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O corpo como veículo de arte

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Yuno Silva – Repórter

Apontando todo seu arsenal contra tabus artístico, a segunda edição do Circuito Regional de Performance Bodearte entra em cena nesta próxima segunda-feira (21) com extensa programação e a intenção de desmistificar a mais subversiva e incompreendida das linguagens. Pronto para abrir uma das muitas caixas ainda guardadas por Pandora, o evento promove atividades até o próximo sábado (26), e ocupa o IFRN-Cidade Alta e as ruas do centro da cidade com performances, mostra de vídeos, exposições fotográficas, palestras e debates. A programação é toda gratuita e acontece das 9h às 21h.

Circuito Bodearte reúne cerca de 50 trabalhos de todo o BrasilO Circuito é resultado da articulação capitaneada pelo Coletivo ES3, e reúne cerca de 50 artistas de todo Brasil. Professores, pesquisadores e teóricos também estão vindo de outros estados para conduzir palestras e participar de debates que deverão contribuir com a consolidação do entendimento da Performance (com P maiúsculo) como uma linguagem independente.

“O Bodearte visa  formar público, promover o intercâmbio entre os participantes e, principalmente, abrir um diálogo sobre o artista, sua obra e a relação com o público. São nossos principais focos”, disse Chrystine Silva, integrante do ES3 ao lado de Felipe Fagundes, André Bezerra e Yuri Kotke.

O Coletivo ES3 também incorporou a missão de mapear e criar uma Rede Nordeste de Performancers. “As pessoas precisam se conhecer, tem gente produzindo na Paraíba que não sabe o que acontece em Pernambuco ou aqui no RN”, diz Fagundes. O artista acredita que o evento deve “ajudar a desmistificar a forma como o público entende e enxerga a performance”. Segundo ele, para a maioria das pessoas a performance ainda é coisa “de doidinho” que desconhece “todo um embasamento teórico e um processo criativo que transcende essas impressões”.

Evento reflete a performance enquanto linguagem independente.Durante a programação, justamente para reforçar essa intenção de formar público, muitos artistas irão reservar uma parte do tempo para conversar com a platéia após as apresentações.

Outro fator importante do Circuito, na opinião
de Chrystine, é a possibilidade do encontro presencial e do intercâmbio estético entre artistas “que já se conhecem através da internet”. Inclusive, a participação no Circuito está vinculada, de certa maneira, a uma interação prévia no Fórum mantido pelo Coletivo ES3. “Como trabalhamos na perspectiva de uma não-curadoria, a presença dos artistas parte do pressuposto de um diálogo prévio, então a programação acaba sendo montada por uma afinidade natural dos artistas”, ressaltou Felipe.

Boa parte dos performers chegaram em Natal por conta própria, e estão hospedados na casa de pessoas que abriram a casa para “adotar um Bode” durante o evento. Vela registrar que a programação inclui não apenas as apresentações presenciais, como também a exibição de vídeo performances. O Circuito Bodearte conta com apoio do Curso de Produção Cultural do IFRN-Cidade Alta, do Sesc-RN, Servigráfica, Pousada Descanço da Ladeira, Malharia Master, Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da UFRN e da Aphoto.

Performance: “hacker das linguagens artísticas”

Artistas do Coletivo ES3, grupo que nasceu no Dearte da UFRNEntre os convidados que marcam presença em Natal a partir da próxima semana, destaque para os professores Otávio Donasci e Lúcio Agra, ambos de São Paulo e vistos como especialistas do assunto no país. Já a oficina com o diretor potiguar de teatro Marcos Bulhões, espécie de mentor do Coletivo ES3 quando atuou como professor do Departamento de Artes da UFRN, foi cancelada. Atualmente Bulhões mora na capital paulista e sua vinda acabou não sendo viabilizada.

“Essa falta de apoio reflete a necessidade de afirmar e configurar a Performance enquanto vertente independente, e não como um adendo das artes visuais, da dança ou do teatro”, observou Felipe Fagundes. “Um bom exemplo dessa falta de compreensão é a forma como os editais públicos tratam a Performance, que sempre está relacionada em ‘outros’”, emenda Chrystine Silva.

Como essa afirmação também esbarra em articulações políticas, o Coletivo ES3 redigiu um documento, encaminhado ao Fundo Estadual de Cultura, onde faz reivindicações e chama atenção para a necessidade do reconhecimento. “A Performance precisa ser vista como linguagem própria da arte, que muitas vezes é um experimento, não se repete, é efêmera. Então temos vários pontos em comum com outras vertentes, mas muitos pontos de atrito, por isso criamos essa carta informando que existe produção de performances em Natal e no Nordeste que precisa sair do anonimato, da invisibilidade. O importante não é tirar o lugar do outro e sim acrescentar uma nova cadeira”, analisa André Bezerra.

Como não existe uma definição simplificada do que é Performance, uma ‘coisa artística amorfa e quase mutante’, o artista Yuri Kotke sintetiza: “Uma das definições para performance que gostamos de considerar é de que ela é a ‘hacker’ das linguagens artísticas. Ela pega algo (a dança, o teatro, o vídeo) que já tinha uma utilidade ‘x’ e muda essa função para ‘w’, ‘y’ ou ‘z’”.

PROGRAMAÇÃO

Performance Não Pise na dama, com Carol Piñeiro e Juão Nin, está na programação de quarta-feiraSegunda-feira (21)

09h às 21h – Performance “quatromilduzentosessanteecincojpgs”, de Lúcio Agra

15h – Exposições fotográficas “Retratos de Infância”, de Ramilla Souza; “Passagens da vida de Gabriel”, de Gabriel Brito Nunes; “Traje do Paulistano”, de Tábata Costa; e “Estudos para habitar o In.Cômodo”, de Mi Rodrigues

17h30 – Lançamento da Revista Reticências

19h – Performance “Tortura”, de Pam Guimarães

19h30 – Performance “Dança clássica de hoje ou passatempo facista – ménage Kassab, Sarney e Collor”, de Marcelo Gandhi

Terça-feira (22)

9h às 21h – “I like Nordeste and Nordeste likes me”, de Grasiele Sousa

14h – “Kombunda”, do grupo Corpos Informáticos

15h – Mostra de Vídeos: “À espera”, de Andréa Aparecida; “A plebe do crediário”, de Isaque Ribeiro; “Veia” e “Balada do corpo classificado: arquivo” de Christina Fornaciari; “Animal laborans”, do Coletivo Parabelo; “Despedida”, de Maicyra Leão; e “Efeito colateral”, de Charlene Sadd

16h15 – Palestra “30 anos de Videocritaturas”, de Otávio Donasci

19h – Performance “Gordo Pass. 94036546”, de Jota Mombaça

20h – Performance “Um uísque para o rei Saul”, com o Grupo Estandarte

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