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“O compositor é o terceiro autor”

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Gerhard Sonnleitner
Agência D.Welle

O francês Alexandre Desplat tem feito música para cineastas de fama mundial, como Stephen Frears, Ang Lee, Roman Polanski, George Clooney. Entre seus maiores sucessos estão as trilhas sonoras de A Rainha, O discurso do Rei ou O Grande Hotel Budapeste. Como compositor para cinema, ele já recebeu vários prêmios, distinções internacionais e foi indicado seis vezes ao Oscar.

Em 2014, Desplat é o presidente do júri que decidirá para quem vão os cobiçados “Leões” da 71ª Mostra Internacional de Arte Cinematográfica de Veneza. Em entrevista à DW, ele fala sobre o significado dessa indicação inédita.

É a primeira vez que um compositor de cinema preside o júri internacional do Festival de Veneza. O que isso significa para o senhor, pessoalmente?
Alexandre Desplat: Ainda é meio fora do comum para mim. O compositor é, no fundo, o terceiro autor do filme: há o diretor, o roteirista e há o compositor da trilha. Nós detemos até mesmo direitos de execução de uma obra cinematográfica. Mas, olhando em retrospecto, até agora – seja em Veneza, Cannes ou Berlim – nenhum festival havia perguntado a um compositor se ele queria assumir a presidência do júri.

Não se pode dizer que todos esses compositores famosos, como Nino Rota, Maurice Jarre, John Williams ou Ennio Morricone, não tivessem noção de cinema. Eles tinham e têm, sem a menor dúvida. E também tinham um grande conhecimento sobre o cinema. Por isso estou grato e feliz de poder fazer esse trabalho no júri. E espero assim aplainar um caminho para o futuro, de modo que, nos próximos festivais, compositores cinematográficos sejam jurados ou também presidentes de júri.

Como começa o seu trabalho numa produção? O diretor – Roman Polanski, por exemplo – liga para o senhor e lhe conta a história do filme?
Sim, é exatamente assim. Polanski, como George Clooney e Stephen Frears, me telefonou e conversamos longamente. Os cineastas conhecem o meu trabalho e a minha abordagem. Eles sabem que capacidade de empatia eu tenho para com as imagens e a história, e como quero que seja tocada a música no filme. Isso é decisivo: a minha compreensão da dramaturgia total do filme. Esse é o motivo por que eles ligam justamente para mim e perguntam se quero compor a música para o filme deles. E aí nos divertimos à beça.

O senhor começa o seu trabalho lendo o roteiro?
É como com um livro de verdade: você lê, termina de ler, algo completamente diferente acontece, talvez você ainda esteja trabalhando num outro filme. E um dia o filme está pronto e há muito tempo você já começou a trabalhar com as suas imagens mentais. Quando se lê um roteiro, ele começa a operar imediatamente no cérebro da gente. Às vezes o resultado também só chega no último momento. Foi assim com O discurso do Rei. Quando me mostraram o filme pronto, ele tinha um ritmo diferente, e precisamos mudá-lo. Às vezes o trabalho exige muito tempo, às vezes é rápido. Um compositor de cinema precisa ser um verdadeiro atleta (risos).

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