeiro e uma relação conflituosa com o Congresso Nacional.

Como já declarou que não pretende ficar mais de um mandato,a sua sucessão será discutida no dia seguinte à posse,transformando os os quatro anos em  verdadeiro mandato tampão.

Seu  assessor mais conhecido na área econômica,Eduardo Gianetti é mais festejado pelas suas posições filosóficas do que econômicas.Trata-se  sem dúvida alguma de um intelectual de grande peso e uma inteligência reconhecida internacionalmente.Todavia,nunca esteve  na administração pública ou dirigiu uma grande empresa.

Outro nome ventilado é do  economista André Lara Rezende,um dos pais do real.Em longo artigo publicado em meados do ano passado,que teve grande repercussão, escreve sobre a exaustão do modelo consumista do século XX. Alerta que” a insatisfação da sociedade,retratada de forma difusa nos protestos de junho,pode vir a ser catalizadora de uma mudança profunda de rumo que abra caminho para um novo desenvolvimento,não mais baseado exclusivamente no crescimento do consumo material,mas de qualidade de vida”. Nada contra,mas como fazer isto sem uma grande reforma política e  lideranças capazes de formular um novo desenvolvimento? Certamente não será com este Congresso, que piora a cada nova legislação.

Aécio Neves já indicou o ministro da Fazenda, Arminio Fraga,caso venha a ser eleito. Em inúmeras entrevistas e artigos ele já deixou claro o receituário: resgatar a previsibilidade e a transparência na condução da economia,combatendo a inflação e o inchaço do setor público,sem esquecer das reformas estruturais.

Aécio é homem de delegar.Fez um bom governo em Minas  entregando a administração a gente competente com Antonio Anastasia e ouvindo o receituário do prof. Vicente Falconi. Deu certo. Por que razão não faria o mesmo num eventual mandato presidencial?

O problema maior que antevejo é a forte turbulência na transferência de governo,caso Dilma não seja reeleita. O aparelhamento do estado pelo PT chegou a tal nível que não será tarefa fácil desmontar essa formidável máquina,que extravasando o  Executivo e empresas em que o governo tem controle,como Petrobras,chegou lamentavelmente ao judiciário. Certamente não veremos a mesma situação da passagem de governo de FHC para Lula,excelentemente narrado no livro de Matias Spektor,”18 Dias”,Edit.Objetiva.

Ao se empenhar para que o novo governo desse certo FHC,segundo ele,”não agiu por benevolência ou simpatia pessoal por Lula,mas por puro cálculo político. A sobrevivência do real e do programa tucano de reformas sociais dependiam da aceitação,nos mercados internacionais,de um governo brasileiro de esquerda.FHC apelou aos Estados Unidos em nome de Lula porque a economia se encontrava na berlinda,e uma transição instável poderia destroçar seu maior legado:a moeda estável”.

Por outro lado,nos seus dois primeiros anos de governo,Lula estabeleceu um relacionamento de respeito com FHC,inclusive mantendo em postos chaves pessoas  por ele indicadas,como ocorreu na presidência do Sebrae e algumas embaixadas.

O presidente que saia e o que entrava agiram de forma coordenada para impedir que seus subordinados se engalfinhassem em “conflitos  dos quais os chefes é que sairiam perdendo”. É pouco provável que colaboração  tão intensa e construtiva da qual o Brasil foi o maior beneficiário se repita,caso o PT seja desalojado do governo.

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